A dieta mediterrânea, única com benefícios cognitivos comprovados em ensaio randomizado, é caracterizada pelo alto consumo de vegetais, frutas, grãos integrais, azeite de oliva e peixes.
Uma alimentação inspirada nos hábitos dos países do Mediterrâneo pode ser uma poderosa aliada contra o declínio cognitivo, especialmente para pessoas com maior predisposição genética ao Alzheimer. É o que revela uma investigação conduzida por instituições de prestígio, incluindo a Mass General Brigham e a Universidade Harvard. A pesquisa demonstra que a adoção desse padrão alimentar está associada a um risco menor de demência e a uma desaceleração na perda de funções cognitivas ao longo do tempo.
O estudo, publicado na revista Nature Medicine, analisou dados de longo prazo de milhares de profissionais de saúde. Foram acompanhadas 4.215 mulheres a partir de 1989 e 1.490 homens a partir de 1993. Os investigadores avaliaram a adesão à dieta mediterrânea por meio de questionários detalhados de frequência alimentar e examinaram amostras de sangue para identificar metabólitos, moléculas que refletem como o corpo processa os alimentos.
A análise genética dos participantes permitiu categorizar o risco herdado para a doença de Alzheimer. Um gene específico, a apolipoproteína E (APOE), recebeu atenção especial. Indivíduos que carregam duas cópias da variante APOE4 possuem um risco até doze vezes maior de desenvolver a forma esporádica da doença, que surge tardiamente e é a mais comum.
Os resultados foram expressivos. O efeito protetor da dieta mostrou-se mais forte justamente no grupo de alto risco genético. Isso indica que a nutrição pode atuar como um fator modulador, capaz de contrabalançar uma vulnerabilidade genética significativa. A herditabilidade do Alzheimer é estimada em até 80%, o que torna a descoberta especialmente relevante.
Os autores do trabalho ponderam que a investigação tem limitações. A coleta de dados foi realizada majoritariamente com indivíduos de ascendência europeia e alto nível de escolaridade, o que demanda a replicação dos estudos em populações mais diversas. Além disso, a genética e a metabolômica ainda não são ferramentas de uso corrente na prática clínica para a previsão de risco da doença.
A dieta mediterrânea, única com benefícios cognitivos comprovados em ensaio randomizado, é caracterizada pelo alto consumo de vegetais, frutas, grãos integrais, azeite de oliva e peixes, com ingestão moderada de laticínios e baixo consumo de carnes vermelhas e processadas. O estudo sugere que essa estratégia alimentar influencia vias metabólicas fundamentais para a saúde do cérebro.
Especialistas enfatizam que a recomendação é válida para a população em geral, mas assume importância redobrada para quem tem histórico familiar ou predisposição genética conhecida para demência. Futuras pesquisas devem explorar como intervenções dietéticas direcionadas a metabólitos específicos podem oferecer uma abordagem personalizada para a prevenção do declínio cognitivo.
Referência do estudo:
Liu, Y. et al. Interplay of genetic predisposition, plasma metabolome, and Mediterranean diet in dementia risk and cognitive function. Nat Med (2025). DOI: 10.1038/s41591-025-03891-5.