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O Projeto Rede de Comunicadores Indígenas e Ribeirinhos instalou pontos de internet em locais estratégicos do Corredor de Áreas Protegidas do Xingu, facilitando a denúncia de crimes ambientais e a divulgação de informações qualificadas para o enfrentamento da pandemia de Covid-19

Imagem editada e redimensionada de Pedro Biondi/ABr, está disponível no Wikimedia e licenciada sob CC by 3.0

Por meio de um projeto em cooperação com o Instituto Socioambiental (ISA), o WWF-Brasil investiu na ampliação do acesso à internet para os habitantes da vasta região conhecida como Corredor Xingu de Diversidade Socioambiental, que é a morada de 26 povos indígenas e centenas de comunidades ribeirinhas nos Estados do Pará e Mato Grosso.

Com cerca de 26,5 milhões de hectares de extensão – uma área três vezes maior que a de Portugal – o Corredor Xingu concentra uma das maiores sociobiodiversidades do Brasil e incide sobre 40 municípios nos dois Estados, abrigando 21 Terras Indígenas e nove Unidades de Conservação contíguas. A dificuldade de comunicação é um problema grave na região, repleta de conflitos socioambientais, como a presença crescente de garimpeiros e desmatadores ilegais.

O Projeto Rede de Comunicadores Indígenas e Ribeirinhos do Xingu expandiu a capacidade dos povos da região para denunciar crimes ambientais, organizar as comunidades ou compartilhar problemas comuns entre elas. E também para ter acesso à informação, algo que se tornou fundamental no contexto da pandemia de Covid-19.

Esse trabalho foi conduzido no âmbito da Rede Xingu+, uma aliança de organizações da região, formada por 22 associações indígenas e ribeirinhas e três organizações da sociedade civil, com secretaria-executiva sediada pelo ISA.

Ao longo de 2020, a Rede Xingu+ repassou recursos aos seus parceiros locais para a instalação de 26 pontos de internet em locais estratégicos do Corredor Xingu, em 10 Áreas Protegidas, beneficiando diretamente indígenas de oito etnias e centenas de ribeirinhos. O apoio do WWF-Brasil permitiu a instalação de 12 destes pontos.

Crimes ambientais

Osvaldo Barassi Gajardo, analista em conservação sênior do WWF-Brasil, ressalta que a região do Corredor Xingu é cenário de constantes conflitos ambientais, com a presença crescente de garimpeiros e desmatadores ilegais. “Por causa disso, originalmente, o foco do projeto era apoiar a criação e o fortalecimento de uma rede de comunicadores locais qualificados para monitorar as atividades ilegais e fazer denúncias às autoridades competentes, mesmo em áreas remotas e de difícil acesso. Mas a chegada da pandemia exigiu um realinhamento da proposta”, diz Gajardo.

Segundo ele, a proposta original previa a doação de equipamentos como celulares e câmeras e a organização de oficinas para qualificar os jovens indígenas e ribeirinhos para a produção audiovisual. Com isso, seria possível, por exemplo, identificar áreas desmatadas e utilizar o material para subsidiar denúncias mais qualificadas às autoridades. “Mas com a interrupção das atividades de campo, a partir de março de 2020 por conta da pandemia, o projeto concentrou os esforços em instalar pontos de internet em aldeias e localidades ribeirinhas – o que permitiu a continuidade das ações de forma remota, incluindo a formação dos comunicadores”, pontua o analista.

Gajardo afirma que, ao longo da pandemia, o acesso à internet foi fundamental para que os indígenas e ribeirinhos se informassem sobre os protocolos de enfrentamento da doença. “O projeto continua sendo importante para fortalecer as ações de monitoramento feitas pelos próprios habitantes. Mas, no contexto da pandemia, a conectividade obtida pelas comunidades ganhou importância central”, destaca.

De acordo com Maria Beatriz Ribeiro, bióloga do ISA e assessora técnica da Rede Xingu+, o fortalecimento da comunicação interna entre as comunidades é fundamental. “A falta de comunicação entre os povos do corredor do Xingu e com seus parceiros de fora era uma limitação para o monitoramento e proteção do território. Consolidar uma rede de comunicadores é importante para fortalecer a articulação interna e apoiar a defesa de direitos e do meio ambiente”, disse.

Mudança de planos

Inicialmente, a rede de comunicadores seria consolidada a partir de oficinas de formação presenciais, em diferentes regiões do Corredor Xingu, entre março e setembro de 2020. Mas a pandemia exigiu mudança de planos. “Parte dos recursos que seriam utilizados para viagens foi investida em pontos de internet no corredor. Havia uma carência muito grande de acesso à internet e em algumas regiões, como nos territórios Kayapó, não havia quase nenhuma conexão. Outra parte dos recursos foi redirecionada para a produção de materiais informativos de enfrentamento à Covid-19”, acrescenta Maria Beatriz.

