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Rosário sofre com inundações e o efeito das ilhas de calor urbanas, ambos reforçados pelas mudanças climáticas

Os moradores de Rosário, a terceira maior cidade da Argentina, conhecem crises de perto.

Quando a economia do país entrou em colapso em abril de 2001, um quarto dos trabalhadores da cidade se viu desempregado; mais de metade da população acabou abaixo da linha da pobreza. Diante de uma alta vertiginosa nos preços dos alimentos e da escassez, alguns moradores recorreram ao saque de supermercados para obter comida.

“Muitas pessoas não tinham emprego e, quando você está desempregado e não tem nada que você possa fazer e você não tem comida, isso te deixa triste e doente”, comenta a moradora Tomasa Ramos Celia.

Ao mesmo tempo em que os moradores enfrentavam a economia em declínio, outra crise despontava ao fundo. As mudanças climáticas estavam tornando a cidade mais quente e a frequência das chuvas mais instável, causando inundações e incêndios no delta do rio próximo da cidade.

A Prefeitura de Rosário respondeu com o Programa de Agricultura Urbana, a iniciativa vencedora da edição 2020-2021 do Prize for Cities, prêmio do WRI que destaca abordagens inovadoras no combate às mudanças climáticas e à iniquidade urbana. O programa, que oferece aos moradores de baixa renda acesso a terrenos públicos e privados abandonados ou subutilizados para o cultivo de alimentos, foi concebido originalmente para amenizar a escassez de comida e criar oportunidades econômicas. Ao longo dos anos, a prefeitura transformou o programa em um marco de seu planejamento para a ação climática inclusiva.

A agricultura urbana de Rosário fornece alimentos saudáveis para comer e vender

Antes da crise econômica de 2001, muitos agricultores do estado de Santa Fé, um polo agrícola argentino, cultivavam soja para exportação. No início dos anos 2000, a cidade começou a depender fortemente de produtos agrícolas importados, cultivados com uso de pesticidas, para atender sua própria demanda de alimentos.

O Programa de Agricultura Urbana começou a abastecer grupos locais com ferramentas, materiais, sementes e treinamento em produção agroecológica – o cultivo de alimentos sem produtos químicos – em 2002. Rapidamente, o programa foi ampliado e passou a cobrir 75 hectares da cidade, incluindo sete Parques Huerta (ou “hortas urbanas”) e diversos lotes menores nos bairros, em terrenos antes abandonados ou subutilizados.

Para estabelecer a agricultura urbana como um meio de subsistência, a prefeitura também estabeleceu espaços ao longo da cidade para mercados permanentes ou temporários onde os produtores podem vender os alimentos cultivados localmente e outros produtos feitos em casa, como legumes em conserva, molhos, xaropes, cosméticos orgânicos, frutas em conserva e compotas.

“Os consumidores são beneficiados, porque nossos produtos são mais frescos e mais baratos, uma vez que não precisam ser transportados por 500, 600 quilômetros”, destaca Marisa Fogante, proprietária de duas pequenas vendas de produtos agrícolas nos mercados de Rosário. “É um ciclo virtuoso no qual os produtores cultivam alimentos que podem vender aqui e os consumidores podem acessar facilmente a pé ou de bicicleta”.

Hoje, quase 300 agricultores urbanos são proprietários temporários de terras públicas e privadas. Cerca de 65% são mulheres que cultivam e vendem seus produtos nos mercados de Rosário.

A prefeitura também ampliou a agricultura urbana para espaços públicos, escolas, áreas de mercados e diversos programas sociais, em especial os voltados a jovens e idosos, estabelecendo uma cultura no entorno da produção de alimentos. Os Parques Huerta em comunidades de baixa renda se tornaram espaços estratégicos para outros programas sociais, incluindo aqueles focados em educação e desenvolvimento dos jovens. Por exemplo, a prefeitura treinou mais de 2,4 mil famílias e 40 escolas em produção agroecológica, e desde então elas começaram suas próprias hortas.

