Biblioteca de dados geográficos e científicos visa fortalecer a autonomia de povos originários no monitoramento e na gestão de territórios na Amazônia brasileira
Por Bibiana Alcântara Garrido, do IPAM | Nova versão do SOMAI (Sistema de Observação e Monitoramento da Amazônia Indígena) foi apresentada na COP27 – a Conferência das Partes das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – nesta quinta-feira, 10, pela Coiab (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira). O SOMAI é uma plataforma virtual de acesso livre, que funciona como uma biblioteca de dados geográficos e científicos para que pessoas indígenas insiram, pesquisem e analisem informações sobre seus territórios. O lançamento foi no Pavilhão Indígena dentro da conferência, com transmissão ao vivo, às 17h50 (horário do Egito) e 12h50 (horário de Brasília), ou às 12h50 (horário de Brasília) e às 11h50 (horário de Manaus e Boa Vista).
O SOMAI existe desde 2014 e esta é a terceira versão da plataforma, que foi desenvolvida pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), em parceria e diálogo com organizações indígenas como a Coiab, o CIR (Conselho Indígena de Roraima) e o Instituto Raoni.
A premissa do SOMAI é fortalecer a autonomia de povos indígenas no monitoramento e na gestão de seus territórios, bem como ressaltar a importância dessas áreas na manutenção do equilíbrio ecossistêmico global e de povos originários como fundamentais no enfrentamento das mudanças climáticas.
De forma segura e intuitiva, a plataforma possibilita a criação de alertas nos territórios sobre atividades ilícitas que são observadas por indígenas que vivem nas regiões, como garimpo irregular e extração ilegal de madeira. No portal também é possível cruzar dados dos territórios com dados de clima, fogo, desmatamento, empreendimentos, uso do solo e demais dados ambientais. Com os dados em mãos, a pessoa usuária do SOMAI pode criar relatórios e mapas com as informações desejadas.
Desde o lançamento da primeira versão, a plataforma passa por melhorias para acompanhar as transformações na Amazônia indígena brasileira. Como resultado desse processo colaborativo, o SOMAI chega em 2022 com uma roupagem acessível e didática.
“Em sua terceira versão, a plataforma busca incorporar uma estética alinhada com o propósito do SOMAI, trazendo funcionalidades destacadas pela visão de nossos parceiros indígenas e indigenistas”, diz Martha Fellows, pesquisadora no IPAM e coordenadora do núcleo indígena na instituição.
O que tem de novo?
A terceira versão do SOMAI apresenta:
- Design responsivo para computadores, celulares e tablets;
- Revisão e atualização dos dados do SOMAI e inclusão das informações sobre CAR para toda Amazônia;
- Possibilidade de criação e gerenciamento de alertas sobre atividades ilegais observadas nas Terras Indígenas, registrados pelos(as) próprios(as) indígenas;
- Compatibilidade com aplicativos de monitoramento territorial;
- Produção de relatórios por Terra Indígena individual, agregada, por estado ou para toda a Amazônia;
- Estrutura de segurança de dados criados e inseridos no SOMAI, conforme estabelecido pela Lei Geral de Proteção de Dados.
A ideia é que relatórios produzidos por meio do SOMAI possam subsidiar ações e políticas de vigilância e proteção territorial. O conhecimento tradicional sobre os territórios, combinado com o aproveitamento das funcionalidades da plataforma, pode contribuir na elaboração de estratégias de defesa de territórios e nos processos de tomada de decisão em organizações indígenas.
“Com as inovações, esperamos fortalecer a defesa do papel das terras indígenas no contexto das mudanças ambientais, e catalisar a autonomia de povos indígenas no monitoramento de seus territórios. Dessa forma, queremos contribuir para a promoção da ciência, da educação e da justiça socioambiental na Amazônia”, conclui Fellows.
Este texto foi originalmente publicado por IPAM de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.