MapBiomas e sua importância no combate ao desmatamento

O Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil, batizado de MapBiomas, é um sistema gratuito que analisa dados de satélite, disponível desde 1985, mostrando todas as transformações sofridas no uso da terra – ou uso do solo – no território brasileiro. 

A iniciativa surgiu em 2015, com a equipe do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (Seeg) e funciona a partir de uma rede colaborativa, formada por universidades, ONGs, startups e empresas de tecnologia.

Para que serve o MapBiomas?

O MapBiomas abrange cada ecossistema brasileiro, além de desenvolver análises a partir de temas transversais, como pastagem, agricultura, zona costeira e áreas urbanas. A partir das informações, obtidas pela ferramenta, é possível entender como o uso da terra está mudando ao longo do tempo e como isso afeta os biomas brasileiros e contribui para as emissões de gases do efeito estufa e as mudanças no clima.

A ferramenta tem por característica se multiplicar. Trabalha em rede com as instituições colaboradoras, sua plataforma é aberta e acessível a qualquer pessoa. Além de viabilizar importantes informações para a comunidade científica (e outros órgãos), também absorve as contribuições realizadas pela mesma. 

Além disso, pode ser reproduzida em qualquer lugar do mundo, por meio de parcerias, adaptando-se ao contexto local. A iniciativa já está presente também na Indonésia, Peru, Bolívia, Colômbia, Venezuela, Uruguai, Equador e Paraguai.

O MapBiomas colabora com o desenvolvimento de estudos e pesquisas relacionadas aos diferentes biomas, mas também se mostra útil para análise e tomada de decisões de órgãos governamentais, agências de fiscalização, comunidades e agentes do mundo corporativo.

A partir dos dados fornecidos é possível produzir mais do que pesquisas científicas. A ferramenta é uma fonte que pode ajudar a desenvolver políticas públicas, analisar impactos ao meio ambiente, fiscalizar e punir crimes ambientais, criar regulamentações e bloqueio de crédito concedido a agentes que promovem degradação ambiental e principalmente, proteger a terra.

Floresta amazônica: características e impactos

Como é feito o monitoramento do desmatamento no Brasil?

No Brasil, o monitoramento de florestas teve início no fim da década de 1980, com o uso de imagens de satélite pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, o Inpe.

Diversos satélites captam imagens da Terra com diferentes resoluções, que são processadas para que possam ser analisadas. Nas imagens é possível observar diferenças nos terrenos e na textura das vegetações, sendo possível identificar o tipo de uso dado àquela região.

Prodes

O primeiro programa utilizado para monitoramento foi o Prodes, que desde 1988 monitora a região da Amazônia Legal e produz taxas anuais de desmatamento nesta região. Em 2017, o Prodes passou a monitorar também o Cerrado

O governo federal utiliza esse sistema como principal fonte, para fornecer a taxa oficial de desmatamento no Brasil. 

O Prodes utiliza imagens de 20 a 30 metros por pixel de resolução. Quanto menor esse valor, maior é a resolução da imagem. Para reforçar a importância da resolução, vale destacar que a mais alta resolução disponível hoje, em termos de imagens espaciais, é de 30 centímetros por pixel.

Uma parceria do Inpe com o Instituto SOS Mata Atlântica também monitora e produz anualmente o Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica, desde 1989. A edição de 2023 identificou que cerca de 20 mil hectares de mata nativa foram destruídos no período de um ano, o que equivale a 20 mil campos de futebol de florestas derrubadas.

Deter

Já em 2004, o Inpe passou a operar também o sistema Deter, que é um sistema de alerta diário sobre o desmatamento em toda a Amazônia, mas que apresenta limitações causadas pela cobertura de nuvens na região. O sistema passou a monitorar também o Cerrado, a partir de 2018. O objetivo do Deter é dar suporte aos órgão de fiscalização e aumentar a eficácia de seu trabalho.

SAD

Outro sistema de monitoramento, lançado em 2008, é o SAD. O Sistema de Alerta de Desmatamento é uma iniciativa da ONG Imazon, criado inicialmente para monitorar o desmatamento da Amazônia Legal, com reportes mensais sobre desmatamento e degradação florestal.

Vale citar que desmatamento e degradação florestal são coisas diferentes, apesar de ambos impactarem negativamente o meio ambiente. No desmatamento a floresta é suprimida e deixa de existir. No caso da degradação ambiental (ou florestal), a floresta é destruída por meio de incêndios ou exploração madeireira, há perda de biodiversidade, mas a vegetação ainda existe, mesmo que em estado degenerativo.

O SAD também é utilizado para monitorar a degradação e o desmatamento no Cerrado, na Caatinga, no Pantanal, na Mata Atlântica e no Pampa (ou Pampas).

