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O aumento de temperatura na cidade de São Paulo já se aproxima dos 3 ºC – o dobro da meta global de contenção do aquecimento

A 24ª Conferência do Clima (COP 24) acontece em dezembro deste ano na Polônia e terá uma nova rodada global de negociação climática. Enquanto o mundo precisa que governos, indústrias e populações mudem seus comportamentos para com o meio ambiente se quiser conter o aquecimento global na meta de 1,5 ºC até o final do século (em comparação com o nível pré-industrial), algumas cidades já estão quase ultrapassando esse número. Infelizmente, esse é o caso de São Paulo, em que o aquecimento já se aproxima dos 3 ºC, com consequências gravíssimas para a população.

A população da capital paulista já enfrenta os resultados desse aumento de temperatura, como chuvas cada vez mais fortes, alagamentos isolados e períodos de seca prolongada, fatores que tendem a se intensificar nos próximos anos. Essa é a previsão que faz Marcos Buckeridge, coordenador do programa USP-Cidades Globais e coautor de um dos capítulos do Quinto Relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), uma organização criada em 1988 no âmbito da ONU (Nações Unidas), ao UOL.

As temperaturas noturnas, segundo ele, também devem aumentar, custando a vida de idosos, enquanto a redução de alimentos no campo levará a cidade a investir em agricultura urbana. O pesquisador explica que São Paulo já teve um aumento de 2 ºC nos últimos 50 anos e os dados climáticos indicam que estamos caminhando para os 3 ºC.

Olhando para uma tendência de crescimento na população urbana mundial, Buckeridge acredita que “São Paulo é um laboratório para saber o que acontece se passarmos de 1,5 ºC”. O custo de vida nas cidades, segundo ele, costuma ser 15% menor, mas são justamente as aglomerações urbanas as mais afetadas pelo aumento da temperatura global (que tem como atual previsão da ONU um aumento total de 3,2 ºC até 2100).

Cidades como Nova Orleans, nos Estados Unidos; Cidade do Cabo, na África do Sul; e Daca, em Bangladesh, tendem a sofrer com aumento nos índices do oceano e da temperatura das águas, além de uma maior ocorrência de eventos climáticos extremos, como furacões e secas prolongadas.

Em São Paulo não deve ser muito diferente e Buckeridge listou pelo menos seis possíveis consequências do aquecimento global para o dia a dia da população:

1. Chuvas e alagamentos

Chuvas mais fortes devem atingir a cidade, com alagamentos localizados. Uma arborização melhor e mais distribuída pela malha urbana poderia ajudar a espalhar as nuvens.

2. Morte de idosos

As noites quentes podem virar rotina para os paulistanos, com possível aumento de mortes entre pessoas mais velhas, que são mais sensíveis ao calor. A arborização também tem uma função importante para manter as noites frescas.

3. Energia e transporte

Com o aumento na temperatura, segundo o especialista, a solução pode ser recorrer a sistemas de condicionamento de ar, seja em casa, no carro ou nos transportes públicos. Isso pode levar a um maior gasto geral de energia e, se a matriz energética não estiver adaptada, aumentar ainda mais as emissões de gases estufa.

4. Água

O calor também aumenta o consumo de água, gerando maiores desigualdades em regiões onde tradicionalmente falta água, além de uma maior dependência das chuvas. “Isso porque o tamanho da população na região metropolitana já é tal que não temos margem de segurança para eventuais períodos de escassez hídrica”, explicou Buckeridge ao UOL.

5. Alimentos

O aquecimento deve afetar a produtividade e qualidade dos alimentos cultivados no campo, com impacto direto na alimentação da população urbana. O pesquisador destaca que cada plantio reage de um modo diferente às variações térmicas, o que exigiria um monitoramento constante. A discussão, para ele, deve ser voltada para a possibilidade de agricultura urbana. “São Paulo já está entrando neste caminho, mas esse tipo de agricultura também deverá enfrentar problemas com aumento de temperatura e poluição“, diz Buckeridge.

6. Doenças Infecciosas

O aumento nos casos de dengue, febre amarela, zika e outras doenças infecciosas não é coincidência e tende a piorar. Buckeridge explica que “a interação com as florestas periurbanas (regiões que abrangem a periferia de uma cidade) é fundamental. Temos que entender melhor estas interações complexas (floresta-macaco-inseto-vírus-homem) e montar sistemas de monitoramento eficientes para evitar epidemias nas cidades”.

Investir no etanol é uma opção contra o superaquecimento, defende o pesquisador. O combustível seria capaz de substituir 15% da gasolina mundial e evitar a emissão de carbono em até 6% em relação a 2014. “Não há necessidade de destruir floresta para produzir energia renovável“, afirma.

A energia solar também pode ser uma boa opção para “eletrificar” a frota de carros no Brasil e especificamente em São Paulo. “Temos o maior potencial do mundo para energia solar. Estamos quase no limite da energia hidroelétrica. Vamos precisar produzir mais energia renovável. No Brasil, nossa transição pode ser a de usar o etanol e eletrificar os automóveis ao mesmo tempo, desenvolvendo a energia fotovoltaica com o etanol”, analisa.



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