Foto de Sébastien Vincon no Pexels
Você já ouviu falar em “ilha de lixo”? Imagine uma mancha imensa de resíduos plásticos boiando pelo oceano. Essa cena existe, é real e só tende a crescer. Esse é um fenômeno causado e alimentado pela produção e consumo excessivos de plástico na vida contemporânea e seu descarte desordenado. Cada ilha de lixo representa uma verdadeira ameaça à vida marinha.
Uma ilha de lixo é gerada por uma enorme concentração de todo tipo de plástico, que se acumula principalmente em determinadas regiões oceânicas.
As ilhas de lixo de formam em regiões onde existem correntes oceânicas rotativas, chamadas de “giros oceânicos”. Funcionam como redemoinhos que acabam puxando o lixo para seu centro, acumulando esses resíduos de forma gradativa.
Existem diversos tipos de plásticos e os mais resistentes acabam sendo levados por correntes convergentes. Essas correntes são pontos de encontro de duas ou mais correntes superficiais, onde a água se acumula, junto com nutrientes ou resíduos. Os resíduos acabam transportados por longas distâncias no ambiente marinho, sem sofrerem grandes danos. Quando finalmente chegam nos giros oceânicos, acabam se acumulando.
Giros oceânicos são grandes sistemas circulares de correntes marinhas que giram em escala continental. São impulsionados, principalmente, pelos ventos e pela rotação da Terra.
Existem cinco giros oceânicos, segundo a National Oceanic and Atmospheric Administration (Noaa). Dois deles estão localizados no Oceano Atlântico, outros dois no Oceano Pacífico e, o último, no Oceano Índico.
O lixo plástico acumulado nesses giros não é apenas superficial. Os resíduos e detritos se espalham pela superfície oceânica e também alcançam o fundo do mar.
De acordo com o projeto The Ocean Cleanup, existem cinco ilhas de lixo conhecidas nos oceanos. A maior delas é conhecida como Grande Ilha de Lixo do Pacífico.
A maior ilha de lixo conhecida fica localizada no Oceano Pacífico, mais especificamente entre a Califórnia e o Havaí. Sua superfície tem uma área estimada de 1,6 milhões de km². O que equivale a três vezes o tamanho da França.
Pesquisadores afirmam que a ilha de lixo pode ser composta por 1,8 trilhão de fragmentos plásticos. Esses fragmentos podem somar 100 mil toneladas de resíduos, que deságuam nos oceanos por meio dos rios.
Além disso, cerca de 92% da massa plástica total é formada por embalagens e redes de pesca. Por outro lado, há também microplásticos em grande quantidade. Esse fator soa como um alerta: além dos microplásticos, alguns resíduos plásticos têm a capacidade de ficarem inteiros por décadas nos oceanos.
Inclusive, por causa da grande extensão das ilhas de lixo, algumas áreas navegáveis podem aparentar menor acúmulo de resíduos, mas estão cheias de microplásticos.
Pesquisadores do 5 Gyres Institute estimam que haja cerca de 578 mil toneladas de massa plástica na superfície dos oceanos de todo o planeta. Esse acúmulo de plástico sofreu um grande aumento a partir de 2005, crescendo de uma forma nunca antes vista.
A tendência observada mostra que, além de atingir níveis inéditos, a quantidade de lixo plástico nos oceanos deve aumentar exponencialmente com o passar dos anos.
O aumento de resíduos plásticos é consequência do crescimento da produção e consumo de plástico e produtos que utilizam essa matéria-prima, principalmente em embalagens. No entanto, o problema é intensificado pela atividade pesqueira.
Ao mesmo tempo, a reciclagem de todo esse material atinge níveis baixos. O problema ocorre mesmo em países com maior desenvolvimento e uma boa infraestrutura no gerenciamento de resíduos. O que, em tese, deveria colaborar para a prática da sustentabilidade.
Uma pesquisa, realizada pela World Wide Fund (WWF), afirma que à medida que a indústria de combustíveis fósseis aumenta os investimentos da produção de plástico, o custo do plástico primário se torna competitivo com o valor do plástico reciclado.
A falta de reciclagem ocorre também por causa do comércio internacional de resíduos plásticos e os plásticos de baixo valor agregado, o Low Value Plastic (LVP).
Além disso, dados da Agência Europeia do Ambiente (EEA, na sigla em inglês) mostram que a produção global de plástico aumentou para 380 milhões de toneladas desde a década de 1950. A previsão é que a produção dobre até 2035 e chegue a 1,52 bilhões de toneladas até 2050.
Sendo assim, citando como exemplo a Europa, a falta de capacidade dos países europeus em lidar com os resíduos gerados pela produção de plástico e seu consumo, aplicando economia circular e os conceitos de sustentabilidade, faz com que a opção escolhida seja exportar todo esse lixo plástico.
