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Empresas dependem do abastecimento contínuo de água limpa para operar

Por Todd Gartner, Todd Reeve, Sara Hoversten, James Anderson, Phil Saksa e Lizzie Marsters em WRI Brasil – A água é utilizada na fabricação de produtos, irrigação de lavouras e resfriamento de processos industriais que geram calor. Interrupções no abastecimento podem gerar grandes impactos para os negócios. O estado da Califórnia, nos Estados Unidos, por exemplo, recentemente restringiu o uso de água para seis milhões de moradores e empresas devido a uma seca sem precedentes. Em paralelo, a expectativa é de que a demanda por água na região aumente ainda mais, ao mesmo tempo em que as mudanças climáticas reduzem a disponibilidade de água.

As empresas têm respondido a esses riscos medindo seu consumo hídrico, estabelecendo metas de gestão e implementando estratégias in loco para melhorar o abastecimento e a qualidade da água. Também têm aprendido a produzir bens e serviços usando menos água a partir do conserto de canos com vazamento, da melhora da eficiência nos processos de fabricação, da reciclagem de águas residuais e outras medidas como a instalação de vasos sanitários de baixo fluxo.

Porém, existe uma intervenção promissora que muitas empresas ainda deixam de lado – investir em soluções baseadas na natureza.

Como as soluções baseadas na natureza podem aumentar a segurança hídrica

Soluções baseadas na natureza oferecem proteção, gestão e restauração de sistemas naturais (como árvores e florestas, bacias hidrográficas e pastagens) para enfrentar desafios sociais. Em vez de focar em soluções hídricas in loco – como consertar canos –, as soluções baseadas na natureza focam nos sistemas que sustentam a segurança hídrica.

restauração de zonas úmidas e outros ecossistemas, por exemplo, pode recuperar os níveis de água abaixo do solo e mitigar os riscos de inundações. Florestas saudáveis ajudam a filtrar a água, reduzir os custos com tratamento e regular a velocidade com que a água é liberada a jusante. Restaurar ecossistemas degradados pode reduzir o risco de incêndios florestais por meio do desbaste de florestas muito densas, da remoção de espécies invasoras e da recomposição da capacidade de retenção de água das várzeas e outros ecossistemas ribeirinhos.

Soluções como essas podem proteger as empresas de interrupções mais severas no abastecimento de água de uma forma que a gestão hídrica convencional não é capaz. Reduzir a pegada hídrica em 20% – embora louvável e até necessário – não torna a empresa imune a interrupções no abastecimento causadas por secas ou incêndios florestais. Uma única enchente ou incêndio pode fazer com que uma empresa perca milhões em questão de horas, como quando os incêndios florestais de 2020 no norte da Califórnia danificaram dezenas de vinhedos e instalações, custando à indústria do estado cerca de US$ 3,7 bilhões.

O que tem impedido o investimento em soluções baseadas na natureza?

Mesmo que algumas empresas tenham sido pioneiras no investimento em soluções baseadas na natureza para segurança hídrica, projetos em grande escala não recebem o investimento necessário.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o Serviço Florestal estima que cerca de 25,5 milhões de hectares de florestas nacionais e áreas de pastagem (muitas das quais localizadas a montante de instalações corporativas) estão sob risco alto ou muito alto de incêndios, e 32,3 milhões de hectares precisam de restauração. Essas áreas florestais são a fonte de aproximadamente metade do abastecimento de água dos EUA, mas, devido a dificuldades de financiamento e outras restrições, apenas uma pequena parcela das áreas em alto risco é restaurada a cada ano. No ritmo atual, levará décadas para o país vencer esse atraso na restauração. Enquanto isso, incêndios catastróficos continuarão custando bilhões de dólares às empresas e comunidades. Por que ainda é tão difícil levantar o investimento necessário em soluções baseadas na natureza?

Um dos motivos é a falta de incentivos para as empresas. As metas corporativas, mecanismos de classificação de sustentabilidade e estruturas de divulgação costumam priorizar resultados simples, de curto prazo e quantificáveis, que se encaixem em relatórios e metas anuais. Por isso, muitas empresas buscam financiar e divulgar o apoio a projetos de implementação rápida, capazes de gerar resultados e impacto dentro de até um ano. Implementar soluções baseadas na natureza em uma escala significativa pode levar anos entre os processos de planejamento, licenciamento, envolvimento de partes interessadas e captação de recursos – sem falar nas janelas específicas para implementação e construção, que também podem levar vários anos.

