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Biofobia pode resultar na falta de apoio para políticas e ações pró-biodiversidade

A biofobia é definida pela American Psychological Association como “um medo humano de certas espécies (por exemplo, cobras, aranhas) e aversão geral à natureza que cria um desejo de se afiliar à tecnologia e outros artefatos, interesses e construções humanas, em vez de animais, paisagens e outros elementos do mundo natural”. Ou seja, é a aversão e ansiedade em relação a alguns estímulos ou situações naturais.

De acordo com o ecologista David W. Orr, a biofobia é uma consequência da vida moderna, que distancia o ser humano do meio ambiente. Além disso, acredita-se que ela seja uma resposta da evolução, que condicionou a espécie humana a se sentir “vulnerável” frente a predadores, como plantas e animais venenosos e fenômenos naturais, como trovões e relâmpagos.

E, embora o medo seja indispensável para a sobrevivência, a aversão à natureza pode oferecer riscos à sua conservação. 

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O ciclo vicioso da biofobia

O ecologista Masashi Soga, da Universidade de Tóquio, em conjunto com colaboradores, criou um artigo de opinião falando sobre o ciclo da biofobia. De acordo com os especialistas, o fenômeno cresce através do desenvolvimento urbano e, sem uma intervenção válida, acaba sendo reforçado e proliferado pela sociedade em um ciclo vicioso. 

1. Informação 

Existem três meios principais pelos quais uma pessoa pode receber informações negativas sobre a natureza: passando por interações pessoais negativas com a natureza, exposição de informações por meio da comunicação interpessoal e, por fim, uma transferência de informações através de meios de comunicação de massa.

2. Fobia 

A partir da desinformação ou de experiências negativas, é comum desenvolver um tipo de fobia em relação à natureza, como a aracnofobia. No entanto, a exposição a informações negativas sobre a natureza não leva necessariamente ao aumento da biofobia isoladamente. Esse processo é influenciado por vários fatores pessoais interativos de até que ponto um indivíduo sente emoções fóbicas ao ser exposto às informações. 

3. Evitação 

A fobia, consequentemente, leva à evitação do objeto de medo. Como a aversão é principalmente relacionada à natureza, como animais e fenômenos naturais, existe a chance do aumento da biofobia. Assim, o indivíduo evita qualquer tipo de experiência ou exposição que pode ser relacionada à natureza. 

Além disso, os comportamentos de evitação podem envolver apoiar e participar de ações destinadas a eliminar a natureza. Um exemplo disso é de que o medo e nojo de animais selvagens podem levar a uma maior vontade de matar ou remover esses organismos de ambientes.

4. Desconexão 

Evitar a natureza em resposta ao medo pode levar a uma desconexão com o meio ambiente, que pode levar a um aumento da biofobia, que acaba sendo perpetuada, reforçada e proliferada através da sociedade. Isso, por sua vez, leva o indivíduo ao ciclo vicioso desse fenômeno, em que ele mesmo é responsável pela divulgação de desinformações. 

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Perpetuação da biofobia 

Uma pesquisa realizada no Japão comprovou a ascensão da biofobia. Nela, pesquisadores analisaram a reação de mais de 5 mil crianças a diversos invertebrados locais — 14 insetos e um aracnídeo. 

O resultado foi quase unânime — a maioria das crianças apresentaram aversão, medo e nojo aos animais. Adicionalmente, foi observado que quanto menos experiências ambientais as crianças tinham, mais propensas eram de exibir esse tipo de comportamento. 

Masashi Soga, que também conduziu esse experimento, acredita que o fenômeno da biofobia ocorre no mundo todo. De fato, um outro estudo de 2014, realizado na China, provocou reações emocionais semelhantes – e, como o estudo japonês, descobriu que o contato direto com a natureza ajudou a transformar a biofobia em biofilia —  um termo popularizado pelo biólogo E. O. Wilson para se referir à conexão humana com outras formas de vida.

E, embora os resultados da pesquisa fossem esperados, ele também evidenciou outro problema: a perpetuação da aversão à natureza através da conexão com os pais. 

“Nossos resultados sugerem que provavelmente existe um ciclo de feedback no qual um aumento de pessoas com atitudes negativas em relação à natureza em uma geração levará a um aumento ainda maior de pessoas com atitudes semelhantes na próxima geração – um ciclo de descontentamento em relação à natureza”, disse Soga. 

um ursinho de pelúcia branco abandonado em uma floresta, ilustrando o desenvolvimento da biofobia durante a infância
Foto de Egor Myznik na Unsplash

Ameaças e impactos desse fenômeno

Com a perda geracional da conexão com a natureza, especialistas sugerem que as ameaças derivadas da biofobia podem ser intensificadas. 

“Acredito que o aumento da biofobia é uma ameaça importante, mas invisível, à biodiversidade global. À medida que aumenta o número de crianças com biofobia, o interesse público e o apoio à conservação da biodiversidade diminuirá gradualmente. Embora muitos biólogos conservacionistas ainda considerem que prevenir a perda de habitat da vida selvagem é a forma mais importante de conservar a biodiversidade, acho que prevenir o aumento da biofobia também é importante para a conservação”, diz Soja. 

Como prevenir e evitar a biofobia

A educação ambiental é fundamental na prevenção da biofobia. Desde a infância, educar as crianças sobre a importância da natureza como algo essencial para a vida humana pode contribuir para a formação de indivíduos engajados nas questões ambientais. 

No entanto, além do papel dos professores, também há a função de pais e guardiões legais de promover esse tipo de educação, uma vez que foi comprovado que as atitudes parentais podem influenciar a perspectiva das crianças. Para isso, é necessário incentivar a relação com a natureza como algo benéfico e especial, evitando a distância derivada da expansão de espaços urbanos e da tecnologia.


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