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Quem praticou atividade física correu menores riscos de depressão, ansiedade e estresse, segundo estudo com 5 mil pessoas do Brasil, Chile e Espanha

Por Rubens Avelar e Rita Stella, do Jornal da USP | Que o isolamento social usado para conter a covid-19 foi um fator agravante de problemas de saúde mental, os estudos já vinham mostrando. Mas o que os cientistas afirmam agora é que a falta de atividade física provocada pelo confinamento intensificou os quadros de medo, pânico, ansiedade e depressão. Um estudo com quase 5 mil pessoas, realizado simultaneamente no Brasil, Chile e Espanha, confirma essa relação entre exercício físico regular e saúde mental.

O objetivo da pesquisa, conta o professor Átila Alexandre Trapé, da Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP, foi verificar as características dos exercícios físicos praticados e o risco de problemas de saúde mental durante o isolamento social. Como resultado, os pesquisadores verificaram uma tendência aumentada de transtornos mentais quanto mais baixos eram os níveis de atividade física. Os dados estão no artigo Influência da atividade física nos estados psicológicos de adultos durante a pandemia de covid-19, publicado na revista Medicina (Ribeirão Preto).

Para chegar às 4.948 pessoas atingidas nos três países ibero-americanos, foi utilizada “uma técnica de amostragem em bola de neve”, em que um participante convida seus amigos e familiares a também responder a um questionário on-line. Entre março e agosto de 2020, foram analisados, só no Brasil, 3.386 formulários com dados sociodemográficos, de saúde mental e geral, além de prática de exercícios físicos.

Foi observado maior risco de depressão, ansiedade e estresse em participantes brasileiros, mulheres, jovens e naqueles que ficavam em casa mais de 19 horas por dia. O baixo nível de atividade física foi relacionado com maior probabilidade de depressão quando comparado com o nível mais elevado (moderado e alto).

Além disso, outro fato que chamou a atenção, destaca o professor, foi a utilização de profissionais para as práticas. “As pessoas que conseguiram continuar realizando uma atividade física de forma orientada ou supervisionada por um profissional de educação física tiveram um efeito protetor e apresentaram um menor risco para depressão, ansiedade e estresse.”

De projeto de pesquisa para extensão social

Como resposta aos achados, a equipe coordenada pelo professor Trapé criou um projeto para estudar os benefícios do exercício físico na recuperação dos pacientes pós-covid. A agente de saúde de Ribeirão Preto, Regina Martins Bernardes, foi voluntária, participando das atividades práticas do projeto, e conta que era adepta da caminhada, mas que, com o isolamento e, principalmente, após ter contraído a doença, ficou muito deprimida e parou com os exercícios. Situação que mudou quando descobriu o programa de atividades da USP. “Foi muito difícil no início”, afirma Regina, acrescentando que, aos poucos, a cada sessão dos exercícios, se sentia melhor e que não pretende mais ficar sem a prática.

O projeto, que começou em setembro de 2020 como pesquisa, se transformou em extensão social e agora atende toda a comunidade, e não apenas pacientes pós-covid.

Atividade física nas periferias

Pelos benefícios, o professor defende que sejam criadas políticas públicas para estimular a atividade física da população, pensando na promoção da saúde em um contexto mais amplo. Assim, incentivar as pessoas a cuidar da própria saúde e, depois, na interação com o ambiente, o contato com outros, abrindo oportunidades de acesso. E, aqui, o professor chama atenção para as mudanças no ambiente construído que também devem acontecer nas periferias, local onde existem maiores dificuldades de acesso e oportunidades.

São mudanças que precisam ocorrer num contexto de equidade, oferecendo mais aos que mais necessitam para poderem acessar, no contexto da pandemia, atividades on-line. Pensar em possibilidades para que todos pratiquem atividades físicas, já que grande parcela da população não consegue escolher ser ativo devido às atividades do dia a dia. Políticas públicas poderiam, segundo ele, pensar numa solução para essas pessoas, para que elas possam “encaixar na rotina algo relacionado à atividade física, principalmente no lazer”.

Ao falar em lazer, Trapé observa que a atividade física não deve ser entendida como sobrecarga às tarefas cotidianas, mas como lazer, fazendo o que se gosta. E, também, que essas atividades devem ser realizadas com as possibilidades que se tem. Não se questiona a importância da prática de exercícios físicos para o bem-estar, diz o professor, lembrando que também é importante verificar como ela se encaixa na rotina, tempo, onde o praticante está.

Se exercitar para a manutenção da saúde: um hábito

“Atividade física não é uma escolha”, enfatiza Trapé, indicando o hábito de se exercitar para a manutenção da saúde, seja pelos efeitos orgânicos de ação biológica, liberando endorfinas (hormônio do prazer e bem-estar), seja por trazer “possibilidades de interação com o ambiente, com as outras pessoas, o que pode fazer muito bem a quem está enfrentando alguma questão relacionada à saúde mental”, finaliza o professor.

 Ouça entrevista com o pesquisador no player abaixo:

Fonte: Rádio USP.

Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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