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Quipu usava fios de cabelo para contar e manter informações antes da criação da linguagem escrita

Quipu, ou quipo, é um sistema de contagem que utiliza cordas com nós para marcar números ou outras informações. Utilizado pelos incas, o método antecede bancos de dados, planilhas e quaisquer outros sistemas desenvolvidos nos últimos anos, além de manter uma característica única: o quipo, muitas vezes, era feito de fios de cabelo

Antes da criação de uma linguagem escrita formal, os incas dependiam do quipu para se comunicarem e lembrar de informações importantes. Com cordas e nós, o arranjo era extremamente preciso e sofisticado, comunicando tudo, da contabilidade à genealogia.

Ele consiste em um longo cordão com um número variável de cordões pendentes. Os cordões pendentes também podem ter cordões subsidiários presos a eles. Especialistas acreditam que — além dos vários nós colocados ali — a composição, a camada, o comprimento, o acabamento final e a cor do cordão, bem como o espaçamento entre os cordões, eram fatores significativos no uso e no significado de um quipu. (1)

História

Embora seja conhecido como o sistema de contagem dos Incas, o quipu foi usado por diversas civilizações antes. 

“[Quipus] foram encontrados nas ruínas [do Peru] 4 mil anos antes da chegada dos incas”, explica a autora e documentarista quatro vezes vencedora do Emmy, Kim MacQuarrie. 

Segundo a especialista, o uso do sistema remonta a 2600 a.C. e se estendeu até 1532 d.C. Eram um método universal de comunicação muito eficaz entre grupos da região que falavam línguas diferentes.

“O que os incas faziam se conquistassem uma área era entrar e a primeira coisa que faziam era enviar seus contadores, seus inventariantes”, diz MacQuarrie. “Eles entravam e contavam literalmente todos os diferentes recursos: os riachos, os campos, mediam os campos, as pessoas, os sexos das pessoas, a mineração, a pesca, o que quer que fosse. Eles mantinham registros de tudo e levavam essas informações de volta para Cusco, onde tomavam decisões sobre como administrar aquela área.”

Como funciona o quipu? 

Um quipu tradicional consiste de uma corda ou uma barra de madeira, da qual pendem vários fios coloridos e com nós. Alguns dos quipus maiores têm até 1.500 cordas, e estas também podem ser tecidas de diferentes maneiras, sugerindo que isso também tem um significado.

As cores usadas também possuem um significado. Assim como o tipo de nó, a posição dele na corda, o número total de nós e a sequência dos nós. Cada um desses elementos pode ser reorganizado de diversas formas, podendo carregar diferentes informações e significados. 

Em geral, o método baseava-se em um sistema decimal posicional, com o maior decimal utilizado sendo 10 mil. O sistema matemático inca era quase exatamente o mesmo que o utilizamos hoje. Os números ou unidades no sistema de um quipu específico são indicados pelas sequências mais distantes da sequência primária, atuando como uma espécie de chave.

Apenas um nó poderia indicar um número de um a nove pelas voltas da corda dentro do nó. Um nó em forma de oito poderia indicar um valor fixo, um nó ‘vovó’ equivalia a dez, e uma corda sem um nó significava zero.

Para maximizar o uso do sistema, ele era, muitas vezes, acompanhado por um registro oral. Isso indica a existência de especialistas ou mestres, os khipu kamayuq, ou quipucamayos. Essas pessoas memorizavam o relato oral que explicava completamente um quipu específico e, como o trabalho era hereditário, a parte oral era passada de geração para geração.

Para que eram usados? 

Os quipus eram usados de inúmeras maneiras. Como já mencionado, ele era um sistema de contagem, porém, poderia carregar diversas informações. Alguns quipucamayos, por exemplo, usavam o método para guardar registros oficiais. Além disso, foi usado como um guia de memórias para recontar histórias, mitos e poemas da tradição inca.

Outros possíveis usos incluem o registro de: 

  • Informações de censo;
  • Dados contábeis, valores numéricos;
  • Organização militar e ritual;
  • Detalhes de calendário;
  • Informações fiscais. 

Curiosamente, eles também poderiam ser usados de formas artísticas. Alguns especialistas acreditam que esse sistema às vezes tinha uma função performática, como notas musicais em partituras.

Um fio de cabelo que mudou tudo 

Alguns relatos do uso do quipu foram dados em crônicas de observadores coloniais de língua espanhola. Neles, o uso do sistema foi relatado como exclusivo para burocratas masculinos de elite da época.

Esta continuou a ser a suposição comum, apesar de um relato de Felipe Guaman Poma de Ayala, um cronista indígena, afirmar que as mulheres também eram encarregadas da criação do sistema. No entanto, nos séculos XIX e XX, sabe-se que indivíduos de status mais baixo, como trabalhadores de fazendas e camponeses, também faziam quipus.

Até recentemente, havia muito pouca evidência direta indicando quem fazia os quipos, embora se soubesse que o cabelo humano incorporado servia como uma “assinatura” — indicando que quem estava usando-o era a pessoa que o fez.

No entanto, um estudo publicado no Science Advances analisou os fios de cabelos, o que possibilitou a identificação de algumas dessas pessoas. 

Em um dos casos, foi observado que o cabelo pertencia a uma pessoa cuja dieta era composta principalmente de tubérculos e verduras. Isso contrasta com a dieta da elite inca, que se baseava mais em carne e milho. Essa dieta era muito mais condizente com a de um plebeu da época.

Esses resultados desafiam antigas suposições sobre a exclusividade social na manutenção de registros antigos no império Inca, embora mais evidências sejam necessárias. Pouco mais se sabe sobre esse indivíduo em particular, pois as origens do quipu são incertas.

Porém, análises adicionais poderiam fornecer mais clareza sobre a diversidade dos fabricantes de quipus, além de adicionar ao conhecimento geral deste incrível sistema. 


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