Embora leve séculos para desaparecer, ainda há muitas dúvidas sobre quanto tempo o plástico realmente permanece no meio ambiente
Você já se perguntou o que é o tempo de decomposição do plástico? Esse termo se refere ao período que um material leva para desaparecer da natureza. No caso do plástico, esse processo pode demorar muito. Enquanto o tempo passa, ele continua presente no ambiente. Afeta o solo, a água e até a saúde de pessoas e animais quando é descartado de forma incorreta.
Grande parte das embalagens de plástico que consumimos podem ser recicladas, entrando novamente na cadeia de produção. A reciclagem poderia livrar o meio ambiente de um amontoado de resíduos cuja decomposição levará milhares de anos. A reciclagem desse material ajuda a diminuir o lixo produzido e garante uma melhor utilização dos recursos naturais do planeta. No entanto, a prática ainda é baixa e nem todos os tipos de plástico são recicláveis.
Quanto tempo o plástico leva para se decompor
Um dos focos de estudo da Química está no estabelecimento de relações entre a constituição e as propriedades dos materiais, seu uso em produtos e os impactos associados aos processos de transformação e circulação no ambiente. Ao trabalhar com a relação entre materiais e o impacto ambiental causado pelo seu descarte, é comum encontrar tabelas que listam o tempo necessário para a decomposição de cada um na natureza.
Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, o resíduo plástico pode levar mais de 400 anos para se decompor. No entanto, não há informações concretas a respeito do tempo de decomposição de cada tipo de plástico. Por isso, existem estudos que estimam o tempo de decomposição de diferentes materiais plásticos, tais como:
- Saco plástico: 20 anos;
- Copo de espuma plástica: 50 anos;
- Canudo: 200 anos;
- Garrafa plástica PET: 450 anos;
- Fralda descartável: 450 anos;
- Linha de pescar: 600 anos.

Por que o plástico demora tanto para se decompor?
A principal razão para o tempo de decomposição do plástico ser tão longo é que a natureza ainda não sabe como se livrar dele. Bactérias e fungos que decompõem os materiais não tiveram tempo de desenvolver enzimas para degradar a substância. É o que afirma a engenheira química Marilda Keico Taciro, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). Cada uma das moléculas de um item plástico possui centenas de milhares de átomos, principalmente carbono e hidrogênio. Como as ligações entre os átomos são muito estáveis, os decompositores não conseguem quebrar o material em partes menores para destruí-lo.
Impactos do plástico no meio ambiente
As enormes quantidades de plástico produzidas no mundo, a dependência da população em relação a esse material, seu alto tempo de decomposição e a incapacidade de lidar suficiente e ecologicamente com esses materiais têm alarmado organismos internacionais, ONGs, ativistas, membros da sociedade civil e governos.
Os plásticos podem atrapalhar a vida de animais marinhos de diferentes formas. Seja por meio do entrelaçamento com objetos, seja a partir da ingestão desses materiais. Ou ainda pela própria interação com o plástico, que colide com espécies marinhas, gerando escoriações ou obstruindo a passagem.
Efeitos dos microplásticos nos oceanos
No caso dos microplásticos, o maior problema está na ingestão pelos organismos marinhos. Como ainda há poucos estudos sobre esse tema, fala-se em “efeitos potenciais”. Eles podem ir do nível celular à ecossistemas inteiros. Alguns estudos encontraram evidências de que a ingestão de microplásticos pode afetar a caça e a captura de presas. Isso porque o material pode ser confundido com alimento, ocupar espaço no sistema digestivo do animal e levar à diminuição de sinais de fome. Dessa maneira, o animal pode ter queda de energia, ter o crescimento inibido e sofrer impactos na fertilidade. Além, claro, da possibilidade de morte.

Além de poluir e contaminar o solo, quando descartado de forma incorreta, o lixo plástico entope valas e bueiros. Esse descarte agrava enchentes e desabrigam pessoas, principalmente em regiões periféricas. A poluição visual também é outro malefício causado pelos resíduos plásticos.
