Conheça os grandes desertos do mundo e suas características

Os desertos do mundo formam aproximadamente 34% da superfície da Terra. Apesar de serem  as zonas mais áridas de todo o planeta, eles são habitat de alguns microrganismos, além de espécies de flora e fauna.

Regiões desérticas são definidas de acordo com o nível de precipitações e umidade relativa do ar locais. De modo geral, fatores como baixíssimos níveis de chuvas (máximo de 250 mm por ano), clima árido e ar seco é que caracterizam os desertos do mundo

Por outro lado, os desertos do mundo apresentam uma porção de particularidades que os distingue. Podem ter altas ou baixas temperaturas, superfícies de areia, terra ou ainda, gelo. São habitados por distintos microrganismos, animais e vegetais. No entanto, o que todos eles têm em comum são as condições hostis de sobrevivência para os seres que habitam essas regiões.

Quais são os maiores desertos do mundo?

A quantidade exata de desertos do mundo não é unânime entre os estudiosos. Entretanto, esse número, considerando suas subdivisões, pode passar de 30. 

Os grandes desertos do mundo

Os grandes desertos do mundo estão espalhados pelos seis continentes, são distintos entre si e cada um apresenta características ímpares. Quem abre a lista, com oito dos maiores desertos do mundo, são os desertos polares: 

  • Deserto Polar Ártico: engloba partes do Canadá, Groenlândia, países escandinavos e Rússia. Sua biodiversidade inclui espécies animais como ursos polares, raposas do ártico e pássaros.
  • Deserto do Saara: engloba 11 países norte africanos e é habitat de mais de 760 espécies, incluindo vegetais, mamíferos, répteis, aves e artrópodes.
  • Deserto da Arábia: está localizado no Oriente Médio, incluindo países como Arábia Saudita e Egito. O deserto é rico em espécies de flora e fauna, e abriga comunidades de beduínos, que vivem nessas regiões há milhares de anos.
  • Deserto de Gobi: situado ao norte da China e ao sul da Mongólia. É um deserto frio, de clima continental e longos invernos.
  • Deserto de Kalahari: localizado no sul da África, entre Namíbia, Botsuana e África do Sul. É uma região com grande fluxo turístico, por conta dos safáris.
  • Deserto da Patagônia: é o maior deserto das Américas e ocupa o sul da Argentina e uma pequena parte do Chile. Sua vegetação é composta basicamente por estepes, o clima é frio e os ventos são intensos.
Deserto da Patagônia / Foto de Chris Stenger no Unsplash
  • Grande Deserto de Vitória: é o maior deserto do continente australiano, com regiões de areia vermelha e lagos salgados secos. Foi declarado, pela Unesco, uma Reserva da Biosfera.

Segundo estudiosos, os desertos do mundo possuem os ecossistemas mais vulneráveis às mudanças climáticas. Isso porque o aumento das temperaturas somado à diminuição das chuvas e o aumento de dióxido de carbono na atmosfera, podem causar fortes impactos tanto na estrutura quanto nas funções dos ecossistemas desérticos.

Onde fica o maior deserto do mundo?

Como o aquecimento global afeta os desertos do mundo?

Com a intensificação do aquecimento global, as regiões desérticas podem ter sua biodiversidade suprimida, uma vez que espécies endêmicas (nativas e exclusivas desses biomas) devem sofrer fortes restrições relacionadas a sua adequação ambiental.

Ameaças à biodiversidade dos desertos do mundo

Um artigo, publicado pela Nature, também alertou para o risco de extinção de espécies, principalmente dos desertos do mundo que são quentes. Isso porque, segundo os pesquisadores, espécies que habitam essas regiões, apesar de adaptadas, vivem perto de seus limites fisiológicos, e um aquecimento ainda maior seria letal. 

Além disso, ao contrário do que se imagina, os desertos quentes contam com níveis elevados de variedade biológica incluindo, principalmente, espécies únicas, que não existem em outras regiões do planeta.

O estudo, que analisou o impacto do aumento de temperatura global em comunidades de aves do deserto, afirma que as mudanças no clima já chegaram a um nível em que alteram a distribuição e a abundância de espécies, não apenas nos ecossistemas desérticos, mas em todo o mundo. 

De acordo com os pesquisadores, as aves são espécies ainda mais sensíveis às mudanças climáticas, umas vez que apresentam a maior perda de água, por evaporação, do que qualquer outro animal terrestre. Além disso, uma grande variedade de aves tem hábitos diurnos e poucas usam tocas ou espaços termicamente protegidos.

