Agricultura regenerativa: práticas que renovam o solo

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Você já ouviu falar em agricultura regenerativa? Esse termo foi criado pelo americano Robert Rodale, que se inspirou nas teorias da hierarquia ecológica para entender como os sistemas agrícolas podem se renovar naturalmente ao longo do tempo. Mais do que produzir alimentos, a agricultura regenerativa busca recuperar e cuidar do solo, garantindo que ele fique cada vez mais vivo e fértil.

Essa forma de cultivar vai além da terra — ela envolve também as pessoas que vivem nas comunidades rurais e todos nós, consumidores. É um jeito de pensar a agricultura que une economia, meio ambiente, ética e justiça social, tudo junto. Isso é muito importante, especialmente quando sabemos que as práticas agrícolas tradicionais são responsáveis por cerca de 25% das emissões globais de gases do efeito estufa, segundo dados da EPA.

Os impactos da agricultura industrial já são claros: desde a famosa “zona morta” no Golfo do México até os incêndios na Amazônia. Embora a agricultura orgânica já traga benefícios para o meio ambiente, a agricultura regenerativa vai além, oferecendo uma forma ainda mais eficaz de diminuir nossa pegada de carbono e cuidar da terra para as próximas gerações.

O que é agricultura regenerativa?

Origem e definição do termo

A agricultura orgânica originou as bases para o movimento de agricultura regenerativa americana. A agricultura orgânica, um termo que surgiu na década de 1940, é comumente concedida a J.I. Rodale do Instituto Rodale. Práticas de agricultura orgânica também são usadas na agricultura regenerativa, incluindo o uso reduzido de pesticidas, herbicidas e fertilizantes.

À medida que o movimento crescia na década de 1970, os agricultores começaram a dedicar uma área cultivada às culturas orgânicas. A partir disso, os profissionais começaram a ver benefícios econômicos pelo menor uso de produtos químicos. E, ao mesmo tempo, mantendo rendimentos semelhantes à agricultura convencional.

Assim, implementaram algumas práticas adicionais ao movimento orgânico tradicional.

Na década de 1980, os produtores de milho e soja do Centro-Oeste dos Estados Unidos enfrentaram uma crise agrícola devido ao declínio no desempenho do solo. Para enfrentá-la, esses agricultores reduziram o nível do solo. E também usaram culturas de cobertura para tentar reabilitar a terra, como o plantio direto. Na mesma época, produtores convencionais passaram a produzir alimentos orgânicos, incrementando o volume de produtos.

Quais são os princípios da agricultura regenerativa?

Nesse contexto, Robert, filho de J.I. Rodale, decidiu dar um passo à frente na agricultura orgânica, cunhando o termo “orgânico regenerativo”. Essa abordagem holística da agricultura baseia-se nos princípios da agricultura orgânica. Porém, combinados com práticas de saúde do solo e gestão da terra que imitam a natureza. As principais práticas da agricultura regenerativa são:

  • Rotação de culturas ou cultivo sucessivo de mais de uma planta na mesma terra;
  • Cobrir o cultivo ou o plantio o ano todo, para que a terra não fique em pousio durante as entressafras. Isso ajuda a evitar a erosão do solo;
  • Cultivo conservador, ou menos aração de campos;
  • Pastagem de gado, que estimula naturalmente o crescimento das plantas;
  • Diminuição do uso de fertilizantes e pesticidas;
  • Nenhum (ou limitado) uso de Organismos Geneticamente Modificados para promover a biodiversidade;
  • Bem-estar animal e práticas justas de trabalho para os produtores.

Benefícios ambientais da agricultura regenerativa

Imagem de Roman Synkevych no Unsplash

O cuidado com o solo é um aspecto importante da agricultura regenerativa. Graças à suas práticas, é possível recuperar solos empobrecidos e garantir o bom uso deles cada vez mais. Nesse contexto, a agricultura regenerativa valoriza os microrganismos presentes no solo. Uma vez que eles são fundamentais para a manutenção da terra. 

Por isso, um dos mecanismos desse tipo de agricultura é o desenvolvimento e a utilização de biofertilizantes preparados com recursos naturais. Eles são posteriormente disponibilizados para o agricultor. Esses produtos enriquecem e aumentam a fertilidade do solo e beneficiam a cultura com micro-organismos, aumentando a biodiversidade.

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Os microrganismos são responsáveis por promover um ciclo de simbiose e disponibilizar os nutrientes que já estão no solo para as plantas. Além disso, dentro do contexto da agricultura regenerativa, os biofertilizantes são produzidos de maneira sustentável.

No caso da regeneração de um solo empobrecido, os procedimentos possuem o objetivo de disponibilizar:

  • Água
  • Alimento
  • Ar

Desse modo, podem torná-lo apto para o plantio. Em solos agrícolas erodidos, por sua vez, é preciso recolocar o seu teor em nutrientes. A mudança, por sua vez, auxilia o processo de regeneração.

Agricultura regenerativa e mudanças climáticas

Segundo pesquisadores, a agricultura regenerativa pode ajudar a reverter as mudanças climáticas. Algumas práticas resultam na emissão do carbono armazenado por raízes antigas que se encontram na terra. Esse é o caso da prática de arar o solo para o plantio. 

Na atmosfera, o carbono se combina com o oxigênio para formar dióxido de carbono (CO2), um dos principais gases de efeito estufa. Liberar esse elemento também prejudica a saúde do solo, uma vez que dificulta o crescimento de novos vegetais.

Manter uma raiz viva no solo o tempo todo ajuda a fazer o ciclo de nutrientes sem retirar o carbono armazenado. Enquanto isso, o uso de matéria orgânica aumenta a variedade de microrganismos presentes na terra. Estes que alimentam as plantas e ajudam a gerenciar pragas e doenças. O plantio cruzado, isto é, de mais de uma espécie no mesmo espaço, também é uma técnica importante na agricultura regenerativa.

Essas práticas agrícolas podem ajudar a restaurar o equilíbrio natural de solos saudáveis.

Sequestro de carbono

Pesquisadores sugerem que adotar práticas regenerativas em nossos próprios jardins pode resultar na reversão das mudanças climáticas. Além disso, é possível cultivar alimentos orgânicos e, consequentemente, melhorar a saúde. Esse tipo de agricultura pode remover CO2 da atmosfera a uma taxa de cerca de uma tonelada de gás para cada hectare plantado.

Um estudo feito pelo Instituto Rodale concluiu que os benefícios da agricultura regenerativa para o meio ambiente são enormes. Se cultivarmos alimentos utilizando métodos regenerativos, seremos capazes de sequestrar mais de 100% das emissões anuais de dióxido de carbono em todo o mundo.

Adotar a agricultura regenerativa é mais do que uma escolha de produção — é um compromisso com a vida no planeta. Ao cuidar do solo, das pessoas e do clima, essa prática nos convida a repensar a forma como nos relacionamos com a terra e com os alimentos que consumimos. Em tempos de crise ambiental, regenerar é um ato de esperança e responsabilidade.

Julia Azevedo

Sou graduanda em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo e apaixonada por temas relacionados ao meio ambiente, sustentabilidade, energia, empreendedorismo e inovação.

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