Entenda a relação desses valores com o consumo consciente e a qualidade de vida
As identificações de uma pessoa, muitas vezes, podem ser explicadas pelo conjunto de valores que esta carrega consigo. Os valores podem determinar a importância ou relevância de um objeto, de uma causa ou até mesmo de um modo de vida. Mas como as pessoas definem seus valores?
Valores materialistas e pós-materialistas
Inglehart, na década de 1970, tentou explicar que valores políticos surgem das necessidades individuais durante o processo de socialização e, para tanto, cunhou os termos materialismo e pós-materialismo. Para Inglehart, aqueles indivíduos que sofreram períodos de inseguranças econômicas ou físicas durante o processo de socialização acabaram por desenvolver valores materialistas, ou seja, valores que, a partir de preocupações com a ordem e a estabilidade, priorizavam a força econômica e militar. Nessa fase materialista, segundo Steve Tighe, as pessoas estariam sempre correndo contra o tempo, priorizando o trabalho e, consequentemente, aumentando os níveis de estresse e de consumo.
Os valores pós-materialistas, por outro lado, surgiram quando o indivíduo passou a experimentar uma vida social economicamente próspera e livre de inseguranças. Na medida em que novas preocupações se estabeleceram, as pessoas passaram a buscar outras necessidades: laços sociais, autoestima e autoatualização. Para além do consumo, os pós-materialistas começam a valorizar as ideias, a igualdade de oportunidades, os maiores envolvimentos do cidadão nas decisões governamentais e a proteção ambiental.
Valores pós-materialistas provocam mudanças de atitude?
Existem divergências na associação entre mudança de valores e mudança de atitudes. Em meio acadêmico, alguns autores não concordam com uma relação direta entre os dois. Já para outros, como Steve Tighe, mesmo que a passos lentos, uma mudança das atitudes pode sim ser observada uma vez que os valores pós-materialistas conscientizaram as pessoas sobre os limites e as origens dos recursos assim como sobre o consumo exacerbado.
Tighe defende que depois de um período de ignorância quanto ao tema, a sociedade acordou para as origens dos recursos e para o processo de produção. Nesse sentido, quanto mais as prioridades das pessoas se voltam para valores pós-materialistas como melhor qualidade de vida, ideias e expressões, mais se observa a consolidação das preocupações sociais com fatores como o meio ambiente, os testes em animais e as condições dos trabalhadores na cadeia produtiva.
Somado a isso, a consciência quanto ao consumo exagerado levou os pós-materialistas a apresentarem um declínio do “querer material”. Apesar da capacidade de compra ter aumentado devido à prosperidade econômica, de uma forma geral, a vontade do consumo diminuiu e desencadeou um novo estilo de vida.
Veja as conexões que Steve Tighe faz sobre o tema no TEDx Talks.
Consumo consciente e valores pós-materialistas no Brasil
No Brasil, um estudo do Instituto Akatu, em parceria com a Faber-Castell, testou o impacto de ambos os valores – materialistas e pós-materialistas – para o consumo consciente. Veja no gráfico abaixo os resultados:
Ainda que não ateste que são os valores que causam uma mudança para o consumo consciente, esse estudo demonstra que quando o consumo consciente ocorre, os valores pós-materialistas, de alguma maneira, estão presentes.