Um outro estudo, publicado em 2024 pela Science Direct, analisou a situação de espécies endêmicas de répteis e anfíbios de biomas desérticos, em relação às mudanças climáticas. Foram analisadas 30 espécies, que habitam desertos entre o México e o oeste dos Estados Unidos.

Deserto de Sonora, EUA / Foto de NOIRLab, sob CC BY 4.0 DEED, no Wikimedia Commons

Com o aumento da temperatura e a extrapolação de seus limites térmicos, a previsão é de extinção de 38% das populações analisadas, nos próximos 50 anos. A estimativa sugere que o mesmo deve acontecer em outros desertos do mundo.

O aquecimento global também pode afetar a biodiversidade marinha, além de causar o aumento do nível dos oceanos, impactando diretamente na vida terrestre.

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Amplificação polar no deserto antártico

Uma pesquisa, liderada pelo Laboratoire des Sciences du Climat et de l’Environnement, na França, alerta para um efeito chamado “amplificação polar”. Segundo os cientistas, o aumento da temperatura do planeta tem se mostrado mais intenso no polo norte e no polo sul, quando comparado a outras regiões do planeta.

Foram coletadas 78 amostras de núcleos de gelo, em sete regiões diferentes do continente antártico. As camadas de neve antigas, depositadas sob a superfície de gelo, guardam importantes registros de mudanças climáticas passadas. Com esses registros, os pesquisadores são capazes de reconstruir cenários climáticos do planeta. Nesse estudo, os cientistas puderam avaliar as variações do clima na Terra nos últimos mil anos.

A análise das amostras revelou que a taxa de aquecimento no continente antártico varia entre 0.22°C e 0.32°C por década. Entretanto, os modelos de previsão usuais consideram que o planeta deve aquecer entre 0.14°C e 0.18°C por década, no que os cientistas chamam de tendência média de aquecimento.

Modelos climáticos desconsideram a amplificação polar

Esse resultado, de acordo com os pesquisadores, mostra que os modelos climáticos subestimam o impacto da amplificação polar, o que pode gerar severas consequências nas previsões futuras do clima. Tomando como base uma tendência média de aquecimento global menor do que de fato é, desconsiderando a amplificação polar, a situação seria ainda mais grave do que as projeções indicam.

Deserto Polar Antártico / Foto da Nasa, sob CC0 1.0 DEED no Rawpixel

Segundo o climatologista Kyle Clem, da Victoria University of Wellington, a amplificação polar na Antártida indica um maior aquecimento futuro, o que impactaria em maiores perdas de gelo marinho, agravando o aquecimento dos oceanos, prejudicando sua circulação global e os ecossistemas marinhos. 

O aumento do nível do mar seria ainda maior do que esperado, tornando a situação mais crítica, já que o aquecimento dos oceanos tem causado o derretimento das plataformas de gelo costeiras, que protegem os glaciares.

Os impactos do aquecimento global, que já estão sendo sentidos no maior deserto frio da Terra, também poderão trazer potenciais consequências para o maior deserto quente.

Os impactos das mudanças climáticas no deserto do Saara

O deserto do Saara é considerado o maior deserto quente do mundo e o terceiro maior deserto da Terra, logo atrás dos desertos polares da Antártida e do Ártico. Localizado ao norte do continente africano, a região tem 9.4 milhões de km² e está presente em 11 países.

Além disso, o deserto do Saara também é a principal fonte de poeira mineral no ar terrestre. Desse modo, a poeira desértica, em abundância nos aerossóis atmosféricos, pode alterar os níveis de radiação solar na superfície da Terra, além de modificar as características das nuvens e interferir na circulação da atmosfera e dos oceanos, influenciando não apenas a temperatura local.

Aumento da temperatura no deserto mais quente do mundo

Um artigo, publicado pela Springer, analisou as implicações das futuras alterações climáticas, que podem ocorrer no século 21, no deserto do Saara. Os pesquisadores simularam quatro cenários distintos, estabelecidos pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). 

Esses cenários, além de analisarem futuros níveis de emissão de gases de efeito estufa (GEE), também consideram níveis de forçamento radiativo (diferença entre a radiação solar absorvida pela superfície terrestre e a energia radiada de volta). 

Deserto do Saara egípsio / Foto de Greg Gulik, no Pexels

De acordo com o estudo, a temperatura média do ar na região do deserto deve continuar aumentando ao longo do século 21. Dentro dos quatro cenários analisados, a constatação é de que o aumento de temperatura do ar nessa região será maior do que a média global. 

É esperado que zonas úmidas ao norte da África se tornem mais quentes e secas. De acordo com o pior cenário, regiões com clima desértico, seco e quente, devem aumentar em 20.8%. Além disso, num cenário moderado, as temperaturas extremas podem aumentar até 1.8°C até a metade do século. No cenário mais pessimista, pode haver um aumento de até 4°C.

