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Nova pesquisa quer salvar a raia-viola usando tecnologia de ponta

Por Caroline Chebet em Mongabay – Uma avaliação feita em 2019 por especialistas em tubarões identificou a pouco conhecida família das raias-viola entre as famílias de peixes mais ameaçadas do mundo. Isso levou os pesquisadores a lançarem um estudo inédito para acompanhar duas espécies criticamente ameaçadas em Moçambique e outros locais do Oceano índico.

Cientistas da Fundação Megafauna Marinha (MMF, na sigla em inglês) estão usando dois tipos de transmissores, acústico e satelital, para rastrear a raia-viola-pintada (Rhynchobatus australiae) e a raia-viola-de-espinhos (Rhina ancylostoma), numa tentativa de entender melhor sua movimentação e alcance para melhorar a proteção das espécies.

“Com tão pouca informação disponível, realmente não temos certeza do que esperar”, diz David Gilroy, gerente geral do Santuário da Vida Selvagem Costeira Vilanculos, em Moçambique.

Ao colocar transmissores nos espécimes do Parque Nacional Vilanculos e Bazaruto, os pesquisadores pretendem mapear os locais de distribuição das duas espécies de raias-viola e reunir informações sobre as ameaças que podem ter levado ao grande declínio de ambas.

“Uma vez que recolhermos e analisarmos os dados dos transmissores, conseguiremos fornecer uma indicação mais precisa das zonas de alto uso e áreas de habitat crítico (ex.: áreas de berçário e alimentação) das raias-viola dentro e no entorno dessas áreas protegidas”, diz Stephanie Venables, cientista sênior da MMF. “Essa informação poderá ser usada para orientar o planejamento e a implementação de futuras medidas de manejo e estratégias de proteção para essas espécies.”

Ambas as espécies são um tipo de raia e fazem parte da família Rhinidae, coletivamente conhecidas como raias-viola. A família consiste apenas de 11 espécies distribuídas em três gêneros. Está entre as três famílias de peixes cartilaginosos mais ameaçadas no mundo, categoria que inclui tubarões e quimeras.

Embora o uso de marcações seja uma prática padrão entre biólogos marinhos ao estudar espécies marinhas como tubarões, raias e cetáceos, este projeto é o primeiro em Moçambique a usar a combinação de transmissores acústicos e satelitais para determinar com precisão a localização dos indivíduos.

Os pesquisadores atribuem os acentuados declínios nas populações de raias-viola em parte ao comércio de barbatanas, como as de tubarão, usadas na culinária chinesa como ingrediente de luxo em sopas. “Elas são afetadas em todo o mundo por conta de suas grandes nadadeiras, e portanto valiosas”, diz Venables, acrescentando que, de acordo com “os dados disponíveis sobre pesca, algumas espécies sofreram declínios significativos nas populações regionais.”

Venables cita a raia-viola-pintada e a espécie Rhynchobatus djiddensiscujas populações no Mar Arábico caíram de 50% a 80% nos últimos 30 anos. Ela também apontou os acentuados declínios vistos no Paquistão e na Indonésia.

A presença desses animais em águas rasas próximas ao continente faz com que eles sejam um alvo fácil para as indústrias predatórias de pesca costeira e também da captura acidental. Além disso, as raias-viola têm taxas reprodutivas baixas devido a seu crescimento lento, maturidade tardia e longos períodos de gestação.

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Pouco se sabe sobre as características da história de vida das raias-viola, diz Venables, acrescentando que há uma falta generalizada de dados sobre idade e crescimento, inclusive sobre quando as espécies atingem a maturidade.

“Mas baseado em um estudo de uma espécie próxima, a idade de maturidade das fêmeas para todas as raias-viola de grande porte é estimada em 7 anos, e a idade máxima é estimada em 19 anos”, diz ela.