Um segundo motivo é que a carteira de projetos baseados na natureza prontos para receber investimento é muito pouco desenvolvida. Mesmo que uma empresa ambiciosa queira investir amplamente em soluções baseadas na natureza, terá dificuldade para encontrar projetos robustos, com análises de impacto, cronogramas claros de licenciamento e financiamento, sistemas de avaliação e monitoramento. Esse é um dos principais gargalos das soluções baseadas na natureza que representam uma oportunidade de inovação e investimento para as empresas.

Por fim, cabe ressaltar que as comunidades ambiental e científica nem sempre deram às empresas sinais claros de que elas deveriam investir em projetos de soluções baseadas na natureza e como fazer isso. Parte das razões para isso remonta a desentendimentos em relação aos créditos de carbono florestais e associados ao uso da terra. A complexidade inerente dos sistemas naturais não pode ser facilmente traduzida em um cálculo de hectares restaurados, visando a resultados quantificáveis desejados. E existem perspectivas diferentes sobre como escolher os locais prioritários, selecionar as abordagens mais eficazes, definir requisitos e medir os avanços.

Como estimular o investimento corporativo em soluções baseadas na natureza

Para romper essas barreiras e atrair mais investimentos corporativos em soluções baseadas na natureza, precisamos de uma série de mudanças fundamentais. (Para os propósitos deste artigo, focamos principalmente em empresas que operam nos Estados Unidos, embora essas soluções possam ser aplicáveis em outros locais.)

1. Parcerias corporativas ambiciosas e de longo prazo

Em primeiro lugar, as empresas devem continuar a tomar a iniciativa, abrindo caminhos para projetos baseados na natureza em uma escala maior e com prazos mais longos do que as iniciativas corporativas de sustentabilidade tradicionais. Isso implica continuar investindo em projetos que vão “além dos limites do terreno” – ou seja, olhar para além de resultados menores de curto prazo e abordar questões que ameaçam a resiliência hídrica de toda uma região.

As empresas podem trabalhar em parceria com desenvolvedores, comunidades e governos para desenvolver (e incentivar) projetos baseados na natureza de larga escala, em vez de investir apenas nas etapas finais de iniciativas já completamente elaboradas. Ao assumir uma postura mais empreendedora e investir na natureza, as empresas podem abrir caminhos (e oportunidades de projetos) que outras corporações, investidores e financiadores podem seguir também. As estruturas de divulgação e classificação corporativa de sustentabilidade precisam ser revisadas para estimular e valorizar as empresas que decidem intensificar suas ações para assumir a liderança.

Algumas empresas já têm feito esse tipo de investimento na escala de bacias hidrográficas. A Procter & Gamble, por exemplo, financiou um trabalho para reduzir o risco de incêndios florestais por meio da restauração de terras e do desbaste de florestas excessivamente densas em uma área inicial de 80 hectares da Área de Recreação da Bacia de Cristal, na Floresta Nacional Eldorado (Califórnia, EUA). O projeto também aumentará o abastecimento de água para a bacia do Rio Americano. Se tiver êxito desde o início, a iniciativa será um estímulo para mais parcerias em prol da resiliência das bacias hidrográficas em toda a paisagem de 100 mil acres (em torno de 40 mil hectares), localizada ao norte da área atingida pelo incêndio Caldor no ano passado. Um exemplo dessas potenciais parcerias é um compromisso de US$ 1,2 milhão da Sierra Nevada Conservancy.

Meta e a Intel financiaram um projeto para ajudar a restaurar Rito Peñas Negras, um riacho na Floresta Nacional de Santa Fé, no Novo México. O projeto envolve a instalação de estruturas que imitam a função hidrológica e ecológica das represas feitas naturalmente por castores. Essas estruturas ajudarão a espalhar o fluxo de água para os prados adjacentes e, assim, criar zonas úmidas e aumentar a recomposição das águas subterrâneas.