Os pontos de internet instalados acabaram se mostrando essenciais para que as atividades prosseguissem. “Como percebemos que a comunicação estava fluindo ao longo do Corredor, nós nos replanejamos e iniciamos as oficinas de formação dos comunicadores da Rede Xingu+ com ferramentas virtuais”, afirma Maria Beatriz. Segundo ela, o projeto irá consolidar uma rede de 23 comunicadores indígenas e ribeirinhos.

Os pontos de internet instalados com recursos do WWF-Brasil estão localizados nas Terras Indígenas Kayapó, Menkragnoti, Capoto/Jarina, Xipaya e Trincheira Bacajá (Xikrin) e na Resex do Rio Iriri. Os locais de instalação foram definidos pelas próprias organizações locais que fazem parte da Rede Xingu+, com base em sua importância estratégica e representatividade.

Além dos pontos de internet, o projeto – que teve um investimento de R$ 260 mil por parte do WWF-Brasil – também incluiu a aquisição de equipamentos para produção audiovisual, incluindo computadores, para três das cinco ilhas de edição instaladas pela Rede Xingu+ em sedes de associações locais de cinco municípios do Corredor: Canarana (MT), Peixoto de Azevedo (MT), Novo Progresso (PA), Tucumã (PA) e Altamira (PA).

“Produzimos vários materiais com recomendações sobre a prevenção da Covid-19, incluindo podcasts, mapas de monitoramento sobre casos da doença, vídeos e cards para serem utilizados no WhatsApp, que virou uma importante ferramenta de comunicação. Esses materiais foram feitos com apoio de indígenas e ribeirinhos, assim como de suas organizações locais”, frisa Maria Beatriz.

Um dos materiais de maior impacto relacionados à prevenção da Covid-19 é o Áudio do Beiradão, podcast produzido pelas Associações de Moradores das Reservas Extrativistas da Terra do Meio, em parceria com a Rede Xingu+ e o Instituto Socioambiental, que contou com a produção de 32 edições ao longo de 2020. “O projeto foi essencial para combater fake news que estavam circulando entre as populações indígenas e ribeirinhas da Terra do Meio. Foi possível compartilhar informações seguras, com entrevistas de médicos que atuam na região e têm a confiança das comunidades. A internet também foi importante para divulgar dados sobre incêndios ilegais, proteção territorial e para a realização de reuniões essenciais entre os parceiros da Rede e o Ministério Público, por exemplo, sem que fosse preciso deixar as comunidades”, relata Maria Beatriz.

Relação rápida

O-é Paiakan Kaiapó, nascida em uma das comunidades beneficiadas pela instalação de um ponto de internet, conta que a conexão já permitiu evitar uma invasão de garimpeiros na aldeia Krenhyedjá, na Terra Indígena Kaiapó. Segundo ela, no início de janeiro de 2021, um grupo de garimpeiros se aproximou da aldeia de forma preocupante. “Era possível ouvir o barulho de motores e aviões rondando a nossa aldeia e nós pudemos comunicar a Funai imediatamente”, disse O-é. Poucos dias depois, de acordo com ela, a Funai sobrevoou a área, confirmou a presença dos garimpeiros e os interpelou para que deixassem a área invadida.

“Foi muito importante comunicar o perigo rapidamente, porque acima da aldeia temos a nascente do nosso rio e estávamos muito preocupados com uma possível contaminação. Para nós, além de fonte de alimentação, o rio é uma praça de socialização, onde é feito o ritual quando nasce o filho mais velho, onde colocamos a mandioca de molho para fazer a farinha, e vários outros aspectos da nossa cultura”, explicou O-é.

Segundo O-é, sem internet seria preciso acionar a Funai via rádio amador. Mas, nesse caso, a demora para uma reação do órgão poderia ter sido muito maior porque o rádio só permite comunicações muito curtas, sem possibilidade de detalhamento da situação, nem envio de fotos e vídeos – o que certamente atrasaria a operação.

“Nesse período de chuvas, o rádio só pega na parte da tarde. De manhã chove demais e a comunicação é impossível. À noite, não funciona. Além disso, ele funciona com placa solar e, nesses dias, fica muito complicado. Certamente, o contato com a Funai seria muito mais demorado. Por isso, a internet é tão importante”, declarou.

A conexão também deu uma importante contribuição para a comunicação de fora para dentro da aldeia, conta O-é. “Durante a pandemia, o acesso à internet foi muito importante para que as aldeias tivessem informações corretas, de fontes oficiais, sem influência de notícias falsas. Isso está salvando vidas”, salienta.


Fonte: WWF-Brasil – licenciado sob Creative Commons Attribution-NoDerivatives 4.0 International License


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