Loja
Apoio: Roche

Saiba onde descartar seus resíduos

Verifique o campo
Inserir um CEP válido
Verifique o campo

A relação entre saúde mental e exposição a ambientes naturais ganha contornos científicos definitivos. Uma análise abrangente, publicada na edição climática do The BMJ, examinou 11,4 milhões de internações hospitalares por transtornos mentais ao longo de duas décadas. A pesquisa abrangeu 6.842 localidades em sete países, revelando que maiores níveis de vegetação correspondem sistematicamente a menores riscos de hospitalizações por transtornos psiquiátricos.

O estudo calculou a intensidade da vegetação através do Índice de Vegetação por Diferença Normalizada, uma métrica satellital confiável. Os dados demonstram que a presença de áreas verdes no entorno imediato das comunidades associa-se a uma redução de 7% nas internações por transtornos mentais de todas as causas. Esse efeito protetor mostrou-se particularmente forte para casos de transtornos por uso de substâncias, com queda de 9% nas hospitalizações. Transtornos psicóticos e demência também apresentaram reduções significativas de 7% e 6%, respectivamente.

A dimensão do problema justifica a urgência dessas descobertas. Estimativas indicam que 1,1 bilhão de pessoas viviam com transtornos mentais em 2021, representando 14% da carga global de doenças. Os custos econômicos e sociais dessas condições pressionam sistemas de saúde em todo o mundo. A análise considerou múltiplos fatores de confusão, incluindo condições climáticas, poluentes atmosféricos, indicadores socioeconômicos e variações sazonais.

Padrões interessantes emergiram quando os pesquisadores estratificaram os resultados por localização geográfica. Brasil, Chile e Tailândia apresentaram associações protetoras consistentes para a maioria dos transtornos mentais. Em contraste, Austrália e Canadá mostraram associações modestas entre áreas verdes e aumento do risco para alguns transtornos, sugerindo que fatores culturais e climáticos influenciam a forma como as populações utilizam e percebem esses espaços.

O impacto mostrou-se mais pronunciado em centros urbanos. Os cálculos indicam que aproximadamente 7.712 internações hospitalares por transtornos mentais poderiam ser evitadas anualmente em áreas urbanas através do aumento da exposição a áreas verdes. Análises adicionais projetaram que um incremento de 10% na vegetação urbana poderia reduzir hospitalizações numa escala que varia de um caso por 100.000 habitantes na Coreia do Sul até cerca de 1.000 por 100.000 na Nova Zelândia.

Os pesquisadores identificaram variações sazonais nas áreas urbanas, indicando que condições climáticas e meteorológicas modificam a relação entre espaços verdes e saúde mental. O estudo abordou transtornos mentais de todas as causas e seis categorias específicas: transtornos psicóticos, transtornos por uso de substâncias, transtornos de humor, transtornos comportamentais, demência e ansiedade.

Como estudo observacional, a pesquisa não estabelece causalidade definitiva. Os autores reconhecem limitações inerentes à utilização de dados de internação hospitalar de múltiplos países. Os resultados capturam apenas transtornos graves que requerem hospitalização, subestimando o impacto total dos problemas de saúde mental na população.

Os investigadores defendem que uma proporção considerável de internações hospitalares por transtornos mentais relaciona-se com a exposição a áreas verdes e poderia ser reduzida através de intervenções realistas de arborização. Esses benefícios para a saúde mental trazem vantagens econômicas e sociais mais amplas, incluindo redução de custos com assistência médica, alívio da pressão sobre os sistemas de saúde e aumento da produtividade.

As próximas investigações devem explorar os efeitos diferenciais de vários tipos de espaços verdes, como parques urbanos ou florestas, nos resultados de saúde mental. A qualidade e acessibilidade desses espaços naturais representam focos prioritários para pesquisas futuras. As descobertas oferecem evidências sólidas para orientar políticas públicas de planejamento urbano e saúde mental nas próximas décadas.


Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos. Saiba mais