Por que faltam dados sobre o tempo de decomposição do plástico?
Atualmente, a poluição por plásticos é uma das questões ambientais mais visíveis e complexas. As partes interessadas e preocupadas incluem pesquisadores, agências governamentais, organizações não governamentais, indústria, mídia e o público em geral. Uma das principais premissas por trás da questão é que os plásticos duram indefinidamente no ambiente. Isso resulta na exposição crônica que prejudica animais e seres humanos. Mas os dados que sustentam essa suposição são escassos.
Um entendimento preciso da persistência de produtos plásticos no ambiente é fundamental para compreender melhor a questão. Os consumidores precisam de informações confiáveis sobre o tempo de decomposição do plástico para fazer escolhas informadas. Os pesquisadores precisam dessas informações porque a persistência é um fator-chave nos modelos que prevêem quanto lixo plástico há no ambiente e onde ele reside; bem como os riscos associados a essa poluição. Já os legisladores precisam dessas informações para desenvolver políticas baseadas em evidências que proíbem o uso de plásticos nos níveis local, nacional e internacional.
O que dizem os estudos mais recentes
Os cientistas Collin Ward e Christopher Reddy analisaram 57 infográficos diferentes publicados por agências governamentais, organizações sem fins lucrativos, instituições acadêmicas e outros grupos de 13 países e em quatro idiomas. “Quando procuramos e checamos cada um desses valores relacionados a quanto tempo um pedaço de plástico leva para se decompor no meio ambiente, não conseguimos encontrar uma fonte aceitável ou com credibilidade que suportasse esses gráficos”, diz Reddy.
Os cientistas começaram a investigação como resultado de seu próprio trabalho de laboratório – Ward e Reddy são químicos que estudam o tempo de decomposição do plástico no ambiente. É uma questão importante, diz Reddy, porque evidências emergentes indicam que diferentes tipos de plástico podem se decompor muito mais rápido ou mais devagar sob diferentes condições ambientais. Assim, a exposição à luz solar ou a escuridão, ou a certos tipos de bactérias, podem influenciar na decomposição.
A falta de dados intrigou os cientistas, por isso eles fizeram uma pesquisa bibliográfica, recrutaram a ajuda de um bibliotecário de pesquisa e procuraram diretores de programas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) para rastrear a ciência por trás dos números. Eles não encontraram nenhum dado confiável.
Law e Reddy enfatizam que a falta de dados não é uma licença para poluir, já que cientistas encontraram plástico no oceano com décadas de idade, então sabe-se que ele pode durar muito tempo. Os seres humanos despejam de 4,8 a 12,7 milhões de toneladas métricas de plástico no oceano a cada ano, e os cientistas têm levantado preocupações sobre os efeitos dos microplásticos sobre a saúde no mar e no ar.
Alternativas ao plástico e práticas sustentáveis
A disposição correta do lixo é fundamental para que materiais recicláveis não permaneçam no ambiente causando danos às espécies. Portanto, é primordial termos consciência ecológica e repensarmos nossos hábitos de consumo. O tempo de decomposição de cada material deve influenciar em nossas decisões de compra e na destinação que damos aos produtos.
O Princípio dos 3R’s – reduzir, reutilizar e reciclar apresenta-se como uma solução viável aos problemas relacionados com o lixo. Trata-se de uma proposta sobre hábitos de consumo, popularizada pela organização ambientalista Greenpeace, que visa desenvolver ações mais sustentáveis. Além disso, as embalagens biodegradáveis têm sido apontadas como uma outra saída para os impactos ambientais causados pelo lixo, já que elas podem se decompor em semanas ou meses.
Vale ressaltar que os impactos causados pelo plástico à saúde e ao meio ambiente são comprovados cientificamente. Isso significa que, independente da falta de dados a respeito do tempo de decomposição do plástico, é importante que ocorra uma diminuição no consumo de produtos feitos desse material.