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Relatório da Agência Internacional de Energia confirma que economia global ainda não se descolou dos combustíveis fósseis, apesar do forte crescimento das renováveis

A demanda global por energia subiu 2,3% em 2018, mais do que o dobro da taxa de crescimento verificada desde o início da década. Isso elevou as emissões de gás carbônico por queima de combustíveis fósseis em 1,7%, fazendo-as atingir o novo recorde histórico de 33,1 bilhões de toneladas.

Os dados foram divulgados essa semana pela IEA (Agência Internacional de Energia) e soterram de vez a esperança, acesa em 2015, de que o crescimento da economia global finalmente estivesse se descolando do crescimento do uso de carvão, petróleo e gás natural. Não está.

Os fósseis seguem dominando a matriz energética: responderam por mais de 70% do crescimento da demanda pelo segundo ano consecutivo. E isso apesar do crescimento espetacular das energias limpas, que hoje respondem por 25% da geração de eletricidade.

O comportamento das emissões em 2018 é mais um golpe nas esperanças da humanidade de cumprir o acordo do clima de Paris e limitar o aquecimento global abaixo de 2 ºC ou em 1,5 ºC. Segundo o IPCC, o painel do clima da ONU, para que a humanidade tenha chance de estabilizar as temperaturas em 1,5 ºC, será preciso cortar emissões em 45% nos próximos 11 anos.

Segundo a IEA, dois fatores puxaram o uso de energia para cima. O primeiro foi uma expansão espetacular da economia mundial, que você, brasileiro, não viu, mas que outros países estão aproveitando: 3,7% de crescimento em 2018, mais do que os 3,5% médios verificados desde 2010. O segundo fator, ironicamente, tem a ver com as mudanças do clima: invernos e verões mais extremos no hemisfério Norte puxaram para cima o uso de calefação e ar-condicionado.

O crescimento nas emissões foi puxado pela Ásia e pelos Estados Unidos. Na China, apesar da ampliação do uso de renováveis e da troca de carvão por gás natural (menos poluente) na calefação, houve um aumento de emissões de 230 milhões de toneladas, ou 2,5%. Na Índia, as emissões cresceram 4,8%, ou 105 milhões de toneladas. Na Europa as emissões declinaram mais uma vez, em 1,3%.

Nos EUA, a intenção do presidente Donald Trump de “tornar a América suja novamente” parece estar surtindo efeito: o país vinha reduzindo suas emissões devido à paulatina substituição do carvão pelo gás, mas em 2018 essa trajetória foi revertida e as emissões cresceram 3,1%. O aumento do consumo de petróleo, especialmente devido a grandes projetos de petroquímica, e o maior uso de energia para dar conta do inverno e do verão brutais do ano passado – enquanto Trump desfilava tuítes duvidando do aquecimento global – foram os responsáveis. Mesmo assim, as emissões continuam 14% abaixo do pico, ocorrido no ano 2000.

Pior para Trump, a “renascença” do carvão que ele prometeu a eleitores incautos dos bolsões carvoeiros empobrecidos do país não se concretizou. A troca desse combustível pelo gás segue acontecendo: o consumo de carvão americano caiu 4% e a demanda por gás natural subiu 10%, mesmo num cenário de elevação dos preços deste último. Desde os anos 1970 não se vê uma queda tão grande no uso de carvão no país.

No mundo inteiro, o carvão segue em ocaso. Seu crescimento em 2018 foi de apenas 0,7%, um tombo e tanto em relação aos 10% anuais verificados na primeira década deste século. Ele ainda é, porém a segunda maior fonte de energia no planeta e a principal fonte de eletricidade. O combustível é chamado nos países de língua inglesa de “King Coal”, o rei-carvão, e não é para menos.

Dois atores estão trabalhando duro para lhe tirar o cetro. O primeiro é o gás natural, que cresceu 4,6% no ano passado. O segundo são as energias renováveis, cuja demanda subiu 4% e hoje já suprem 45% o aumento na geração de eletricidade – mas atenção: a cifra inclui grandes hidrelétricas, como Belo Monte, que são renováveis, mas não necessariamente sustentáveis. Na geração de energia elétrica, as renováveis cresceram 7%, o que equivale a uma capacidade instalada adicional de 450 terawatts-hora, ou “um Brasil”.

Somente a China respondeu por 40% do crescimento das energias limpas, seguida pela Europa, com 25%. A energia solar bateu mais um recorde, com 31% de crescimento na capacidade instalada.

“Mas, apesar do grande crescimento nas renováveis, as emissões globais ainda estão crescendo, demonstrando mais uma vez que mais ação urgente é necessária em todas as frentes – no desenvolvimento de todas as soluções de energia limpa, no aumento da eficiência e no incentivo a investimentos em inovação, incluindo captura, utilização e armazenamento de carbono”,
disse Fatih Birol, diretor-executivo da IEA.



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