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Estudos revelam como o comércio de animais vivos facilita a propagação de vírus e desafia a saúde global

Em meio ao calor úmido de Jacarta, o mercado de Jatinegara exala um cheiro pungente de urina, fezes e suor animal. Gaiolas empilhadas abrigam morcegos, cães-guaxinins, macacos e pássaros, provenientes de diversas regiões da Indonésia e além. Esse cenário, comum em mercados de animais vivos ao redor do mundo, representa um terreno fértil para vírus evoluírem e saltarem para humanos, potencialmente desencadeando novas pandemias.

Apesar dos alertas de especialistas em saúde pública, o comércio de animais silvestres continua a movimentar bilhões de dólares anualmente. A proximidade entre espécies diferentes, condições precárias de higiene e o fluxo intenso de pessoas transformam esses locais em verdadeiros laboratórios de mutações virais. Um exemplo recente é a pandemia de COVID-19, que muitos pesquisadores associam a mercados de animais vivos, como o de Wuhan, na China. Mesmo com proibições, a atividade persiste, muitas vezes de forma clandestina.

Pangolins e coronavírus: uma ligação perigosa

No Parque Nacional de Cuc Phuong, no Vietnã, veterinários cuidam de um pangolim resgatado de traficantes. O animal, cujas escamas são ilegalmente cobiçadas na medicina tradicional chinesa, apresenta ferimentos graves e sinais de infecção. Pesquisas já identificaram coronavírus em pangolins confiscados, alguns geneticamente próximos ao SARS-CoV-2. Embora não sejam a origem direta da COVID-19, esses vírus demonstram como o tráfico de animais silvestres facilita a circulação de patógenos perigosos.

Estudos no Vietnã e na Malásia mostram que a taxa de detecção de coronavírus aumenta ao longo da cadeia de comércio. Roedores vendidos em mercados, por exemplo, apresentam dez vezes mais vírus do que os capturados na natureza. Isso sugere que o estresse, o confinamento e a mistura de espécies nos mercados criam condições ideais para a propagação de doenças.

Comportamento humano e riscos ocultos

A forma como as pessoas lidam com animais doentes também preocupa os pesquisadores. Em comunidades rurais da Indonésia e do Vietnã, caçadores que contraem infecções por arranhões ou mordidas de morcegos muitas vezes evitam hospitais, optando por remédios caseiros. Relatos de surtos misteriosos no passado reforçam a necessidade de entender melhor essas dinâmicas.

Proibir o comércio sem oferecer alternativas, no entanto, pode piorar a situação. Durante o surto de Ebola na África Ocidental, a proibição do consumo de carne selvagem levou a atividade para a clandestinidade, aumentando a desconfiança em relação às autoridades. Cientistas defendem abordagens que combinem vigilância sanitária, educação e apoio econômico para reduzir riscos sem prejudicar comunidades que dependem do comércio de animais.

Festivais e picos de risco

No mercado de Langowan, na Indonésia, pesquisadores mapearam uma rede complexa de fornecedores que transportam até um milhão de morcegos por ano. Durante festivais, as vendas podem quintuplicar, com mais de 10 mil animais comercializados em um único dia. Esses períodos representam momentos críticos para a disseminação de vírus, exigindo atenção redobrada das autoridades.

Para especialistas, investir em pesquisas sobre o comércio de animais silvestres é fundamental para prevenir futuras pandemias. Sem entender como os vírus se espalham nesses ambientes, a humanidade continua vulnerável a surtos imprevisíveis. Enquanto o mercado de Jatinegara e outros similares permanecerem ativos, o risco de uma nova crise sanitária global seguirá à espreita.

Fonte: Nature


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