Ainda de acordo com a EEA, a exportação ocorre para países da Ásia. Mas não há transparência sobre os procedimentos adotados para o gerenciamento desses resíduos, quando chegam no destino.
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Segundo um artigo publicado pela University of Technology Sydney (UTS), o mercado global de reciclagem tem o foco principal em dois tipos de plásticos:
Juntos, esses dois tipos de plásticos representam quase 90% do mercado de plástico reciclado.
Outros dois tipos de plástico que também têm valor de mercado, mas numa escala bem menor. São eles:
Os outros tipos de plásticos – cloreto de polivinilo, poliestireno e plásticos mistos, identificados com os números “3”, “6” e “7”, nessa ordem – têm pouco ou nenhum valor comercial. Portanto não são reciclados (apesar de serem recicláveis) e são descartados. Por isso são chamados de plástico de baixo valor agregado.
Alguns exemplos de produtos que utilizam esses tipos de plástico de uso único são:
De acordo com a WWF, em 2023, o Brasil foi considerado o 4º país que mais gera poluição plástica no mundo. Consequência do manejo do plástico, reciclando menos de um terço de seu volume. O que corresponde a 1500 garrafas plásticas por habitante, descartadas no meio ambiente.
Em 2023, apenas 27,5% das cidades brasileiras tinham serviço de coleta seletiva, que recolhe os resíduos para reciclagem. O que não significa que todo esse material seja reciclado. Não é.
A maior parte desse trabalho é feita por coletores informais – os “catadores”. Esses trabalhadores vivem na linha da pobreza e são mais vulneráveis a problemas de saúde, por conta do próprio trabalho.
Um estudo realizado pelo Instituto Oceanográfico da USP (Iousp) em conjunto com o Blue Keepers, mostrou que o Brasil lança cerca de 3.44 milhões de toneladas de resíduos plásticos no mar todos os anos, 67% desse lixo plástico chega ao mar por meio de bacias hidrográficas de alto risco.
A costa litorânea brasileira tem 7367 quilômetros, banhados pelo Oceano Atlântico.
A pesquisa aponta que o Brasil tem aproximadamente 600 grandes rios que desaguam no mar.
Quando o rio Amazonas chega ao mar, leva consigo cerca de 160 mil toneladas de plástico de países que atravessa.
As águas do rio São Francisco levam 230 mil toneladas de plástico e a Baía de Guanabara, 216 mil toneladas de resíduos plásticos.
O Rio da Prata leva 1 milhão de toneladas de lixo plástico do Brasil para o mar, entre Argentina e Uruguai. Esses valores são anuais.
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou um relatório em 2022 sobre o plástico, destacando a importância de reduzir custos e investir em tecnologias de reciclagem.
O relatório também sugere que a produção de plástico seja reduzida e reavaliada, já que a reciclagem também não põe fim ao problema.
Segundo a publicação, em 2022, apenas 9% de todo o resíduo plástico foi reciclado no mundo. O restante se divide entre aterros sanitários, incineração (que é a queima do plástico, contribuindo para emissão de gases de efeito estufa) e oceanos.
Além disso, durante o processo de degradação, as partículas plásticas podem se apresentar de inúmeras formas:
As partículas plásticas são difíceis de controlar e impactam diretamente a saúde humana, dos animais e dos ecossistemas em geral.
A presença de plástico nos oceanos prejudica o desenvolvimento e causa a morte de diversas espécies marinhas. Como resultado, desequilibra a cadeia alimentar, reduz a biodiversidade e compromete os serviços ecossistêmicos, essenciais à vida humana.
Estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que há plástico em nossa água, ar e comida, em forma de micro e nanopartículas.
Os plásticos são, de modo geral, compostos por produtos químicos provenientes de petróleo. São formados a partir de substâncias capazes de interferir nos sistemas hormonais do corpo humano, levando a uma série de doenças graves.
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Além disso, partículas plásticas foram detectadas em mais de 800 espécies de animais e aproximadamente 87 mil organismos não humanos, absorvidas por ingestão ou em tecidos.
Para além das medidas de governança e políticas públicas, que devem ser adotadas por empresas e governos ao redor do mundo, existem algumas maneiras de contribuir para reduzir a poluição plástica.
Reduzir o uso de plástico no dia a dia, apoiar empresas éticas, que trabalham com diretrizes ambientais sustentáveis, consumir menos e de forma mais consciente, reutilizar materiais e produtos o quanto for possível, substituir produtos descartáveis por reutilizáveis e sempre buscar por alternativas eco-friendly são maneiras de diminuir o impacto ambiental e ajudar a recuperar a saúde planeta.
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