Loja
Apoio: Roche

Saiba onde descartar seus resíduos

Verifique o campo
Inserir um CEP válido
Verifique o campo

Relatório do IPCC mostra caminhos para empresas e investidores se prepararem para os diferentes cenários das mudanças climáticas

Os recentes eventos climáticos extremos ao redor do mundo – de enchentes a incêndios florestais – resultaram em trágicas perdas de vidas humanas e causaram danos a fábricas e fazendas, gerando interrupções em redes de transporte e cortes de energia. Esses impactos têm mostrado que empresas e investidores podem não estar preparados o suficiente para os riscos sem precedentes causados pelas mudanças climáticas.
Um relatório recente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) oferece amplos conhecimentos sobre mudanças climáticas e pode ser usado por empresas e investidores que buscam aumentar a resiliência aos seus efeitos. Lançado no início de agosto de 2021, o documento é a primeira parte do sexto relatório de avaliação do IPCC, realizado pelo Grupo de Trabalho I que trata das ciências físicas.

Além de ser o alerta mais forte até agora sobre os efeitos inevitáveis ​​das mudanças climáticas, o novo relatório também demonstra o potencial para uma redução de riscos significativa. Isso só será possível, no entanto, se a redução de emissões for rápida, ambiciosa e mantida ao longo do tempo, acompanhada de investimentos importantes em resiliência.

Empresas e investidores têm um papel fundamental a desempenhar e podem fazer isso estabelecendo metas de redução de emissões e estratégias robustas para reduzir os riscos dos impactos climáticos – e, claro, seguindo o que foi planejado.

A seguir, estão seis aprendizados relevantes para o setor privado sobre a ciência climática mais recente, bem como suas implicações para as empresas e o que pode ser feito para aumentar a resiliência climática:

1. Os impactos das mudanças climáticas só vão piorar – e o quão pior ficarão depende do que fizermos agora

Devido à inércia no sistema geofísico, o aquecimento global e a maior parte de outros perigos climáticos continuarão a se intensificar por pelo menos mais duas décadas – mesmo se uma redução de emissões em escala global acontecer imediatamente e for mantida. Algumas ameaças, como a elevação do nível do mar, exigiriam vários séculos para reverter seu curso.

Não é preciso dizer que esses impactos serão prejudiciais às empresas, além de devastadores para a vida humana. Uma estimativa calculou o valor total dos ativos financeiros em risco no cenário tendencial, o chamado business as usual, em US$ 24 trilhões. Nenhuma comunidade, pessoa ou empresa está livre dos riscos climáticos.

Como descreveram nossos colegas da iniciativa Science-Based Targets (SBTi), o relatório do IPCC é uma “chamada final para a descarbonização”. Uma redução de emissões global relevante, rápida e que seja mantida ao longo do tempo ajudaria a fazer com que as ameaças climáticas depois de 2040 fossem muito menores, além de, em questão de anos, contribuir para uma melhor qualidade do ar.

Isso significa que empresas e investidores devem não apenas ter metas de mitigação ambiciosas para zerar as emissões líquidas pelo menos até a metade do século (reduzindo, assim, os impactos desastrosos a longo prazo), mas também medir e gerenciar de forma proativa os riscos físicos das mudanças climáticas. Dessa forma, podem se tornar mais resilientes nos próximos anos e décadas.

Existem muitas ferramentas disponíveis para que empresas e investidores possam fazer essa preparação. Assim como a SBTi aponta um caminho claro de como reduzir as emissões – uma tarefa urgente –, as recomendações da Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima (TCFD, na sigla em inglês) estabelecem uma estrutura sólida e orientações para divulgação dos riscos climáticos. Os investidores usam essas divulgações nas decisões de investimento para ajudar a manter mercados de capitais justos e eficientes, recompensando as empresas que aumentam sua resiliência com custos de capital mais baixos e obtém uma vantagem sobre os concorrentes.

2. Lista de referência do IPCC com os 35 perigos climáticos físicos

Os guias de avaliação de risco oferecidos por inciativas de divulgação corporativa fornecem um conjunto importante de informações públicas para ajudar as empresas na avaliação e divulgação de riscos climáticos. Mas pesquisa do WRI mostra que alguns perigos destacados por relatórios anteriores do IPCC estão ausentes ou receberam pouca atenção desses guias. Dessa forma, empresas e investidores que se baseiam nessas informações podem acabar ignorando alguns aspectos referentes aos riscos climáticos físicos.

Pela primeira vez, o novo relatório do IPCC compartilha uma lista abrangente de 35 ameaças climáticas físicas, agrupadas em sete categorias: frio e calor; secas e umidade; vento; neve e gelo; costeiras e oceânicas; mar aberto; e outras. Empresas e investidores devem consultar a lista e identificar os riscos relevantes para seu setor e para a pegada de carbono da sua cadeia de valor. As iniciativas de divulgação corporativas devem incorporar essa lista em seus documentos de orientação mais recentes.

3. Antecipar as rupturas, não a continuidade

Com o avanço do aquecimento global, todas as regiões passarão por ameaças mais frequentes e intensas do que aquelas às quais já estão expostas – e novos perigos podem entrar em jogo também.

O tipo de onda de calor que pode ter acontecido apenas uma vez no período de 1850 a 1900 agora está ocorrendo com muito mais frequência – a cada dez anos – e de forma muito mais intensa (1,2°C mais quente) na média global.

