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Dados abertos sobre florestas tropicais podem não ser justos quando pesquisadores dos países onde são gerados têm dificuldades para usá-los, alertam pesquisadores em artigo.

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Dados abertos sobre florestas tropicais, ou seja, aqueles que seguem princípios de acessibilidade e reutilização, podem não ser necessariamente justos quando os pesquisadores dos países onde são gerados têm dificuldades para usá-los. O alerta é feito em um artigo de opinião assinado por 27 cientistas de 25 países, que aponta a concentração desses dados em instituições dos Estados Unidos e Europa e faz sugestões para tornar seu acesso mais justo, como treinamento de recursos humanos, fortalecimento de instituições nos locais de coleta e garantia de empregos mais seguros para os trabalhadores florestais. O artigo Making forest data fair and open tem dois pesquisadores do Instituto de Biociências (IB) da USP entre os autores e foi publicado no site Nature Ecology & Evolution no último dia 11 de abril.

“O artigo aborda dados de inventário e monitoramento de longo prazo da estrutura, composição e diversidade de florestas tropicais, que são os dados de base para avaliar a saúde da floresta e os serviços ecossistêmicos que eles nos fornecem”, afirma o pesquisador Renato Augusto Ferreira de Lima, do IB, atualmente no Centro de Síntese e Análise da Biodiversidade da França, um dos autores do artigo, também assinado pelo professor Alexandre Adalardo de Oliveira, do Departamento de Ecologia do instituto.

Os princípios orientadores FAIR para gerenciamento e administração de dados científicos foram publicados em 2016 na revista Scientific Data. O objetivo era fornecer diretrizes para melhorar o Rastreamento, Acessibilidade, Interoperabilidade e Reutilização (na sigla em inglês FAIR,  Findability, Accessibility, Interoperability, and Reusability) de ativos digitais.

“No caso dos dados abertos sobre florestas tropicais, o artigo mostra que apenas seguir os princípios do FAIR não necessariamente torna os dados justos”, aponta o pesquisador. “Os profissionais que geram essas informações, que geralmente estão em instituições nos trópicos e que tem múltiplas dificuldades em gerá-las, não têm a mesma oportunidade de uso que as pessoas que querem usar esses dados para realizar sínteses em escalas regionais e globais, os quais, em geral, se encontram em instituições dos Estados Unidos e Europa.”


Acesso

“Alguns tipos de dados sobre florestas tropicais já estão nesse formato, em especial os dados de registro de espécies em herbários e museus, e os dados de sequências de DNA”, relata Lima. “Os dados de monitoramento de florestas tropicais estão abertos [FAIR] em alguns países, mas, em geral, eles se encontram em bases de dados nas quais é necessário fazer uma consulta prévia e um pedido de autorização antes do uso dos dados. Essa consulta é feita para evitar sobreposições entre estudos científicos em andamento, mas também para evitar a chamada ciência neocolonial.” Quando a coleta de dados é feita sem a participação de pesquisadores dos países em que são realizados os estudos, a prática é chamada de ciência neocolonial.

O artigo procura alertar a comunidade de usuários de dados sobre florestas tropicais sobre os desafios e problemas ligados à instalação, mensuração e monitoramento de longo prazo neste tipo de ecossistema. “Essa situação é especialmente problemática quando tratamos sobre dados de biodiversidade, que se concentra nos trópicos, pois os países e regiões com maior ocorrência de florestas tropicais e, portanto, de biodiversidade são, de maneira geral, aqueles com menor investimento em ciência e tecnologia”, ressalta o pesquisador.

O texto sugere oito condutas para auxiliar no processo de tornar os dados de florestas tropicais mais justos. “Em linhas gerais, é proposta uma abordagem na qual o financiamento cubra não apenas os custos de aquisição e manutenção dos dados, mas também de treinamento de recursos humanos, de fortalecimento das instituições locais e de garantia de empregos mais seguros para os trabalhadores florestais”, conta Lima. “O trabalho foi assinado por 25 pesquisadores de 27 instituições e universidades de Brasil, Peru, Colômbia, Argentina, Camarões, Congo, Vietnã, Estados Unidos, Holanda, Venezuela, Reino Unido, Bolívia e Serra Leoa. No entanto, acreditamos que o número de pesquisadores que compartilham dessas ideias é bem maior.”

Este texto foi originalmente publicado por Jornal da USP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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