GLAD e SipamSAR

Já em 2016 o GLAD entrou em operação. O sistema, desenvolvido pela University of Maryland, nos EUA, opera no Brasil monitorando todos os biomas. 

Também em 2016, o governo brasileiro lançou o SipamSAR, que monitora o desmatamento na Amazônia Legal utilizando, junto aos satélites, radares que utilizam a tecnologia “SAR” (Synthetic Aperture Radar), que os tornam capaz de produzir imagens mesmo com alta incidência de nuvens na região.

Mais de uma dezena de sistemas são utilizados para monitorar e detectar o desmatamento e degradação ambiental no Brasil. A partir dessa alta quantidade de informações, o MapBiomas desenvolveu um sistema para potencializar o uso desses alertas no combate ao desmatamento.

Saiba mais sobre os biomas brasileiros

O que é o MapBiomas Alerta?

O MapBiomas Alerta é um complexo que engloba vários sistemas de desmatamento, existentes no Brasil, com o objetivo de aperfeiçoar a usabilidade e eficácia dos alertas ambientais emitidos.

Ele permite mapear áreas com precisão muito maior do que os sistemas em uso, além de fazer o imageamento – técnica que gera imagens, indicadores e informações geográficas – diariamente.

Após o recebimento dos dados, a partir dos sistemas de desmatamento, ocorre a validação. Quando são detectadas mudanças no uso da terra em determinadas áreas, são compradas imagens de satélite com alta resolução (de 3 metros por pixel), fornecidos pela Planet. Confirmando os indícios de desmatamento, a partir das imagens, é realizado o refinamento dessa informação, delimitando a área de interesse de forma precisa, comprovando assim, que uma área de floresta foi suprimida ou degradada.

A partir daí, os dados são publicados para os órgãos governamentais responsáveis tomarem providências, como Ibama, ICMBio, Ministério Público entre outros.

Todos os dados são publicados de forma gratuita e o acesso é aberto à comunidade.

Segundo Alexandre Gaio, promotor de Justiça do Ministério Público do Paraná, “o grau de precisão e de segurança desse sistema é tamanho que, na maioria dos casos, não é necessário se deslocar até o local do dano ambiental para se verificar se houve ou não o desmatamento”. 

Monitor de Fiscalização do Desmatamento do MapBiomas Alerta

Além disso, outra ferramenta fornecida pelo MapBiomas Alerta é o Monitor de Fiscalização do Desmatamento. Nele é possível monitorar as ações envolvendo os alertas emitidos pelo MapBiomas, como por exemplo, se a área desmatada verificada pelo sistema foi autorizada ou se houve fiscalização dos órgãos competentes.

Acompanhe no vídeo abaixo:

Monitor de Fiscalização do Desmatamento, do MapBiomas Alerta

Ainda assim, com todos esses recursos disponíveis, dados do MapBiomas mostram que até julho de 2023 houveram mais de 327 mil alertas de desmatamento. Desses, quase 70% contém indícios de ações ilegais e não contaram com nenhuma ação de órgãos de fiscalização até o momento.

Ibama: o que é, funções e importância

Quais são os fatores que dificultam a fiscalização ambiental na Amazônia?

Em março de 2023 a Controladoria Geral da União (CGU) divulgou o Relatório de avaliação do processo de gestão dos alertas de desmatamento na Amazônia, fruto de uma auditoria, identificando deficiências de estratégia e falhas na atuação do Ibama.

A CGU se baseou justamente na quantidade de alertas de desmatamento recebidos ao longo do ano, além da alta taxa de desmatamento e o baixo índice de resposta a esses alertas, demonstrando assim, segundo o próprio CGU, falhas de governança. 

O relatório também apontou falhas na coordenação geral das operações de fiscalização. Segundo o documento, há uma ausência de análise contínua, por parte do Ibama, para determinar as estratégias de suas fiscalizações. No entanto, o órgão conta com informações e provas confiáveis que poderiam servir de base para suas ações, rendendo bons resultados.

Desmatamento na Amazônia / Foto de Amazônia Real, sob CC BY-NC-SA 2.0 DEED, no Flickr

Ainda, foi verificado também que o órgão ambiental não dispunha da organização dos dados, de forma sistematizada, e de metodologias para avaliar as operações.

O CGU concluiu o relatório, afirmando a necessidade de se priorizar os alertas de desmatamento, o que deve acontecer a partir da institucionalização das metodologias, garantindo um conjunto de normas a serem seguidas e também orientações sobre as atividades. 

Isso pode garantir que as ações do Ibama existam, tenham continuidade e possam, de fato, colaborar para o controle e diminuição do desmatamento e da degradação ambiental na Amazônia.

Bruna Chicano

Cientista ambiental, vegana, mãe da Amora e da Nina. Adora caminhar sem pressa e subir montanhas.

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