Mesmo se pudermos limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C, esse tipo de onda de calor ainda se tornará mais frequente, ocorrendo a cada seis anos. Se o aquecimento global chegar a 4°C, essas ondas se tornarão um evento anual e muito mais quente (5,3°C), considerando uma média global.

Esse exemplo mostra que as empresas e os investidores não podem confiar nos registros observacionais já existentes para avaliar riscos físicos, uma vez que cenários futuros podem ser muito diferentes de cenários passados. Em vez disso, devem integrar os potenciais impactos das mudanças climáticas nas suas avaliações de riscos.

Ao planejar locais de atuação e operações, por exemplo, as empresas podem começar a aplicar estratégias de gestão de risco não apenas aos lugares onde eventos extremos são previsíveis – como ondas de calor no sudoeste americano ou incêndios na Sibéria –, mas de forma mais abrangente em toda a sua cadeia de valor, considerando mesmo áreas nas quais esses eventos não eram observados anteriormente. A análise de cenários (veja abaixo) também pode ajudar.

4. Usar a análise de cenários para testar a resiliência e se preparar para diferentes futuros

O relatório do IPCC usa um conjunto de cinco novos cenários de emissões em modelos que simulam os sistemas climáticos: dois cenários de alta emissão (SSP3-7,0 e SSP5-8,5), um cenário de emissões intermediárias (SSP2-4,5) e dois cenários de baixa emissão (SSP1-1,9 e SSP1-2,6). Mesmo o cenário de emissões mais baixas (SSP1-1,9) indica mais de 50% de chance de manter o aquecimento global abaixo de 1,5°, com uma chance baixa de cruzar esse limite. Esse cenário exige que as emissões de CO2 atinjam o zero líquido por volta de 2050 e depois se tornem negativas.

A Força-Tarefa sobre Divulgações Financeiras Relacionadas ao Clima recomenda que empresas e investidores usem a análise de cenário para identificar e avaliar as potenciais implicações de diferentes estados futuros. À medida que os riscos físicos das mudanças climáticas se tornam mais altos, em uma relação direta com o aumento das emissões, pelo menos um dos cenários de alta emissão deve ser considerado pelas empresas e investidores para avaliar sua exposição e resiliência a esses riscos.

5. Colaborar com a comunidade científica e outros atores estratégicos da área de clima

Alguns eventos climáticos ameaçadores são interligados, como as ondas de calor, secas e incêndios florestais que assolaram o oeste da América do Norte no verão de 2021. Com o aquecimento global mais intenso, ameaças compostas como essas devem se tornar mais frequentes e generalizadas, em particular ondas de calor e secas simultâneas.

O impacto de eventos compostos pode ser algo sem precedentes, pois muitas ameaças podem acontecer em sequência ao longo do tempo (composição temporal) e em diversos locais conectados entre si (composição espacial), aglutinando-se em uma catástrofe inesperada pior do que a soma de suas partes.

Com nenhum ou poucos registros históricos comparáveis para determinados eventos compostos, empresas e investidores podem se deparar como dados e conhecimento científico insuficientes para tomar decisões como essas. Por isso, devem trabalhar em colaboração com a comunidade científica do clima, governos, comunidades locais e outros atores envolvidos para compartilhar informações relevantes em diferentes campos de conhecimento. Esse movimento facilitará a gestão de riscos e ajudará a garantir que ela aconteça em diferentes âmbitos de tomada de decisão, aumentando, em última análise, a resiliência climática em toda a sociedade.

6. Considerar eventos climáticos tipo “Cisne Negro” para a resiliência dos negócios

Eventos de baixa probabilidade mas de alto impacto – como grandes mudanças de precipitação, aumento do nível do mar associado ao colapso das camadas de gelo ou mudanças abruptas na circulação oceânica – poderiam acontecer mesmo “em níveis de aquecimento na faixa do considerado muito provável”, de acordo com o relatório do IPCC. No entanto, a chance de eventos como esses acontecerem cresce conforme o aquecimento global aumenta.

A elevação do nível do mar, por exemplo, deve se manter na faixa de 0,63 a 1,01 metro até 2100, em relação ao período 1995-2014, mesmo no cenário de emissões mais altas (SSP5-8,5). Mas o aumento do nível do mar acima dessa faixa, considerando até cinco metros até 2150, não pode ser descartado devido ao caráter incerto do que ocorrerá com as camadas de gelo.

Um aumento dessa magnitude no nível do mar poderia levar a uma perda de áreas costeiras equivalentes a um terço da área total dos Estados Unidos. Empresas e investidores podem recorrer aos recursos existentes para melhorar a resiliência de seus negócios e suas reações a eventos como esses. Um exemplo é um padrão internacional para gerenciamento de continuidade de negócios (ISO 22301).

Ainda é possível evitar os riscos

O novo relatório do IPCC traz informações valiosas para empresas e investidores em sua jornada para medir e administrar os riscos físicos das mudanças climáticas. Como hoje o mundo já está 1,09°C mais quente, alguns riscos são inevitáveis ​​no curto prazo.

Ainda assim, agora é a hora de empresas e investidores adotarem metas ambiciosas de redução de emissões e estabelecerem uma gestão relevante dos riscos climáticos físicos. O aumento da resiliência climática aumentará os resultados financeiros do setor privado, ao mesmo tempo em que trará melhores empregos para as comunidades e aposentadorias para os trabalhadores.


Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos. Saiba mais