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Animal não tem predadores e pode ter chegado naturalmente por meio do Mar do Caribe; pesca, coleta e proteção ambiental são as principais alternativas para controlar o predador

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Peixe-leão é o nome popular de um gênero de peixes marinhos e venenosos. A espécie mais famosa é a Pterois volitans, originária da região do Indo-Pacífico. O animal foi avistado no Brasil pela primeira vez em 2014. Agora, um novo estudo analisou a captura da espécie e confirma que o peixe-leão está invadindo o meio ambiente brasileiro. O problema já é enfrentado na região do Caribe e em países como Estados Unidos e México.

Conhecido por seu formato diferente e suas cores vivas, o lionfish se tornou uma espécie ornamental muito comercializada por aquaristas. É provável que um desses exemplares de aquário tenha sido despejado no mar, o que deu início à invasão nos Estados Unidos no final da década de 1980. Outra possibilidade é que o furacão Andrew, que atingiu o Estado da Flórida em 1992, tenha destruído um aquário e acidentalmente os peixes acabaram no mar. Desde então, o animal se espalhou pela região e causa prejuízos ambientais e econômicos.

Hudson Tercio Pinheiro, pesquisador do Centro de Biologia Marinha (CEBIMar) da USP, comenta que o peixe-leão tem um comportamento predatório bem específico. Ele fica imóvel em recifes de corais, até que uma presa passe na frente, então ele ataca e por meio de sucção engole o animal.

“As nossas espécies nativas não são adaptadas para evitar esse tipo de predação, elas acabam se tornando presas fáceis”, afirma. Outro problema é que o peixe-leão se reproduz em taxas elevadas e não tem predadores nos ambientes invadidos. Por esses motivos, ele desequilibra a cadeia alimentar.

É provável que esses animais tenham chegado no Brasil vindos naturalmente do Caribe, onde ele também é invasor, através de correntes marítimas. Entretanto, a possibilidade de introdução no mar por aquaristas não foi descartada. Nos últimos meses foram capturados três peixes-leões na costa brasileira: dois na foz do rio Amazonas, no Amapá, e um no arquipélago de Fernando de Noronha. Os registros anteriores foram feitos no Rio de Janeiro.

Invasão biológica

A bioinvasão é um fenômeno que acontece quando uma espécie se estabelece e se espalha por uma região da qual ela não é nativa. Segundo Ricardo Augusto Dias, professor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia (FMVZ) da USP, esse processo pode ocorrer naturalmente, mas é intensificado pela atividade antrópica.

“O que ocorre quando há interferência humana, seja ela intencional ou não, é o aumento das taxas de invasão, além da possibilidade de introdução de indivíduos que não poderiam ser transportados sem o auxílio humano.” Dias comenta que o transporte internacional também pode intensificar a invasão biológica. É o caso, por exemplo, do coral-sol, introduzido no Brasil acidentalmente ao ser carregado por navios e plataformas de petróleo.

Além do desequilíbrio da cadeia alimentar, esse fenômeno representa um risco ao ocasionar mudanças comportamentais, fisiológicas e introduzir doenças. De acordo com o professor, entretanto, nem todos os impactos são prejudiciais. “Quaisquer invasões devem ser prontamente identificadas e avaliadas, para que seja implementado seu manejo, se necessário”, diz.

No caso do peixe-leão, as análises são todas negativas, principalmente por conta da predação e do risco à biodiversidade. “Nossas ilhas oceânicas são cheias de espécies endêmicas”, comenta Pinheiro. “Esse é o principal problema, uma espécie invasora colocar em risco a fauna exclusiva dessas ilhas, que não existe em nenhum outro lugar do mundo”, acrescenta. A competição com predadores nativos também pode prejudicar atividades como a pesca e o turismo.

Manejo

Ao todo, são cerca de 540 espécies invasoras no Brasil, como o javali e a tilápia. Quando um animal invasor se estabelece, é quase impossível erradicá-lo. Entretanto, existem algumas estratégias que podem auxiliar no seu controle. Nos países que já enfrentam o peixe-leão, a pesca e a captura são as principais medidas de contenção. Apesar de ter espinhos venenosos, sua carne não tem toxinas e é adequada para o consumo humano. 

O ideal, entretanto, é impedir a chegada e o estabelecimento de invasores. “A melhor forma de se proteger de qualquer invasão é através da conservação dos ambientes naturais”, afirma Pinheiro. “Se você tem um ambiente mais preservado, você terá maior competição natural e resiliência, ou seja, um ambiente capaz de se proteger por si só”, completa. A criação de áreas de proteção e manejo são alternativas para evitar o peixe-leão nos ambientes em que ele ainda não chegou.

Para o professor Dias, ainda não existem muitas ações concretas de controle das espécies invasoras no Brasil. Ele ressalta, entretanto, que essa discussão está ganhando espaço. “Isso traz muita esperança, mas trata-se somente de um primeiro passo no manejo da invasão biológica no Brasil. Ainda estamos muito atrasados nesse ponto.”


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