Embora o período de gestação de ambas as espécies a serem marcadas permaneça desconhecido, diz Venables, os cientistas só sabem que a raia-viola-de-espinhos tem ninhadas de dois a 11 filhotes, e a raia-viola-pintada tem entre sete e 19 filhotes. Pesquisadores estimam em 15 anos a duração das gerações em ambas as espécies.

Para o projeto, os pesquisadores começaram a colocar nos animais uma marcação acústica, um pequeno transmissor que emite uma assinatura acústica única. Essa assinatura pode ser detectada por uma série de receptores subaquáticos sempre que os animais chegam a uma proximidade de algumas centenas de metros. Esses receptores, já posicionados, armazenam informações dos transmissores, permitindo que os pesquisadores baixem os dados em intervalos de alguns meses.

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Os pesquisadores poderão recolher informações sempre que os animais estejam no espaço acústico de Moçambique, que vai do Arquipélago de Bazaruto até a Ponta do Ouro, na fronteira sul do país.

As baterias dos transmissores acústicos duram até cinco anos, o que pode fornecer informações de longo prazo sobre os padrões de movimentação das raias.

Para complementar as marcações acústicas, os pesquisadores também acoplaram transmissores satelitais pop-up (ou PSAT/miniPAT tags) às nadadeiras dorsais dos espécimes. As marcações satelitais fornecem muitas informações, registrando profundidade, temperatura e geolocalização com base na luz, um recurso usado para determinar a localização com base na luz solar.

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“Podemos saber onde os animais passam a maior parte do tempo, se as visitas a locais específicos acontecem ao longo do ano inteiro ou se são sazonais, até onde eles vão, a que profundidade mergulham e quais temperaturas preferem”, diz Andrea Marshall, cofundadora da MMF e uma das líderes do projeto. “Isso nos ajudará a identificar áreas de habitat críticas que devem ser priorizadas para a proteção.”

Essas marcações são programadas para ficarem presas nas raias-viola por seis meses, antes de se desprenderem, flutuarem para a superfície e transmitirem um sumário dos dados arquivados para os cientistas através da rede de satélites Argos.

Embora os cientistas tenham documentado, a partir de pesquisas subaquáticas, vários locais que são visitados regularmente pelas espécies, pouco se sabe sobre a distância que elas percorrem ao longo da costa ou em mar aberto. Os cientistas tampouco sabem se elas ficam nessas áreas o ano inteiro ou apenas as visitam sazonalmente.

“[E] não sabemos onde elas vão quando não estão nos recifes”, diz Venables. “Nosso estudo é projetado para fornecer informações básicas sobre movimentação e uso de habitat, para que possamos entender melhor a ecologia espacial dessas espécies e identificar áreas específicas que devem ser priorizadas para proteção.”

Embora a raia-viola-pintada de Moçambique enfrente muita pressão por parte da pesca, há populações da espécie na costa australiana que não sofrem muita exploração. As raias-viola-de-espinho, por outro lado, são particularmente raras em todo o seu território, com avistamentos pouquíssimo frequentes.

Há poucos planos de manejo para proteger as populações decrescentes dessas espécies no mundo e, além disso, pouco se sabe sobre sua biologia e ecologia enquanto elas continuam sendo mortas, mesmo em capturas acidentais, por causa de suas barbatanas.

“As raias-viola poderiam facilmente ser comparadas a pangolins do oceano”, diz Gilroy, do santuário Vilanculos. “Elas são raras, arredias, criticamente ameaçadas, e são pescadas de forma intensiva por suas nadadeiras. Assim como os pangolins, elas precisam de proteção urgente.”

David Ebert, diretor do Centro de Pesquisa Pacific Shark no Moss Landing Marine Laboratories na California, comentou o projeto de marcação, observando que ele lança luz sobre a conservação das espécies.

“Acho que é um projeto de pesquisa muito importante e vem em momento oportuno”, diz ele.

A MMF também anunciou que continuará a utilizar marcações adicionais nos próximos meses num projeto pioneiro para compreender melhor, e proteger, a família das raias-viola.

Este texto foi originalmente publicado por Mongabay de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original.


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