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Práticas tradicionais e gestão sustentável mantêm florestas mais intactas que unidades de conservação governamentais

A relação profunda entre culturas indígenas e a natureza está ajudando a preservar florestas no Panamá de forma mais eficiente do que parques protegidos pelo governo. Um estudo liderado pela Universidade McGill analisou dados de satélite entre 2000 e 2020 e descobriu que as terras indígenas tiveram o dobro de estabilidade na cobertura florestal em comparação com áreas oficiais de conservação. A pesquisa, publicada na revista Ecology and Society, destaca que a integração de atividades agrícolas, práticas espirituais e manejo sustentável pelos povos originários resulta em menor desmatamento e maior regeneração natural.

Conexão entre cultura e floresta

Para entender os padrões ecológicos e os motivos culturais por trás da preservação, os pesquisadores combinaram análises de imagens de satélite com mapeamentos participativos em oito comunidades Emberá no leste do Panamá. Durante as sessões, membros das comunidades identificaram áreas de cultivo, caça, coleta e locais sagrados, revelando que zonas com significado espiritual permaneciam intocadas, enquanto a agricultura se concentrava nas bordas das florestas.

Segundo os autores, essa distribuição espacial demonstra que as florestas não se mantêm preservadas apenas por estarem distantes de centros urbanos, mas porque são valorizadas e manejadas de forma consciente. Áreas destinadas a plantas medicinais, caça tradicional e rituais religiosos estão dispersas pela mata, incentivando um uso equilibrado dos recursos.

Desafios na titulação de terras

Apesar do sucesso na conservação, muitas comunidades indígenas ainda enfrentam obstáculos para obter o reconhecimento legal de seus territórios. Em regiões remotas, como a fronteira com a Colômbia, algumas áreas são geridas apenas por costumes tradicionais, sem titulação formal. Paradoxalmente, em vários países da América Latina, a legislação exige que a terra seja explorada economicamente para que haja direito à posse, o que acaba incentivando o desmatamento.

O estudo defende reformas nas políticas fundiárias para reconhecer a gestão indígena como um modelo válido de conservação. Os pesquisadores argumentam que a combinação de conhecimentos tradicionais com estratégias globais de proteção ambiental pode ser uma solução eficaz para frear a perda de biodiversidade e mitigar as mudanças climáticas.

Lições para o futuro

A pesquisa ressalta que os valores indígenas, que enxergam a natureza como parte integrante da vida comunitária, oferecem um caminho sustentável para a preservação das florestas. Enquanto modelos convencionais de conservação frequentemente separam seres humanos e ecossistemas, as práticas indígenas demonstram que é possível conciliar subsistência, cultura e proteção ambiental.

Os autores esperam que os resultados inspirem novas abordagens de manejo territorial, não apenas no Panamá, mas em outras regiões do mundo onde povos tradicionais mantêm uma relação harmoniosa com o meio ambiente. A integração desses conhecimentos pode ser fundamental para alcançar metas globais de biodiversidade e combate às mudanças climáticas.

*Informações detalhadas sobre a metodologia e resultados podem ser encontradas no artigo original publicado na revista *Ecology and Society.


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