Deserto de Mojave: clima, biodiversidade e energia renovável

O deserto do Mojave, nos Estados Unidos, é o menor e mais seco deserto da América do Norte. Localizado principalmente no sudeste da Califórnia e no sul de Nevada, o deserto do Mojave também está presente nos estados de Utah e do Arizona. 

Como é o clima no deserto de Mojave?

Apesar de possuir um clima mais seco e quente no verão, o deserto de Mojave apresenta o inverno com temperaturas baixíssimas, chuvas e nevascas nas regiões montanhosas. Nessa estação, o Sol costuma se pôr antes das cinco horas da tarde.

No fim do inverno e início da primavera ocorrem as precipitações. Com cerca de 120 mm de chuva, que é a média anual, algumas espécies de flores silvestres encontram umidade suficiente para desabrochar.

Estrela do deserto, Deserto de Mojave / Foto de National Parks Service, sob domínio público no Picryl

Por outro lado, o período de monções ocorre no verão, quando chuvas isoladas, mas intensas, podem ocorrer. 

Em geral, as chuvas aumentam conforme a altitude. Esse fator também contribui para as variações de temperatura no deserto. Durante o verão, é comum que as temperaturas fiquem acima dos 37°C durante o dia, amenizando no outono. Já no inverno, as temperaturas costumam ficar abaixo de zero.

A região possui alta incidência de ventos durante a primavera, chegando a uma velocidade média de 32 km/h.

Apesar dos contrastes climáticos ao longo do ano, essa região abriga uma enorme biodiversidade. O deserto de Mojave abriga espécies de animais, plantas e fungos endêmicos. São cerca de duas mil espécies vegetais, dentre elas, a mais famosa é a Joshua Tree, uma árvore nativa do Mojave.

Deserto: características e importância do bioma

Joshua Tree, a árvore símbolo do deserto de Mojave

A Joshua Tree, ou árvore de Josué, é da espécie Yucca brevifolia, parte da família das Agaves, um gênero de plantas suculentas.

A árvore é reconhecida pelos Cahuilla, povos originários da região, por suas inúmeras utilidades. Os povos Cahuilla, que chamavam a árvore de humwichawa, foram os primeiros povos a habitarem a região do Vale Coachella e toda a região montanhosa no entorno, há mais de três mil anos. Como parte de sua cultura, cestos eram feitos a partir das folhas da humwichawa, enquanto suas sementes e botões de flores se tornavam alimento. 

Por outro lado, a espécie recebeu o nome atual no século 19, por colonos mórmons, que cruzavam o deserto de Mojave pelo rio Colorado. Segundo a história, a árvore, com seus galhos estendidos em direção ao céu, recebeu o nome de Josué (Joshua) em homenagem ao personagem bíblico homônimo.

Essa árvore também dá nome ao Joshua Tree National Park, também na Califórnia. As maiores árvores têm cerca de 12 metros de altura e chegam a viver, em média, 150 anos. Assim como outras árvores do deserto, essa espécie depende de chuvas oportunas, além do frio intenso que ocorre no inverno, que estimula sua floração e ramificação.

A árvore de Josué também estabelece um importante processo de simbiose com mariposas. A polinização de suas flores é realizada pelas mariposas, que carregam o pólen enquanto depositam seus ovos na flor. As sementes, que se desenvolvem na planta, servem de alimento para as pequenas larvas de mariposa.

Joshua Tree, Deserto de Mojave / Foto de Linhao Zhang no Unsplash

Além disso, diferentes espécies de pássaros, mamíferos, répteis e insetos dependem dessa árvore endêmica para sobreviver. Enquanto a Joshua Tree oferece alimento para alguns animais, ela funciona como abrigo para outros.

Apesar de ser essencial para a manutenção da vida de diferentes espécies do deserto de Mojave, com as alterações climáticas e o planeta cada vez mais quente, não apenas as árvores de Josué, mas outras espécies vegetais e animais correm risco de desaparecer. 

Os pássaros, por exemplo, são uma das espécies mais vulneráveis às mudanças climáticas. De acordo com estudiosos, a redução no índice de chuvas tem impulsionado a diminuição da diversidade de espécies de aves no Mojave. Esse declínio já atingiu 43% das aves regionais.

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Os impactos do aquecimento global nas aves dos desertos

Um estudo, realizado por cientistas de cinco países, analisou o impacto do aumento da temperatura global em comunidades de aves do deserto. Os pesquisadores afirmam que as mudanças no clima já chegaram a um nível em que alteram a distribuição e a abundância de espécies, não apenas nos ecossistemas desérticos, mas em todo o mundo. 

Segundo os pesquisadores, principalmente espécies que habitam regiões desérticas, apesar de adaptadas, vivem perto de seus limites fisiológicos. 

As aves são espécies mais sensíveis às mudanças climáticas, pois apresentam maior perda de água, por evaporação, do que qualquer outro animal terrestre. Além disso, uma grande variedade de aves tem hábitos diurnos e poucas usam tocas ou espaços termicamente protegidos. Isso significa que um maior aquecimento poderia implicar na extinção de espécies. 

