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Usinas a gás seguem como maiores emissoras e Petrobras perde o primeiro lugar em geração, dados inéditos são do novo inventário do Instituto de Energia e Meio Ambiente

Por IEMA | A geração de eletricidade a partir de usinas termelétricas a combustíveis fósseis voltou a crescer no Brasil em 2024, após dois anos de retração, e resultou em um aumento expressivo das emissões de gases de efeito estufa (GEE). É o que mostra o “5° Inventário de Emissões Atmosféricas em Usinas Termelétricas”, publicado pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) na quarta-feira (dia 17). De acordo com o documento que analisou as 67 usinas termelétricas fósseis conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN), essas plantas emitiram 23,2 milhões de toneladas de gás carbônico equivalente (tCO₂e) no ano – maiores do que a soma das emissões totais dos estados de Sergipe e Rio Grande do Norte juntas, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima –, um crescimento de 29% em relação a 2023.

O sistema elétrico voltou a recorrer às usinas termelétricas fósseis para garantir potência e estabilidade operativa, em um contexto de desafios estruturais associados à integração da crescente geração eólica e solar ao SIN. A geração termelétrica fóssil total passou de 64 TWh em 2023 para 74,4 TWh em 2024, um aumento de 17%. 

Considerando apenas as usinas fósseis que efetivamente injetaram eletricidade no Sistema Interligado Nacional (SIN), a geração inventariada somou 39,5 TWh, com predominância do gás natural (75%), seguido pelo carvão mineral (23%), enquanto óleo combustível e óleo diesel tiveram participação residual, inferior a 2%. Ao todo, as 43 plantas a gás natural geraram 29,8 TWh.

O aumento do acionamento termelétrico ocorreu em um ano de crescimento histórico da geração de eletricidade no país, com expansão de 43 TWh em 2024, que levou a geração total do SIN a cerca de 751 TWh – considerando o consumo médio residencial de 165 kWh/ mês, esse valor seria suficiente para abastecer 21,5 milhões de residências por um ano. Em 2023, este número era de 708 TWh. Esse crescimento foi sustentado principalmente pelas fontes solar e eólica, responsáveis por 108 TWh (14%) e 71 TWh (9%) da geração nacional, respectivamente.

É relevante salientar que a Eneva ultrapassou a Petrobras e, pela primeira vez, tornou-se a maior geradora de termoeletricidade fóssil do SIN. A empresa ampliou seu portfólio fóssil em quase 860 MW de potência instalada, com a aquisição das usinas capixabas Luiz Oscar Rodrigues de Melo (240 MW), Povoação 1 (75 MW), Viana (175 MW) e Viana I (37 MW), anteriormente vinculadas ao BTG Pactual, além das usinas Geramar I e II, com 166 MW cada, também sob participação majoritária do banco. Até então, desde 2020, primeiro ano-base dos inventários do IEMA, a Petrobras liderava o ranking de geração fóssil.

Veja os principais pontos destacados pelo estudo:

  • Quase a totalidade das emissões inventariadas (97%) foi proveniente de 34 usinas, o que representa cerca de metade das plantas fósseis conectadas ao SIN;
  • Apenas cinco usinas responderam por mais de 40% da geração termelétrica inventariada: Parnaíba I + Parnaíba V (Maranhão), com 4,4 TWh (11,1%); Mauá 3 (Amazonas), com 3,6 TWh (9,1%);  Marlim Azul (RJ), com 2,9 (7,4%); Termorio (RJ), com 2,7 TWh (6,7%), e Parnaíba II (Maranhão), com 2,4 TWh (6,0%);
  • A UTE Pampa Sul (RS) foi a maior emissora individual do ano, concentrando 11% das emissões totais, com 2,5 milhões de tCO₂e. Em seguida, também se destacaram entre as maiores emissoras as usinas Jorge Lacerda IV (SC), Parnaíba I e V (MA), Candiota III (RS) e Mauá 3 (RJ), evidenciando o peso das unidades a carvão. No total, cinco das dez usinas com menores eficiências são movidas a carvão mineral, cuja eficiência média ficou em torno de 33%;
  • Cinco empresas responderam por cerca de 67% da geração inventariada: Eneva (21,7%), Petrobras (17,8%), Eletrobras (11,9%), Fram Capital (10%) e Électricité de France, EDF (5,6%). A exceção da EDF, substituída pela J&F Investimentos, esse mesmo grupo concentrou 65% das emissões de GEE, com destaque para Fram Capital Energy, Eneva e Petrobras;
  • As maiores taxas específicas de emissão foram observadas entre empreendedores com usinas a carvão mineral como Copel, J&F, Perfin, Starboard e Fram Energy, cujos índices ficaram próximos ou acima de 1.000 tCO₂e/GWh.

“Os dados do inventário mostram que, mesmo em um contexto de forte expansão das renováveis, o despacho fóssil seguiu acionado. É fundamental construir caminhos que reduzam gradualmente a dependência dessas fontes fósseis de geração de energia, permitindo que o sistema renovável assuma um papel central, alinhado às metas de redução de emissões do país e à segurança do suprimento”, afirma a pesquisadora do IEMA Raissa Gomes, coordenadora do estudo.

Apesar de a geração termelétrica fóssil ter representado cerca de 10% da matriz elétrica em 2024, observa-se a manutenção de níveis elevados de produção e a continuidade da proposição de novos empreendimentos. “O desafio, portanto, não se limita às emissões observadas em um determinado ano, mas ao comprometimento estrutural do sistema elétrico brasileiro com ativos fósseis de longo prazo”, completa a pesquisadora.

A elaboração do inventário também evidenciou limitações na disponibilidade e na qualidade das informações públicas sobre emissões atmosféricas e desempenho ambiental das usinas termelétricas e de seus proprietários. Em diversos casos, a ausência ou inconsistência de dados oficiais dificulta análises mais detalhadas e o acompanhamento contínuo dos impactos ambientais do setor, reforçando a necessidade de maior transparência e padronização das informações ambientais.

Estados e municípios mais emissores

A geração termelétrica fóssil em 2024 esteve concentrada territorialmente em poucos estados. Rio de Janeiro, Maranhão, Amazonas, Santa Catarina e Rio Grande do Sul responderam conjuntamente por 88% da geração fóssil nacional. O Rio de Janeiro destacou-se como o maior emissor estadual, concentrando cerca de 23% das emissões inventariadas, o equivalente a 5,3 milhões de tCO₂e.

No recorte municipal, cinco municípios responderam por 70,5% das emissões de GEE associadas às termelétricas fósseis em 2024: Candiota (RS), Capivari de Baixo (SC), Manaus (AM), Santo Antônio dos Lopes (MA) e Duque de Caxias (RJ). A elevada concentração espacial das emissões reforça a importância do monitoramento ambiental local, especialmente em municípios que acumulam grandes complexos termelétricos e impactos associados à qualidade do ar.

Poluentes do ar

As dez termelétricas com maiores emissões de óxidos de nitrogênio (NOx) estão distribuídas pelos municípios de Capivari de Baixo (SC), Candiota (RS), Duque de Caxias (RJ), São Gonçalo do Amarante (CE), Santo Antônio dos Lopes (MA), Cubatão (SP), Porto do Itaqui (MA) e Viana (ES), evidenciando a concentração de fontes relevantes de poluição atmosférica em diferentes regiões do país. Apesar disso, dos 39 municípios contemplados neste inventário, 13 não contam com estações oficiais de monitoramento da qualidade do ar, o que revela a defasagem e a insuficiência da rede brasileira de monitoramento para acompanhar adequadamente os impactos dessas emissões.


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