Reduzindo a distância percorrida pelos alimentos e os riscos climáticos

Além de gerar empregos e novas fontes de subsistência para as pessoas, há importantes benefícios climáticos por trás do Programa de Agricultura Urbana. Quando a monocultura começou a prevalecer sobre uma produção diversificada de alimentos, a cidade começou a adquirir alimentos a mais de 400 quilômetros de distância, criando uma cadeia de fornecimento que gera emissões consideráveis. Hoje, quase 2,5 mil toneladas de frutas e vegetais são produzidas por ano de forma agroecológica em Rosário. Tornar local a produção de vegetais gera 95% menos emissões de GEE do que os alimentos importados para a cidade, de acordo com um estudo da Universidade Nacional de Rosário e da RUAF, uma parceria global pela agricultura urbana e sistemas alimentares.

O programa de agricultura urbana gradativamente foi ampliado para as áreas periféricas de Rosário. Para institucionalizar essa expansão, a prefeitura criou o projeto “Cinturão Verde”, uma nova lei de uso da terra, de 2015, que designou de forma permanente 800 hectares de terras no entorno do perímetro urbano para a produção agroecológica de frutas e vegetais.

“Essa é uma das características que torna Rosário diferente de outros lugares. A cidade tem espaços permanentes para agricultura urbana”, explica Antonio Luis Lattuca, engenheiro agrônomo e um dos criadores do Programa de Agricultura Urbana. “[Isso] permite que a agricultura melhore o solo com o tempo. Quando trabalhamos com essas técnicas [agroecológicas], o solo fica mais esponjoso e mais absorvente. Em vez de escorrer e gerar inundações, a água penetra.”

A terra, em geral, é considerada o bem mais valioso de uma cidade. No entanto, a abordagem de Rosário de reservar áreas subutilizadas e degradadas para a agricultura urbana mostra que os objetivos de densidade e desenvolvimento urbano equitativo podem ser compatíveis e mutuamente benéficos. Novos espaços verdes dentro e fora da zona urbana aumentam a densidade dentro da cidade, evitando uma maior expansão urbana, ao mesmo tempo que sustentam a subsistência de moradores de baixa renda e trazem benefícios climáticos.

Unindo resiliência social, econômica e ambiental

Ao longo dos anos, o programa de agricultura urbana de Rosário evoluiu de uma iniciativa para colocar comida no prato das pessoas para uma ferramenta de geração de empregos e, mais recentemente, uma estratégia de combate às mudanças climáticas. O programa hoje é totalmente integrado a diversos dos planos da cidade, entre os quais o Plano Urbano de Rosário, de 2007, os Planos Estratégicos de dez anos de 2008 e 2018 e o Plano Ambiental de 2015.

“Toda política pública melhora com a continuidade”, afirma o prefeito de Rosário, Pablo Javkin. “Se você garante a continuidade, você acrescenta. Acrescenta trabalho e acrescenta experiência.”

Ao integrar a agricultura urbana em planos estratégicos, o município traz resiliência para o futuro de Rosário. Como o programa reduz a pegada de carbono, aumenta a resiliência da cidade diante de riscos climáticos e gera empregos e inclusão social, a agricultura urbana é tanto uma iniciativa de infraestrutura ambiental quanto social e econômica.

“Se existe uma coisa de que temos clareza em relação ao futuro, mesmo diante de toda essa incerteza, é que o local e o sustentável terão um grande valor”, afirma o prefeito Javkin. “Acredito que esse é um programa que trata de muitas das questões que se tornarão prioridade para as cidades no futuro.”

edição de 2020-2021 do Prize for Cities celebra abordagens inovadoras para combater as mudanças climáticas e a desigualdade urbana ao mesmo tempo, mostrando como viver e prosperar em um mundo em constante processo de mudança. Conheça os cinco finalistas no site oficial do prêmio.


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