Além do aquecimento global, outro problema que afeta diversos ecossistemas é a poluição plástica. Derivados de resíduos plásticos, os microplásticos têm se mostrado presentes em alimentos, no ar e na água e também em regiões tão remotas quanto os desertos.

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Microplásticos no deserto da China

Um grupo de cientistas chineses e norte-americanos investigaram a distribuição e a deposição de microplásticos nas dunas e lagos de um dos maiores desertos da Ásia Central, o Badain Jaran.

O deserto de Badain Jaran cobre uma área de 49.2 mil km² e está localizado entre a Mongólia e a China. Badain Jaran é famoso por seus lagos coloridos, templos budistas e por possuir a maior duna de areia estática do mundo, com cerca de 460 metros de altura.

O estudo analisou amostras de sedimentos, retirados de dunas de areia e lagos. Apesar de ser um local remoto, a quantidade de microplásticos encontrado nas amostras apresentou uma média de 6 itens por quilograma de sedimento (variando de 0.7 até 11.7 itens por quilograma, entre as amostras).

Segundo a publicação, não existem indústrias e zonas residenciais na área de estudo. Na região, a única atividade humana é composta por turismo em pequena escala, na extremidade sudeste do deserto. As atividades turísticas são suspensas entre novembro e março, parte do outono até o fim do inverno, no Hemisfério Norte. 

Microplásticos transportados pela atmosfera

De acordo com os pesquisadores, estes microplásticos foram transportados pela atmosfera, por longas distâncias, vindo de áreas povoadas a sudeste do deserto de Badain Jaran

Deserto de Badain Jaran / Foto de Rita Willaert, sob CC BY-NC-SA 2.0 DEED no Flickr

O maior centro urbano, com pouco mais de 468 mil pessoas, fica a 100 km do deserto de Badain Jaran. Cerca de 70 km ao sul dali, fica uma pequena cidade, com 15 mil habitantes. Já a 350 km a sudeste, atravessando o deserto de Tengger, fica a metrópole de Yinchuan, com mais de 2.5 milhões de habitantes. A noroeste, de onde predominam os ventos de inverno, não existe qualquer cidade num raio de 1000 km.

Dos microplásticos recolhidos, com tamanhos variando entre 0.05 a 0.2 milímetros, 77% eram compostos por fragmentos, enquanto os 23% restantes eram fibras. Os principais componentes encontrados nas amostras desses polímeros foram a resina epóxi (28%), o tereftalato de polietileno (25%), a fenoxi resina (25%) e a poliamida (9%).

Além disso, nas zonas limítrofes do deserto, com atuação de atividades turísticas, a quantidade de microplásticos chegou a 8.2 itens por quilograma de sedimento. Isso reforça a contribuição da ação humana, ainda que sazonal, para a poluição local e regional. De acordo com os pesquisadores, esse fator, somado ao transporte atmosférico, são as principais fontes de poluição por microplástico no deserto Badain Jaran.

Além dos resultados das ações antrópicas nos diversos ecossistemas desérticos do mundo, as mudanças climáticas também estão transformando o semiárido brasileiro.

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Primeira zona árida do Brasil

Apesar de não haver deserto brasileiro, o aquecimento global contribui diretamente para a intensificação de regiões secas. Em novembro de 2023 foi registrado o surgimento da primeira zona árida do Brasil.

A região, localizada entre as cidades de Petrolina, em Pernambuco, e Juazeiro, na Bahia, equivale a uma área quatro vezes maior do que a capital paulista, com pouco mais de 5700 km², de acordo com a Revista Fapesp. A região, que era considerada semiárida, se tornou completamente árida.

O diagnóstico, dado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em conjunto com o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), considerou estudos que avaliaram a evolução do clima e dos eventos meteorológicos na região.

Em nota, o Inpe afirma que o Brasil (e o mundo) está ficando menos úmido, pois o aumento da aridez tem se mostrado tendência no país (com exceção da região Sul). A causa é a alta nos níveis de evaporação, gerada pela amplificação da temperatura terrestre. 

Além disso, no período entre 1990 e 2020, esse processo de transformação para zonas mais áridas se mostrou acelerado. Dessa forma, a perda de umidade tende a afetar, inclusive, a Amazônia. Nesse período avaliado de 30 anos, zonas áridas, semiáridas e sub-úmidas secas se expandiram e devem continuar se expandindo.

Bruna Chicano

Cientista ambiental, vegana, mãe da Amora e da Nina. Adora caminhar sem pressa e subir montanhas.

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