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Shady Rabab quer usar a música como instrumento de conscientização sobre o consumo insustentável de plástico

Shady Rabab ensina crianças em Kibera como fabricar instrumentos, incluindo flautas e chocalhos, a partir de garrafas de plástico. Foto: ONU Meio Ambiente/Duncan Moore

Uma sala lotada de estudantes é palco de uma aula de música. O ambiente está cheio dos sons de flautas e chocalhos, que vão gradualmente se tornando mais sincronizados com a prática. Os professores riem satisfeitos enquanto algumas crianças dançam e batem o pé com tanta energia que o telhado de estanho da escola começa a sacudir.

Estamos em Kibera, um dos maiores assentamentos informais da África, localizado a apenas sete quilômetros do centro de negócios da capital do Quênia, Nairóbi. Estima-se que 700 mil pessoas vivam nesse campo, que cobre uma área de 2,5 quilômetros quadrados. Cada pedaço de terra está ocupado e as ruas são um labirinto de lojas e casas.

A aula de música não é uma atividade qualquer — os instrumentos são novinhos em folha, eles acabaram de ser criados a partir de garrafas de plástico reaproveitadas. O professor, Shady Rabab, viajou do Egito para ensinar os jovens alunos como fazer música a partir do lixo, que acabaria sendo descartado em cima — ou embaixo — do chão de Kibera.

Devido à densidade do campo de Kibera e à falta de planejamento em sua construção, o governo queniano quase não oferece nenhum serviço no assentamento. Por necessidade, as pessoas jogam o lixo nas ruas.

Isso se torna evidente no caminho para a aula de música. Nas vielas do campo, garrafas de plástico, entre outros resíduos, enchem valões abertos e latões de lixo. Eles entopem ralos, valas e rios, agravando as enchentes que assolam a área.

As crianças que compareceram ao encontro musical estavam animadas em conhecer Shady Rabab, o Jovem Campeão da Terra da ONU Meio Ambiente em 2018, que representou o continente africano na competição das Nações Unidas sobre inovação e conservação ambiental. A visita a Kibera, em novembro do ano passado, foi a primeira viagem do egípcio à Africa Subsaariana.

Crianças no campo de Kibera, no Quênia, têm aula de música especial, que combina o ensino de instrumentos com educação ambiental. Foto: ONU Meio Ambiente/Duncan Moore
Crianças no campo de Kibera, no Quênia, têm aula de música especial, que combina o ensino de instrumentos com educação ambiental. Foto: ONU Meio Ambiente/Duncan Moore

Para Rabab, foi uma oportunidade de ensinar as pessoas sobre música e meio ambiente e também de conhecer quem lida diretamente com os efeitos da poluição plástica.

“Precisamos resolver o problema do plástico e, por meio do poder da arte, podemos conscientizar. Usando a música, as crianças vão se importar com o meio ambiente”, afirma Rabab. “Meu sonho é rodar por toda a África e ensinar as crianças a fazer seus próprios instrumentos musicais a partir do lixo. Teremos pequenas oficinas, aí eles vão ensinar uns aos outros e a ideia vai se espalhar.”

A aula em Kibera foi uma experiência inédita para Rabab, que só tinha organizado reuniões do tipo no Egito. O encontro no campo de Nairóbi aconteceu na Escola Seven Kids, uma instituição administrada localmente, que oferece refeições e educação de baixo custo para as crianças.

“É assim que eu quero administrar o meu coletivo”, diz o egípcio enquanto entrega, diante da turma, algumas flautas recém-cortadas, feitas de garrafas de plástico. A sua organização, o Coletivo de Arte Rabab Luxor, não se resume simplesmente a doar instrumentos — a sua missão é ensinar as crianças a fabricá-los, permitindo também que elas compartilhem o seu conhecimento com amigos que não foram à aula. Trata-se de uma combinação de música e educação ambiental que pode ajudar a melhorar a qualidade de vida de crianças pobres.

“Os problemas aqui em Kibera não são únicos (do acampamento). A gestão de resíduos emergiu como um desafio sério na economia moderna global e (já) ficou claro que os plásticos são uns dos problemas mais difíceis”, explica Rabab.

Com mais de 300 milhões de toneladas de lixo plástico sendo produzidas anualmente e metade de todos os produtos plásticos projetados para serem descartáveis, países em todas as regiões estão tendo que enfrentar uma avalanche de lixo.

Keith Alverson, diretor do Centro Internacional de Tecnologia Ambiental da ONU Meio Ambiente, avalia que “é hora de repensar o lixo”. “Frequentemente, ouvimos falar de modelos e estilos de vida de lixo-zero e isso é útil de se pensar como metas no longo prazo”, aponta o especialista.

“Contudo, no mundo real, em lugares como Kibera, precisamos de ações flexíveis e concretas para reduzir os resíduos agora. A sensibilização e a educação baseadas nas artes desempenham um papel crítico em ajudar as pessoas a entender os desafios da gestão dos resíduos e fazer a sua parte para superá-los.”

Assembleia mundial em março vai debater soluções sustentáveis

O acúmulo de lixo plástico permanece sendo um problema, especialmente em comunidades de baixa renda e em assentamentos informais com acesso limitado aos serviços públicos. O atual status quo é insustentável. Mas resolver esse problema exigirá uma abordagem ampla, com base em soluções artísticas, sociais e técnicas e com a participação de todos os países.

Em preparação para a Assembleia Ambiental das Nações Unidas, no próximo mês de março, a ONU Meio Ambiente está pedindo às pessoas que “pensem além” dos atuais modos de vida e “vivam dentro” dos limites sustentáveis do nosso planeta. Junte-se ao debate nas redes sociais usando a hashtag #SolveDifferent para compartilhar as suas histórias e ver o que os outros estão fazendo para garantir um futuro sustentável para o nosso planeta.

Rabab é um dos empreendedores que vai participar desse encontro global. Desde que ganhou o prêmio das Nações Unidas, o egípcio está trabalhando num plano para levar seu coletivo adiante. Ele já começou processos seletivos para contratar um gerente de projetos e participou de reuniões com parceiros potenciais.

“Estou ansioso para compartilhar a minha história como um agente da mudança com outros (indivíduos) que estão agitando as frentes (de ativismo nas áreas) de resíduos, vida marinha e consumo sustentável”, completa.


Fonte: ONU Brasil

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