Pesquisa da Georgia Tech aponta viabilidade econômica e ambiental do material, que pode reduzir emissões e impulsionar uma nova indústria
A construção civil é uma das maiores responsáveis pelas emissões globais de gases de efeito estufa, representando cerca de 20% do total. Diante desse cenário, pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Geórgia (Georgia Tech) investigaram o potencial do isolamento térmico feito a partir de fibras de cânhamo como alternativa sustentável aos materiais convencionais. O estudo, publicado no Journal of Cleaner Production, revela que, apesar dos desafios iniciais, o mercado de isolamento de cânhamo pode se tornar viável nos Estados Unidos, com impactos positivos para o meio ambiente e a economia.
O cânhamo, uma planta de crescimento rápido e versátil, já é utilizado na produção de roupas, cordas e plásticos biodegradáveis. Na construção civil, seu uso tem ganhado destaque principalmente na Europa, onde materiais como concreto, gesso e isolantes à base de cânhamo são vistos como alternativas para reduzir a pegada de carbono dos edifícios. Nos EUA, a legalização da produção industrial de cânhamo em 2018 abriu caminho para pesquisas e aplicações inovadoras.
A equipe de pesquisadores, composta por especialistas em engenharia civil, ambiental, mecânica e políticas públicas, utilizou técnicas de aprendizado de máquina e modelagem econômica para superar a escassez de dados e avaliar a viabilidade do isolamento de cânhamo. Apesar de o material custar atualmente o dobro do isolamento tradicional de fibra de vidro, os resultados indicam que, com incentivos adequados e aumento da produção, o cânhamo pode se tornar competitivo.
Arjun Ramshankar, autor principal do estudo e doutorando em engenharia ambiental, explica que a abordagem tecnoeconômica adotada pela equipe não se limitou a analisar custos, mas também considerou a cadeia de suprimentos e a demanda potencial. Segundo ele, o método desenvolvido pode ser aplicado a outros materiais sustentáveis, ampliando as possibilidades de inovação na indústria da construção.
Joe Bozeman, coautor sênior do estudo e professor assistente na Escola de Engenharia Civil e Ambiental, destaca que o isolamento de cânhamo pode ser uma solução dupla: reduzir as emissões de carbono e contribuir para a crise habitacional nos EUA. Ele sugere que políticas públicas poderiam fomentar o uso do material em novas construções, criando um ciclo virtuoso de demanda e produção.
Além dos benefícios ambientais, a expansão do mercado de isolamento de cânhamo pode gerar empregos e impulsionar avanços tecnológicos. A pesquisa também aponta que, em comparação com os materiais tradicionais, o isolamento de cânhamo pode reduzir o impacto ambiental em até 90%, tornando-o uma opção atraente para um setor em busca de sustentabilidade.
O estudo da Georgia Tech não apenas abre caminho para o uso do cânhamo na construção civil, mas também estabelece uma metodologia para avaliar a viabilidade de outros materiais alternativos. Enquanto o mercado de isolamento de cânhamo ainda está em estágio inicial, os pesquisadores acreditam que, com investimentos e políticas adequadas, ele pode se consolidar como uma indústria promissora e sustentável.
A pesquisa foi publicada no Journal of Cleaner Production e contou com a colaboração de Kelly Farmer, estudante de pós-graduação, e Akanksha Menon, professora assistente de engenharia mecânica. O trabalho faz parte de um esforço mais amplo do laboratório de Bozeman, que inclui projetos para reduzir a pegada de carbono do concreto, reciclar lítio de baterias de veículos elétricos e filtrar substâncias químicas persistentes em águas residuais.
Com o aumento da conscientização sobre as mudanças climáticas e a necessidade de soluções sustentáveis, o isolamento de cânhamo surge como uma alternativa viável e inovadora, capaz de transformar não apenas a construção civil, mas também a economia e o meio ambiente.