Google também forneceu um apoio essencial para uma área de 22,1 mil hectares na Floresta Nacional Francis Marion, na Carolina do Sul (EUA), onde há previsão de incêndios florestais. Esse projeto, junto a medidas protetivas em prol da conservação, tem o objetivo de reduzir a perda de água por evapotranspiração e, com isso, aumentar o abastecimento, melhorar as funções ecológicas das zonas úmidas, a qualidade da água e a infiltração de águas subterrâneas.

2. Uma carteira robusta de projetos baseados na natureza

Uma variedade de atores precisa aumentar o número de projetos baseados na natureza prontos para receber financiamento das empresas.

Desenvolvedores de projetos (aqueles que planejam e implementam soluções baseadas na natureza – em geral, ONGs locais, negócios ou empreendimentos comunitários) precisam do apoio de governos, cientistas e da sociedade civil na preparação desses projetos – incluindo os processos de planejamento, criação, gestão, pesquisa e desenvolvimento.

Os governos podem ajudar ajustando políticas para agilizar os processos de licenciamento de forma responsável e oferecendo mais recursos para soluções baseadas na natureza. Programas como o U.S. Endowments Healthy Watersheds Consortium Grant Program (em português, “Programa de Concessão de Consórcios para Bacias Saudáveis”) e o Innovative Finance for National Forests Grant Program (em português, “Programa de Concessão de Financiamento Inovador para Florestas Nacionais”) ajudam a financiar projetos hídricos e podem ser um modelo para ampliar o apoio governamental.

As comunidades científica e ambiental também podem apoiar fornecendo aos desenvolvedores as ferramentas e informações de que precisam para maturarem seus projetos. O Cities4Forests, uma iniciativa com mais de 80 cidades-membros, liderada pelo WRI, ajuda a identificar projetos promissores baseados na natureza e oferece apoio técnico para prepará-los para receber investimentos. O Acelerador de Soluções Baseadas na Natureza em Cidades, do WRI Brasil, busca ajudar nesse processo. Projeto semelhante também está sendo realizado na Índia.

3. Ação coletiva

Por fim, todos esses atores devem adotar uma abordagem de ação coletiva e desenvolver parcerias de longo prazo para atingir objetivos conjuntos.

Silk, marca da Danone América do Norte, por exemplo, liderou um esforço corporativo em apoio a um grande projeto de restauração para reduzir os riscos de incêndios florestais e aumentar o escoamento em 19,4 mil hectares da Floresta Nacional Tahoe, na Califórnia (EUA), usando o Título de Resiliência Florestal Yuba II. Nesse projeto, os desenvolvedores trabalham em parceria com agências estaduais e companhias de água e eletricidade locais (como a Yuba Water e o Goveno do Estado da Califórnia) para reduzir os riscos de incêndios florestais e aumentar a produção de água em terrenos públicos a montante de instalações corporativas e regiões de cultivo de matérias-primas. TargetHunter Industries e Caterpillar Foundation também contribuíram com apoio financeiro. Essa abordagem de ação coletiva permite um impacto em maior escala e reduz os custos para todas as entidades, ao mesmo tempo em que fornece o conjunto completo de benefícios desejados.

Como serão os próximos investimentos?

Uma vez que os impactos das mudanças climáticas, da escassez de água e do consumo excessivo de água são cotidianos, fica cada vez mais claro que o desafio global da água exige uma transição de ações transacionais de impacto isolado para estratégias transformacionais de impacto coletivo. As empresas têm um potencial inexplorado para realizar mudanças sistêmicas em larga escala que também podem beneficiar seus próprios resultados.

É hora de as empresas investirem em soluções baseadas na natureza para promover a segurança hídrica. Para saber mais, entre em contato com as equipes do WRI, BEF e BFC.


Todd Reeve é o CEO da Bonneville Environmental Foundation (BEF). Sara Hoversten é Diretora de Negócios para Gestão Hídrica da Bonneville Environmental Foundation (BEF). Phil Saksa é cofundador e cientista-chefe da Blue Forest.

Aviso legal: Caterpillar Foundation, Danone, Google, Meta, Procter & Gamble e Target Corporation são doadores do WRI. O WRI e a BEF recebem recursos de US Endowment, National Forest Foundation e US Forest Service IFNF para impulsionar ações coletivas e ampliar os investimentos em bacias hidrográficas capazes de conectar e impulsionar contribuições corporativas, estaduais e de serviços públicos para as Terras Florestais Nacionais.

Este texto foi originalmente publicado por WRI Brasil de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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