Pesquisa com satélites mostra aumento de 25% em rachaduras em regiões críticas; elevação do mar pode superar 10 metros até 2300
Um novo estudo expõe a expansão acelerada de fendas na camada de gelo da Groenlândia, fenômeno que amplia a descarga de icebergs no oceano e eleva a ameaça de aumento do nível do mar. Dados tridimensionais de satélites revelaram que, entre 2016 e 2021, regiões críticas registraram aumento de 25% no volume de rachaduras, sinalizando uma dinâmica de desintegração irreversível.
Mapeamento em 3D revela expansão de fendas
Utilizando imagens de alta resolução do projeto ArcticDEM, pesquisadores mapearam mais de 8.000 fissuras na superfície gelada. O método permitiu calcular a profundidade e o volume dessas estruturas, identificando padrões de crescimento. Enquanto áreas do sudeste apresentaram alta aceleração, a geleira Sermeq Kujalleq, no oeste, surpreendeu ao reduzir temporariamente sua contribuição para o fenômeno. Responsável por 10% do gelo despejado no oceano pela Groenlândia, essa geleira desacelerou entre 2016 e 2018, mas retomou o ritmo acelerado após 2020.
Da neve ao oceano: o ciclo destrutivo das fissuras
As rachaduras funcionam como veias que transportam água derretida para as camadas internas do gelo. Esse líquido age como lubrificante, acelerando o deslizamento das geleiras em direção ao mar. Quando atingem a costa, as fendas se transformam em fraturas gigantescas, gerando icebergs com paredes de até 100 metros de largura. Esse processo, somado ao aquecimento oceânico, pode elevar o nível do mar em até 10 metros até 2300, ameaçando metrópoles costeiras onde vivem 75% das populações urbanas.
A ilusão da escala e os desafios da pesquisa
Observações aéreas destacam a complexidade de analisar a Groenlândia. Fendas que parecem insignificantes de longe revelam-se abismos capazes de engolir prédios. Pontes de neve frágeis escondem perigos para cientistas, exigindo equipamentos especializados para exploração segura. A falta de dados precisos, tanto de satélites quanto de campo, dificulta previsões sobre a velocidade do colapso, deixando lacunas nas projeções climáticas globais.
Corrida contra o tempo climático
Em 2023, cientistas alertaram que limitar o aquecimento a 1,5°C é essencial para evitar cenários catastróficos. No entanto, relatórios recentes confirmam que 2024 foi o primeiro ano a ultrapassar essa marca. Cada aumento de temperatura intensifica a fusão do gelo, reduzindo a janela para ações mitigatórias.
O futuro das cidades costeiras
Compreender a evolução das fendas é vital para antever impactos em regiões litorâneas. Projeções precisas do nível do mar dependem de modelos que integrem dados glaciais, oceânicos e atmosféricos. Enquanto isso, a comunidade internacional enfrenta o desafio de converter alertas científicos em políticas efetivas, antes que o gelo da Groenlândia atinja um ponto de não retorno.