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Foram testados cinco cremes dentais e aqueles que continham tetrafluoreto de titânio em sua composição mostraram-se mais eficazes contra o desgaste erosivo provocado por ácidos

Por Ivanir Ferreira em Jornal da USP | Testes realizados emlaboratório mostram um efeito protetor de cremes dentais contendo tetrafluoreto de titânio (TiF4) e quitosana contra desgaste dentário erosivo (DDE), lesão que afeta tanto o esmalte (camada mais externa do dente) quanto a dentina (camada mais interna). Essa lesão ocorre pelo contato da cavidade bucal com substâncias erosivas (ácidos oriundos do consumo de bebidas e alimentos, como refrigerantes e frutas ácidas, por exemplo), associadas a forças mecânicas (abrasão) provocadas pela escovação. A pesquisa da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP avaliou cinco cremes dentais experimentais. Aqueles contendo TiF4 foram os mais eficazes, reduzindo em cerca de 80% o desgaste de ambos os tecidos dentários (esmalte e dentina),  quando comparados ao creme dental sem esse componente (placebo). Os resultados foram descritos no artigo The protective effect of the experimental on toothpaste on erosive toot wear in vitro, publicado na Scientific Reports em abril de 2022.

O tetrafluoreto de titânio é um metal polivalente que, em contato com os dentes, reage química e fisicamente formando uma camada protetora no esmalte, que se torna resistente à ação de ácidos. A quitosana é um polissacarídeo extraído do exoesqueleto de crustáceos, capaz de formar um escudo protetor sobre a estrutura do esmalte. “Embora não exista nenhum produto no mercado contendo TiF4, os dois componentes (tanto o TiF4 quanto a quitosana) têm despertado interesse das indústrias farmacêuticas para o desenvolvimento de novas formulações de dentifrícios e enxaguantes bucais, e também vêm sendo testados em pesquisas científicas por demonstrarem resultados promissores contra o DDE”, relata a biomédica Monique Malta Francese, uma das autoras do artigo.

Segundo o estudo, nas últimas décadas, notou-se um aumento no diagnóstico de DDE. Apesar de ser uma lesão fisiológica, que ocorre ao longo da vida, e à qual todos estão sujeitos com o passar dos anos, ela pode ser considerada patológica quando o grau dessa destruição se torna elevado, afetando, inclusive, pessoas mais jovens, levando à perda de funcionalidades dos dentes, problemas estéticos e de sensibilidade. “Os agentes químicos [ácidos] de origem não bacteriana, por não serem substâncias produzidas pela microbiota bucal, são os principais responsáveis pelas lesões, resultantes do consumo excessivo de bebidas e alimentos ácidos, como refrigerantes, isotônicos, frutas cítricas e/ou ácidos estomacais gerados por refluxo gastroesofágico, bulimia e anorexia”, explica ao Jornal da USP Ana Carolina Magalhães, coordenadora do projeto e professora de Bioquímica do Departamento de Ciências Biológicas da FOB. A pesquisa, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foi desenvolvida na dissertação de mestrado de Monique, orientanda da professora Ana Carolina.

A pesquisa

Foram desenvolvidos cinco cremes dentais experimentais. Os pesquisadores seguiram uma fórmula base, onde foram adicionados os componentes que iriam ser testados contra o desgaste dentário erosivo. No grupo 1, o principal ingrediente ativo era o TiF4; no grupo 2, a quitosana; no grupo 3, um creme dental vendido no mercado; no grupo 4, TiF4 + quitosana; e, no grupo 5, placebo. Os dentes selecionados eram de origem bovina, que, segunda a pesquisadora, têm estrutura dentária semelhante à dos seres humanos e também por ter sido a maneira mais viável de conseguir um número grande de amostras para a pesquisa, diz Ana Carolina. Os dentes foram cortados ao meio para a obtenção da coroa, para estudo de esmalte, e a raiz, para estudo de dentina. Ao todo, foram 144 amostras (72 da região do esmalte e 72 da dentina radicular).

Os dentes bovinos foram cortados ao meio para análise do esmalte e da dentina – Foto: Cedida pela pesquisadora

Todas as amostras foram submetidas a desafios diários erosivos e abrasivos. Foram expostos a uma solução de ácido cítrico, seguido de escovação com as suspensões dos cremes dentais, por um período de sete dias, em um equipamento que imprimia velocidade e movimentos lineares, simulando o ambiente da boca quando em contato com ácidos adquiridos pela alimentação associados a posterior escovação com pasta de dente.

A escovação foi feita em uma máquina que imprimia velocidade e movimentos lineares – Foto: Cedida pela pesquisadora

Em seguida, utilizou-se um equipamento chamado perfilômetro de contato, que possuía uma ponta fina e sensível semelhante a uma agulha, que “varria” a superfície dentária e formava um gráfico com informações relativas ao efeito protetor de cada dentifrício. Essa análise foi feita para cada uma das 144 amostras antes e depois do experimento. Após essa análise, esses gráficos foram comparados em um software específico para averiguar o desgaste médio de cada grupo de amostras, tratadas com os respectivos cremes dentais.

Resultados

Monique explica que os cremes que continham tetrafluoreto de titânio (TiF4), independentemente da presença de quitosana, foram capazes de reduzir significativamente o desgaste do esmalte e da dentina (80%) em relação às amostras sem tratamento (placebo). Segundo a pesquisadora, essa capacidade protetora é justificada não só pela ação do fluoreto, mas também pela ação do titânio que, juntos, formam uma camada mecânica sobre os dentes, protegendo-os contra ácidos erosivos. Já a quitosana isolada teve efeito semelhante ao placebo e, apesar de não ter demonstrado efeito protetor adicional, foi importante para aumentar o pH do creme dental a um valor mais adequado para uso diário. Os que continham TiF4 foram ainda superiores ao creme dental comercial na redução do desgaste do esmalte.

Máquina de escovação utilizada na pesquisa – Vídeo: Cedido pela pesquisadora

Após esses resultados, os pesquisadores pretendem continuar trabalhando com os cremes dentais, mas, dessa vez, investigando o efeito protetor em modelo de estudo in situ (método de estudo em que o objeto é analisado no seu local natural), com a participação de voluntários que utilizarão aparelhos contendo pequenas amostras de dentes bovinos. Também será investigado o efeito protetor desses cremes dentais contra a cárie dentária que, diferentemente dos ácidos do DDE, é de origem microbiana.


Este texto foi originalmente publicado pelo Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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