Papa-léguas (Geococcyx californianus), uma das espécies do Deserto de Mojave / Foto de domínio público no Stockvault

Outro fator importante, que tem impactado diretamente a biodiversidade, é a transição energética. Apesar de se mostrarem alternativas ambientalmente corretas, as usinas de energia renovável também apresentam certo nível de impacto ambiental

Entretanto, segundo os cientistas, esses impactos podem diminuir se a conservação das espécies for levada em consideração.

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Os impactos das usinas de energia renováveis na biodiversidade do deserto de Mojave

Com uma área com pouco mais de 8 milhões de hectares e um ambiente árido, o deserto de Mojave apresenta recursos naturais finitos e ecossistemas vulneráveis tanto às mudanças climáticas quanto às modificações do uso da terra que ocorrem na região.

Com os avanços da transição energética, a região do Mojave demonstrou ter ótimas condições para o desenvolvimento de usinas de fontes alternativas, como a solar e a eólica. O lado positivo é que, além de evitar emissões de gases de efeito estufa durante seu funcionamento, a expansão de usinas renováveis tende a substituir a dependência norte-americana por combustíveis fósseis.

Entretanto, pesquisadores da Califórnia passaram a analisar os possíveis conflitos que podem surgir num cenário futuro, com a possível mudança de comportamento de espécies ameaçadas pelo aquecimento global.

Usina solar, Deserto de Mojave / Foto de James Guetschow, no Pexels

No estudo, publicado pela Nature, os cientistas afirmam que, nos últimos 50 anos, as populações de mamíferos, aves, anfíbios, répteis e peixes diminuíram mais de 60%, numa escala mundial. A principal causa apontada para esse declínio é a perda de habitat, causada por desmatamentos, queimadas, atividades agropecuárias, enfim, ações humanas

Com o agravamento das alterações climáticas, é esperado que muitas espécies migrem para regiões mais favoráveis e é nesse sentido que a expansão das usinas renováveis pode afetar diretamente a biodiversidade.

Apesar de apresentarem uma solução para a queima de combustíveis fósseis na geração de energia, a construção de grandes usinas solares e eólicas impacta diretamente no uso da terra. Áreas enormes são modificadas e essa transformação, apesar de contribuir positivamente na redução das emissões, também pode levar a perda significativa de habitats e futuros refúgios para a fauna local e regional.

De acordo com os pesquisadores, o ciclo de vida médio de uma usina de energia renovável (com capacidade maior que 1 MW) varia de 25 a 40 anos. Durante todo esse período, alguns impactos ambientais são gerados, como a remoção da vegetação, a perda de habitat, além das colisões de aves em usinas eólicas, por exemplo. 

Ainda assim, a construção e a operação dessas usinas causam menos impactos negativos do que o uso de combustíveis fósseis. Entretanto, os cientistas reforçam a necessidade de minimizar os efeitos negativos da geração de energia renovável e afirmam que isso seria possível aplicando uma ferramenta de modelagem ecológica

Os cientistas analisaram a distribuição de duas importantes espécies, potencialmente ameaçadas pelas mudanças climáticas. A raposa-anã de San Joaquin (Vulpes macrotis mutica) e a Joshua tree foram as escolhidas.

Raposa-anã de San Joaquin (Vulpes macrotis mutica) / Foto de domínio público no Animalia

A pesquisa considerou o estresse climático e o projeto norte-americano de desenvolvimento de energia renovável, como os principais fatores de impacto na distribuição dessas espécies. De acordo com os pesquisadores, o cenário considerado é o plano de desenvolvimento renovável 100% agressivo até 2050.

As projeções mostram que a população de árvores do deserto devem sofrer perdas causadas pelas mudanças climáticas, mas também pela mudança de uso da terra, para a expansão das usinas.

Em relação às raposas, é esperado que a espécie perca até 81% de seu habitat natural, considerando o cenário climático futuro.

Para reverter essa situação, o estudo destaca que a construção dessas usinas, considerando as necessidades ecológicas das espécies regionais, poderia representar a redução de seus impactos negativos. No caso das raposas, alguns animais dessa espécie já tem usado instalações de usinas solares como habitats. 

Nesse contexto, uma análise multicritérios, considerando as distribuições atuais e futuras da biodiversidade e as restrições socioecológicas existentes, além de elementos técnicos e econômicos, poderia representar uma mudança fundamental para a conservação das espécies do deserto de Mojave

É certo que a expansão de geração de energia por fontes renováveis contribui para reduzir os impactos do aquecimento global. Entretanto, os cientistas reforçam que essa expansão teria seu potencial muito melhor aproveitado com estratégias voltadas para a conservação da biodiversidade a longo prazo. 

Bruna Chicano

Cientista ambiental, vegana, mãe da Amora e da Nina. Adora caminhar sem pressa e subir montanhas.

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