Exposição prolongada a poluentes urbanos está associada a maior incidência de meningioma, tumor que afeta as membranas do cérebro
A poluição atmosférica, especialmente a proveniente do tráfego veicular, pode elevar as chances de desenvolvimento de meningioma, um tipo de tumor cerebral geralmente benigno. A conclusão é de um amplo estudo dinamarquês publicado na revista Neurology, que acompanhou cerca de 4 milhões de adultos durante 21 anos. A pesquisa reforça evidências de que partículas ultrafinas presentes no ar poluído conseguem atravessar a barreira hematoencefálica, atingindo diretamente o tecido cerebral.
Entre os poluentes analisados, destacam-se o dióxido de nitrogênio e as partículas ultrafinas (menores que 0,1 micrômetro), comumente emitidas por veículos. Os resultados indicam que, para cada aumento de 5.747 partículas/cm³ na concentração dessas partículas, há um incremento de 10% no risco de meningioma. O estudo também identificou associações significativas com outros poluentes, como material particulado fino (PM2.5) e carbono elementar, marcador de emissões de diesel.
A metodologia utilizada envolveu o cruzamento de históricos residenciais com modelos avançados de qualidade do ar, estimando a exposição média dos participantes ao longo de uma década. Embora a pesquisa não estabeleça uma relação direta de causa e efeito, os dados sugerem que a poluição crônica pode desempenhar um papel no surgimento desses tumores.
Um dos pontos destacados pelos pesquisadores é a limitação do estudo em relação à medição da exposição individual, já que apenas a poluição externa próxima às residências foi considerada. Fatores como ambiente de trabalho e tempo gasto em locais fechados não foram incluídos. Apesar disso, os resultados ampliam o entendimento sobre os impactos neurológicos da poluição, tradicionalmente associada a problemas cardiovasculares e respiratórios.
Com a crescente urbanização e a persistência de altos níveis de emissões em grandes cidades, especialistas defendem políticas mais rigorosas para reduzir a concentração de poluentes no ar. A diminuição desses agentes nocivos pode representar um avanço significativo não apenas para a saúde pública, mas também para a prevenção de doenças até então pouco vinculadas à degradação ambiental.
O estudo abre caminho para novas investigações sobre os mecanismos pelos quais partículas ultrafinas afetam o sistema nervoso central. Enquanto isso, a mensagem é clara: melhorar a qualidade do ar beneficia o cérebro tanto quanto pulmões e coração.