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Estudo revela que internações infantis dobraram entre maio e junho, com relação ao mesmo período do ano passado

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) divulgaram hoje (2) resultados de um estudo sobre os efeitos que as queimadas na região na Amazônia Legal têm provocado sobre a saúde infantil. Os dados mostram que, entre maio e junho deste ano, as internações de crianças com menos de 10 anos que apresentavam problemas respiratórios chegaram a 5.091, o dobro em relação à média calculada para o mesmo período na série histórica dos últimos dez anos.

Esse aumento, puxado por aproximadamente 100 municípios situados próximos a áreas mais afetadas por incêndios, representa um custo excedente de aproximadamente R$ 1,5 milhão ao Sistema Único de Saúde (SUS). Foram 2.502 internações acima do esperado. Cada internação dura em média quatro dias, custando R$ 630. Em cinco cidades, o número de internações foi cinco vezes maior do que a média observada nos meses de maio e junho entre 2008 e 2018: Santo Antônio do Tauá, Ourilândia do Norte e Bannach, no Pará; Santa Luzia d’Oeste, em Rondônia; e Comodoro, em Mato Grosso.

“Isso é só de internações em hospitais que atendem pelo SUS. Não estão sendo contabilizados aí o atendimento em pequenas unidades de saúde, nem os atendimentos domiciliares pelo médico de família, por exemplo. As internações na rede privada também não entram nessa conta”, disse pesquisador da Fiocruz Christovam Barcellos.

O estudo foi realizado com base em informações públicas reunidas no Sistema de Informações Hospitalares (SIH) do Departamento de Informática do SUS (DataSUS). Foi feita uma varredura para separar apenas os dados de internação hospitalar dos meses de maio e junho, o último período disponível. Ao realizar esse procedimento, os pesquisadores também identificaram que a criança que vive em área mais próxima aos incêndios tem 36% mais chances de precisar se internar por problemas respiratórios.

O levantamento mostra ainda que, em cinco dos nove estados da região, houve aumento das mortes de crianças com menos de 10 anos hospitalizadas por problemas respiratórios. Em Roraima, por exemplo, houve 2.398 óbitos para cada grupo de 100 mil crianças entre janeiro e julho de 2019. No mesmo período do ano passado, a proporção foi de 1.427 para cada grupo de 100 mil.

Queimadas

A Amazônia Legal corresponde a cerca de 61% do território brasileiro e engloba nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins e parte do Maranhão. Nesta área, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estão 772 municípios.

Os incêndios são comuns na Amazônia no período de seca, que se estende de maio a setembro. Nos últimos meses, o aumento das ocorrências gerou repercussão internacional. Para contornar a situação, o presidente Jair Bolsonaro decretou, em 23 de agosto, a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) Ambiental para ampliar o trabalho de combate às queimadas e a investigação sobre suas origens.

Uma apuração em andamento verifica indícios de que fazendeiros se organizaram para atear fogo em áreas de floresta no sudoeste do Pará. Ontem (1º), um balanço divulgado pelo Ministério da Defesa informou que já foram aplicados R$ 36,37 milhões em multas pela Operação Verde Brasil, que mobiliza as Forças Armadas, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

Para Christovam Barcellos, parte desses recursos deveria cobrir os gastos excedentes com a saúde pública. “O Ibama aplica multas aos proprietários rurais por infrações relacionadas a queimadas e desmatamento. Por que não usar uma parte dessas multas para ressarcimento ao SUS? Isso pode ser uma proposta”, afirmou.

Desafios

Os resultados do estudo foram reunidos em um um informe técnico do Observatório de Clima e Saúde, coordenado pela Fiocruz.

De acordo com Christovam Barcellos, o informe alerta gestores e profissionais do SUS sobre a necessidade de programar atendimento a populações mais vulneráveis, idosos, indígenas e pessoas com doenças crônicas, além de crianças. Mesmo adultos com boa saúde são afetados. “É bom lembrar ao fazendeiro que provoca um incêndio que o filho dele também está vulnerável”, enfatiizou o pesquisador.

Além disso, o estudo sugere reforço na atenção básica e na busca ativa, já que alguns grupos populacionais podem não ter acesso a hospitais. Segundo Christovam, embora as maiores cidades da região sejam bem estruturadas, há um grande contingente populacional na Amazônia que vive em pequenas comunidades agrícolas, em áreas de acesso remoto. São locais onde a investigação sobre a incidência de doenças se torna mais difícil.

“Há pessoas que podem ter sofrido com asma e bronquite, mas não tiveram acesso a hospital. Os índios, muitas vezes, têm que andar dias, usar canoa, para chegar a uma cidade. E isso também exige mais investimentos do SUS. As equipes de médicos da família precisam se deslocar longas distâncias. Em alguns lugares, é preciso helicóptero”, destacou.



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