Estudo revela que espaços naturais são fundamentais para o bem-estar mental e devem ser tratados como infraestrutura essencial
A pandemia de COVID-19 escancarou uma realidade que pesquisadores já suspeitavam: áreas de recreação ao ar livre não são apenas opções de lazer, mas sim componentes vitais para a saúde pública. Uma pesquisa conduzida pela Universidade Estadual de Oregon, nos Estados Unidos, demonstrou que o acesso a parques, trilhas e até mesmo ruas arborizadas teve impacto direto na redução do estresse e de sintomas depressivos durante o período mais crítico da crise sanitária. Os resultados reforçam a necessidade de políticas públicas que garantam a manutenção desses espaços, especialmente em momentos de emergência.
O estudo, publicado na revista PLOS One, analisou os hábitos de adultos norte-americanos no início de 2021, quando a segunda onda de infecções atingiu seu pico e a vacinação ainda estava em fase inicial. Os dados revelaram que 68% dos entrevistados recorreram a atividades próximas de casa, como caminhadas e jardinagem, enquanto apenas 32% mantiveram práticas esportivas ou de contato com a natureza em locais mais distantes. Caminhar sozinho representou 57% de todas as atividades relatadas, um reflexo das restrições impostas pela pandemia.
Xiangyou Shen, professora assistente da Faculdade de Florestas da Universidade Estadual de Oregon e líder do projeto Play2Cope, destacou que a redução no tempo dedicado a atividades externas esteve associada a níveis mais altos de estresse e depressão. Em contrapartida, aqueles que mantiveram ou aumentaram sua frequência em espaços abertos apresentaram melhores indicadores de bem-estar mental. A pesquisa também expôs disparidades preocupantes: grupos minoritários e pessoas em situação financeira instável foram os que mais reduziram suas atividades ao ar livre, agravando desigualdades já existentes no acesso a áreas verdes.
A regra 3-30-300, que preconiza três árvores visíveis de cada residência, 30% de cobertura vegetal nos bairros e um parque a menos de 300 metros de distância, ganha relevância diante desses achados. Bairros com maior infraestrutura verde se tornaram verdadeiros refúgios para a saúde mental durante o isolamento social. No entanto, muitas comunidades carentes continuam sem acesso adequado a esses recursos, um problema que demanda ações imediatas de planejamento urbano.
Entre as recomendações do estudo está a criação de campanhas públicas que incentivem a adaptação de hábitos recreativos em momentos de crise, como a flexibilização de horários em parques e a identificação de áreas subutilizadas que possam ser convertidas em espaços de lazer. A pesquisa também sugere que gestores públicos revisem protocolos de fechamento de áreas externas em futuras emergências sanitárias, priorizando sua manutenção com adaptações de segurança.
Os resultados deixam claro que a recreação ao ar livre deve ser encarada como uma ferramenta de medicina comportamental, tão essencial quanto hospitais e unidades básicas de saúde. Enquanto o mundo se prepara para possíveis novas pandemias, garantir o acesso equitativo a esses espaços pode ser decisivo para mitigar crises de saúde mental em larga escala.