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Iniciativa Comunitária | Ação do Parque Zenit e do Instituto de Informática da UFRGS realiza manutenção e doação de equipamentos por meio de parceria com ONGs, e oferece capacitação para estudantes em vulnerabilidade social desenvolverem aprendizados na área e acessarem o mercado de trabalho

Por Leticia Pasuch, da UFRGS | Equipamentos eletrônicos com defeito, como computadores, para uns, não servem mais para aproveitamento, mas, para quem não tem fácil acesso, podem ser de grande utilidade. Existem ações de inclusão digital encarregadas de consertar peças e entregar para entidades da sociedade civil. São os Centros de Recondicionamento de Computadores – CRCs –, que têm apoio e financiamento do Ministério da Ciência e Tecnologia. As máquinas chegam por doações do poder público e de empresas privadas e, após a manutenção, são repassados a Pontos de Inclusão Digital (PIDs), como escolas públicas, ONGs, entre outras instituições. Além disso, a ação viabiliza que jovens em vulnerabilidade social também aprendam a consertar e, com a experiência, trilhem caminhos profissionais na área. 

Desde 2018, a UFRGS passou a compor a rede de CRCs espalhados pelo Brasil. Vinculada ao Zenit – Parque Científico e Tecnológico da UFRGS e ao Ministério das Comunicações (MCom) do Governo Federal, a ação de recondicionamento compreende limpeza, manutenção, substituição de peças defeituosas, melhorias das condições de funcionamento, instalação de programas e testes e, finalmente, a doação. Esse trabalho é realizado por professores e bolsistas de graduação da Universidade.

Durante a pandemia, foi também criada uma ação de extensão chamada Reconecta, em que computadores foram recondicionados e repassados, através de sorteio, para estudantes da UFRGS que precisavam manter os estudos durante o Ensino Remoto Emergencial e não possuíam equipamentos adequados. A ação, até 2021, chegou a atender cerca de 300 estudantes. Nas palavras de Renato Perez Ribas, professor Instituto de Informática UFRGS e gerente do CRC, os projetos são como uma simbiose, e todos saem beneficiados.

O processo de recondicionamento auxilia, também, no ecossistema de resíduos eletrônicos em Porto Alegre, devido ao descarte correto de acordo com a Lei n.º 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Os descartes são realizados de acordo com as orientações ambientais, evitando assim a proliferação de lixo eletrônico na cidade.

Rede de conexões e oportunidades

O principal objetivo, além de cumprir as metas exigidas pelo programa governamental, é fomentar espaços comunitários, atesta Renato. Por três anos, o CRC Zenit trabalhou com o Núcleo Comunitário Cultural de Belém Novo (NCC Belém), localizado no extremo sul de Porto Alegre, até o momento em que conseguiu ser um CRC autônomo. Neste ano, passou a ter vínculo com uma nova associação: o Coletivo Autônomo Morro da Cruz, no bairro São José, zona leste de Porto Alegre. Lá foi desenvolvida uma oficina para capacitar jovens entre 16 e 24 anos em vulnerabilidade social. Eles aprenderam a recondicionar computadores e a capacitar outros jovens que entrassem para a equipe.

Objetivando uma formação profissionalizante e empreendedora, através do curso de informática e montagem, os alunos tornam-se aptos para o mercado. Ubiratan da Silva Marquette, coordenador do CRC no Coletivo Morro da Cruz e instrutor de Tecnologia da Informação (TI), lembra que o projeto, que foi oficialmente inaugurado no dia 22 de agosto, só aconteceu devido ao esforço multidisciplinar da equipe envolvida – principalmente de Renato, que viabilizou a ação.

“Formar multiplicadores: essa é a nossa intenção. Hoje, como educador e instrutor, eu vejo [o CRC] como um dos maiores avanços em uma comunidade periférica do Rio Grande do Sul”

Ubiratan da Silva Marquette

Para Bira – como é conhecido –, o projeto já ter, em menos de um ano desde a idealização, formado monitores assistentes é um avanço imensurável. Ele diz manter uma relação baseada na confiança: afirma que pode tranquilamente sair e deixar a oficina com os alunos que, ao final do dia, o trabalho estará pronto. Para ele, a primeira base de um educador é confiar em um educando. Segundo o coordenador, é possível enxergar com clareza o avanço dos jovens desde o início das capacitações.

É o caso de Kauen Diego de Mello Delgado, 17 anos, um dos capacitados. O interesse pela área surgiu devido ao curso que fez no CRC. Sabia bem pouco de informática, mas com o tempo foi se adaptando, se abrindo para o conhecimento, e até convidou amigos para se somarem ao curso. Já para Jonatan da Cruz Oliveira, 19 anos, estar no CRC foi uma realização pessoal. “Desde criança, meu sonho foi trabalhar na área de tecnologia, principalmente com informática”, diz. Além de aprender coisas novas diariamente, o estudante agradece a oportunidade de poder alçar voos mais altos, prospectando um investimento profissional com esse conhecimento adquirido.

“Aumentou minha perspectiva de vida. Eu nunca sonhei que iria estar aqui, na comunidade, participando de um projeto que iria ajudar tantas pessoas como me ajudou”

Jonatan da Cruz Oliveira

Elenira Rejane Martins Pereira, vice-presidente do Coletivo Autônomo Morro da Cruz e moradora da região, garante que o CRC veio para fazer a diferença na formação dos jovens da comunidade, que, frequentemente, não têm escolaridade completa. “Somente a educação transforma, e a educação ninguém nos tira”, assegura. Com a inclusão digital e os demais projetos do Coletivo, tanto os jovens quanto suas famílias são beneficiados.

Nira, como é conhecida, lembra que todos eles podem descer o morro com diploma na mão. “Eles têm direito de se formar assim como qualquer cidadão, de trabalhar e ter orgulho do lugar onde moram, que é o Morro da Cruz. A gente tenta passar tudo isso pra eles e, principalmente, a importância do estudo.”

Empreendedorismo e geração de renda

Ao ver os frutos do Morro da Cruz sendo gerados, o estudante de Economia e bolsista do CRC Anderson Padilha, envolvido com o trabalho realizado e experiente na área de TI, sentiu-se preparado para colocar em prática um inquieto desejo de criar um espaço de recondicionamento de computadores para jovens no bairro Restinga, onde mora. Montou uma turma com, atualmente, cinco jovens da comunidade entre 17 e 18 anos.

Anderson começou a dar as aulas em março deste ano. Desde então, seus alunos já alcançaram oportunidades: dois deles, recentemente, foram selecionados para o curso de recondicionamento de computadores da Associação Pão dos Pobres. Outro aluno conseguiu, aos 18 anos, uma oportunidade de emprego no Centro de Promoção da Criança e do Adolescente (CPCA). Ele reforça que a ideia, alimentada por Renato, é de buscar cada vez mais parceiros para implementar CRCs nas comunidades e atingir um amplo número de jovens.

Este texto foi originalmente publicado pela UFRGS de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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