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Por IPAM | Municípios como Balsas, no Maranhão, que registrou um aumento de mais de 100% na perda de vegetação nativa, Correntina (BA), que liderou no mês de outubro, e os tocantinenses Paranã, Rio Sono, Ponte Alta do Tocantins e Lizarda aparecem como os destaques negativos nos dados do SAD Cerrado (Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado) divulgados nesta quinta-feira, 15, pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia). Entre outubro e novembro, o Cerrado perdeu 115.694 hectares de vegetação nativa, o que equivale ao desmatamento de quase dois mil campos de futebol por dia, ou a área total de Palmas no período.

“É interessante olhar para a abertura de grandes áreas nesses municípios, para além daqueles que já são ‘figurinha carimbada’. Assim, podemos estudar como o desmatamento se comporta no Cerrado e quais são as tendências de expansão”, diz Juan Doblas, pesquisador no IPAM responsável pelo SAD Cerrado.

O SAD Cerrado é desenvolvido pelo IPAM em parceria com a rede MapBiomas e com o Lapig (Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento), da UFG (Universidade Federal de Goiás).

O desmatamento no bioma se mantém praticamente no mesmo e elevado patamar observado em outubro e novembro do ano passado, quando 110.873 hectares foram desmatados. Segundo pesquisadores, essa é uma época do ano na qual já deveria ser observada uma queda mais acentuada na atividade, depois dos meses de seca em que o desmatamento do Cerrado chega ao ápice.

“O ano está acabando e o Cerrado continua com altas taxas de desmatamento, sendo que, mais uma vez, mais da metade do que foi desmatado no bioma está no Matopiba, apontando, inclusive, para um novo aumento do ritmo de desmatamento dentro dessa região”, avalia Ane Alencar, diretora de Ciência no IPAM. 

A fronteira agrícola do Matopiba compreende 337 cidades dos estados Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, com produção majoritária de soja, milho e algodão. Em outubro e novembro deste ano, a região concentrou 54%, ou 62.648 hectares, do desmatamento no Cerrado. No mesmo período do ano passado, teve 57%, ou 64.083 hectares, do total desmatado (ver Mapa).

Localização dos municípios que mais desmataram no período, em relação ao bioma (em marrom) e à região MATOPIBA (em vermelho).

Estados e municípios

Tocantins é o segundo estado mais desmatado no bimestre, com 21.419 hectares derrubados, atrás de Maranhão, com 31.481 hectares. Mato Grosso e Goiás quase se equivalem na sequência, com 14.159 e 13.231 hectares, respectivamente. Piauí (11.138 ha), Minas Gerais (8.550 ha), Mato Grosso do Sul (7.902 ha) e Bahia (6.746 ha) fecham a lista. Os maiores aumentos em relação a outubro e novembro do ano passado foram nos estados Mato Grosso (182%), Mato Grosso do Sul (127%) e Maranhão (24,71%).

Entre as cidades, Balsas (MA) tem o maior desmatamento do Cerrado: 2.776 hectares no período. É seguida por: Paranã (TO), com 1.782 ha; Rio Sono (TO), com 1.710 ha; Caxias (MA), com 1.518 ha; Correntina (BA), com 1.497 ha; Alto de Parnaíba (MA), com 1.452 ha; Ponte Alta do Tocantins (TO), com 1.445 ha; e Lizarda (TO), com 1.079 ha derrubados. Balsas (MA) teve a maior alta em relação a 2021, com 106,5% de aumento na área desmatada.

Cabe um destaque também para Correntina (BA), que no mês de outubro sofreu um grande aumento nas áreas desmatadas, e foi de fato o município que mais desmatou neste mês em todo o bioma. Movimentos sociais denunciaram recentemente um aumento das invasões e devastação em áreas de uso tradicional, justamente nesta região.

A área média dos alertas de desmatamento no período foi de 7,6 hectares, sendo que o maior desmatamento detectado no período ocorreu no município de Balsas (MA), em uma área total de 1.330 ha, muito próxima do Rio das Balsas, maior afluente do Rio Parnaíba.

Esse tipo de desmatamento de grandes proporções, próximo de importantes cursos d’água, pode afetar a qualidade e a quantidade fornecida às populações à jusante dessas áreas, conforme afirma pesquisa recentemente publicada pela Universidade de Brasília (UnB).

Região do Rio das Balsas (MA) afetada por desmatamento massivo, no ano passado, e em uma imagem recente. Imagens ©PlanetScope

CAR e áreas sem informação fundiária

O desmatamento em áreas com CAR (Cadastro Ambiental Rural) continua sendo o maior entre todas as demais categorias fundiárias. Dos 115.694 hectares de Cerrado desmatados em outubro e novembro, 75,8%, ou 87.710 ha, estavam dentro de áreas privadas com CAR.

As áreas sem informação fundiária, que não têm uma determinação de uso público pelos governos federal ou estaduais, tampouco posse privada, são a segunda categoria fundiária com maior desmatamento: 16%, ou 18.546 ha, foram derrubados. Áreas sem informação fundiária ocupam 13,5% do Cerrado e o desmatamento nesses locais tem preocupado especialistas, que avaliam a situação como indicativo do avanço da grilagem, que ganhou margem com a fragilização de estruturas de gestão ambiental. 

Vegetação nativa desmatada

A vegetação do tipo savana, predominante no Cerrado, foi a mais desmatada (50,4%) no período, seguida pelos campos (38,1%) e pelas formações florestais (11,5%) do bioma. É preocupante a proporção de área desmatada nas ricas formações campestres do Cerrado, que apesar de representar apenas 14% do total de áreas de vegetação nativa no bioma, sofreram 38% da conversão entre outubro e novembro, ou 44 mil hectares. 

Recentemente, uma lei aprovada pela União Europeia proíbe a importação de produtos relacionados ao desmatamento. Contudo, a legislação considera apenas florestas, ou seja, a maior parte da vegetação nativa do Cerrado (73,3%) e 88,5% da área desmatada nestes últimos dois meses não estariam contemplados pela lei.

 Serviço

O relatório de alertas do SAD Cerrado para os meses de outubro e novembro, bem como para outras séries temporais, está disponível neste link. No painel interativo, é possível selecionar estado, município, categoria fundiária e intervalo para análise.

Os dados georreferenciados podem ser baixados neste link.

 Sobre o SAD Cerrado

O Sistema de Alerta de Desmatamento do Cerrado foi lançado em 12 de setembro pelo IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) em parceria com a rede MapBiomas e com o Lapig (Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento), da UFG (Universidade Federal de Goiás), e está disponível para acesso aberto em plataforma virtual. O SAD Cerrado funciona por meio de inteligência artificial e utiliza imagens do satélite Sentinel-2, da Agência Espacial Europeia, com resolução de 10 metros. Em novembro, o sistema foi atualizado para uma segunda versão com melhorias na detecção de grandes áreas desmatadas no bioma.

O objetivo do SAD Cerrado é fornecer alertas de desmatamentos maiores de 1 hectare, atualizados mês a mês em um painel interativo no site da iniciativa. Pesquisadores entendem que o SAD Cerrado pode se constituir como uma ferramenta complementar a outros sistemas de alerta de desmatamento no bioma, como o DETER Cerrado, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), otimizando o processo de detecção em contextos visualmente complexos.

Este texto foi originalmente publicado por IPAM de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.


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