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Estudo revela que abastecimento alimentar pode ser prejudicado pelo déficit de fósforo em alguns países

Cientistas europeus alertam que o mundo está prestes a enfrentar uma crise na produção de alimentos. Isso porque o fósforo, um dos principais fertilizantes utilizados na agricultura, ao lado do nitrogênio e do potássio, é um recurso finito – e suas reservas podem estar acabando em alguns países. Uma das razões para o problema são as altas taxas de crescimento populacional em algumas regiões do mundo, que exigem uma produção cada vez maior de alimentos.

O estudo, intitulado “Dinâmica da cadeia de fornecimento de fósforo global: Avaliando o impacto regional até 2050”, foi publicado na revista científica Global Food Security e conduzido por cientistas da Universidade de Estocolmo e do Instituto de Tecnologia Blekinge, na Suécia, em parceria com pesquisadores da Universidade da Islândia. Os resultados revelam que as regiões do mundo com maiores altas taxas de crescimento populacional são também aquelas que sofrem maior déficit no fornecimento de fósforo. O estudo também quantifica o impacto ambiental da utilização excessiva do fósforo na produção agrícola até 2050, identificando taxas de poluição e emissões de gases do efeito estufa associadas ao fornecimento desse tipo de fertilizante.

Além disso, o estudo analisou a suficiência das reservas globais de fósforo, avaliando quais regiões do mundo mais necessitam desse nutriente para a produção de alimentos, uma vez que as demandas são desiguais. Os pesquisadores também quantificaram os impactos ambientais e climáticos da cadeia de abastecimento de fósforo, tanto em nível global como regional. Na mesma linha de outras pesquisas realizadas sobre o assunto, eles concluíram que a redução do uso de fósforo e o investimento em agricultura sustentável é urgente.

Dependência do fósforo ameaça prática agrícola

A prática agrícola é responsável pelo consumo de 90% de todo o fósforo extraído no mundo. Em 2050, estima-se que a demanda mundial de fósforo para fertilizante na agricultura duplique. Estudos apontam que, nos próximos anos, poderá ocorrer um pico na produção de fertilizantes fosfatados e o esgotamento das reservas mundiais de rochas fosfáticas, que constituem fontes não renováveis.

Os indicadores preocupam, pois quase todos os fertilizantes fosfatados vêm da mineração e processamento de rochas fosfáticas e somente alguns países produzem e exportam esse mineral. Enquanto as perdas ao longo da cadeia de abastecimento de fósforo foram estimadas em cerca de 80 a 90%, espera-se que o crescimento da população global aumente ainda mais a demanda por alimentos em mais de 50% até 2050, sobretudo na América Latina, no Caribe, no sul da Ásia e na África Subsaariana.

Com as taxas de uso que temos hoje, muitos países – incluindo Estados Unidos, China e Índia – poderão esgotar seu suprimento de fósforo em algumas décadas. Atualmente, o Marrocos e o território do Saara Ocidental ocupado pelo Marrocos abrigam a maior parte da reserva de fósforo do mundo. China, Argélia e Síria hospedam, juntos, a segunda maior parcela dessa reserva, que representa mais de 80% do fosfato de rocha global.

O Brasil, por exemplo, é o quarto maior consumidor de fósforo como fertilizante agrícola do mundo. O sistema global de produção de alimentos usa 53 milhões de toneladas de fertilizantes fosfatados por ano, processados ​​a partir de 270 milhões de toneladas extraídas das rochas de fosfato. Estima-se um aumento de 60% na demanda por alimentos até 2050 – ou seja, a produção global de alimentos dependerá ainda mais desses fertilizantes no futuro.

O estudo, que faz parte de um projeto de pesquisa europeu maior, chamado de “Adaptação a uma nova realidade econômica“, concluiu que América Latina, Caribe, Sul da Ásia e África Subsaariana liderarão o consumo crescente de fósforo nas próximas décadas. No entanto, a África Subsaariana não se mostrou responsável por um aumento tão significativo na demanda de fósforo até 2050, apesar de apresentar o maior crescimento populacional durante o período, em razão dos níveis historicamente baixos de aplicação de fertilizantes na região.

Esse ponto do estudo levanta sérias questões sobre a segurança alimentar, uma vez que esta parte do mundo concentra a maioria das pessoas subnutridas no mundo. Todas as regiões que lideram o aumento da demanda de fósforo também são regiões muito dependentes de importações de fosfato e, portanto, vulneráveis ​​a picos de preços e interrupções no fornecimento. Por isso, o problema da fome tende a aumentar nas partes do mundo onde falta fósforo, a menos que ações sejam tomadas por governos e instituições internacionais para garantir as importações.

Danos do fósforo ao meio ambiente

O uso excessivo de fósforo causa também uma poluição generalizada que leva a zonas mortas em rios e mares. Chamam a atenção os resultados associados ao impacto da cadeia de suprimentos de fósforo no meio ambiente e no clima. A interferência humana no ciclo do fósforo para produção de alimentos é responsável por gerar danos ao meio ambiente e contaminação de recursos hídricos.

De acordo com o estudo, a quantidade de fósforo que atinge os corpos d’água mais do que triplicará no Norte da África e na Ásia Ocidental – e dobrará no Sul da Ásia, na América Latina e no Caribe. Essa tendência será impulsionada pelo escoamento de fósforo de terras agrícolas. Embora seja um recurso essencial na produção de alimentos, o fósforo é um dos principais poluentes em corpos d’água, podendo causar eutrofização – um processo que favorece o aumento de algas na água, levando à diminuição do oxigênio e à morte diversos organismos. Com as atuais taxas de escoamento de fósforo e a escassez de medidas de prevenção ambiciosas, mais corpos d’água estarão sujeitos à eutrofização.

Além disso, o impacto climático decorrente da mineração de rocha fosfática terá dobrado em 2050. Esse dado preocupa especialistas, porque o processo de extração do fósforo também exige alto uso de energia e de água, além de produzir grandes quantidades de fosfogesso – um subproduto tóxico da mineração de rochas fosfáticas. O estudo prevê que a produção de fosfogesso chegará a 500 milhões de toneladas por ano, caso não surjam melhorias tecnológicas. A produção desse gesso levanta uma série de questões quanto à segurança dos processos de descarte e manejo seguros, em virtude de sua toxicidade e radioatividade. Por outro lado, o fosfogesso poderá se tornar uma fonte rica de fósforo no futuro, caso os avanços tecnológicos permitam a reciclagem segura do fósforo.

Daí a necessidade de serem implantadas medidas para estimular o uso eficiente de fósforo na agricultura e a gestão inteligente dos recursos de fósforo ao longo da cadeia de abastecimento, levando em conta os impactos ambientais. Algumas soluções incluem a reciclagem de fosfato a partir de dejetos humanos e animais, o aprimoramento das práticas de fertilização agrícola e a recuperação do fósforo que contamina os corpos d’água. Além disso, pesquisadores trabalham na criação de novas variedades de plantas que possam extrair fosfato de maneira mais sustentável e menos prejudicial ao planeta.



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