Mapa revela disparidade entre os grandes responsáveis pelas mudanças climáticas e maiores vítimas das emissões

As mudanças climáticas são um dos grandes desafios globais do nosso tempo. No entanto, embora seus impactos sejam notáveis no mundo todo, há um abismo socioeconômico e geográfico que separa os maiores responsáveis pelas emissões daqueles que mais sofrem com elas. Essa disparidade foi revelada em um mapa, disponível em uma nova pesquisa publicada na quarta-feira, 14, na revista científica Science Advances.

É de conhecimento público que uma pequena parte do globo é responsável pela esmagadora maioria das emissões de gases do efeito estufa; no entanto, essas emissões ameaçam a saúde de todo o planeta. Em resumo: os países ricos apresentam as maiores pegadas de carbono, mas são as nações mais pobres que suportam o peso dos impactos relacionados ao clima.

O mapa, elaborado por pesquisadores da Monterey Bay Aquarium e da Duke University, nos Estados Unidos, é uma ilustração nítida desse fenômeno, mostrando os grandes causadores e as principais vítimas do aumento da temperatura.

Imagem: Monterey Bay Aquarium/Fast Company

No mapa, as emissões são mostradas em um gradiente de azul: quanto mais altas as emissões, mais brilhante é a cor. As anomalias de temperatura são reveladas em um gradiente vermelho, em que o aquecimento extremo se traduz pelo vermelho mais brilhante – em contraste com o vermelho mais escuro, que representa mudanças de temperatura mais baixas.

A imagem mostra claramente que locais como o nordeste dos Estados Unidos, Europa ocidental e leste da China, realçados no mapa pela coloração azul brilhante, são os maiores responsáveis pelas emissões atmosféricas. Já lugares como a Europa oriental, Ártico e grande parte da África, destacados pelo vermelho brilhante, estão fadados a sofrer com o aquecimento extremo provocado pelas mudanças climáticas, embora pouca ou nenhuma emissão seja liberada dessas regiões.

Imagem: Monterey Bay Aquarium/Fast Company

Para montar o mapa, a equipe utilizou conjuntos de dados existentes sobre os quatro principais agentes de captura de calor: dióxido de carbono, metano, óxido nitroso e carbono negro. Juntos, esses três gases e um aerossol representam 92% de todas as emissões de gases de efeito estufa. Com os dados em mãos, os pesquisadores mapearam as fontes dessas emissões para mostrar de onde elas se originaram, entre 1970 e 2018.

Os pesquisadores combinaram os dados obtidos com mapas de projeção de aquecimento, que foram criados por fontes como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. O resultado foi um mapa que mostra a disparidade entre os locais de origem das emissões e as regiões onde as temperaturas vão subir mais.

É um cenário assustadoramente desigual: 90% das emissões geradas pelo homem que causam as mudanças climáticas vêm de apenas 8% da superfície do planeta. E, embora a fonte dessas emissões esteja concentrada em um pequeno espaço do globo, mais da metade da Terra será vítima do aquecimento extremo até o final do século 21. A pesquisa também observou que os oceanos absorvem 93% do calor provocado pelas mudanças climáticas, sendo fundamentais para mitigar os efeitos do aumento das temperaturas.

Kyle Van Houtan, que liderou a pesquisa, disse ao portal Fast Company que é a primeira vez que a contabilidade global das emissões que levam às mudanças climáticas foi mapeada dessa forma. Agora, o mapa poderá ser usado para comunicar melhor o problema ao público, bem como para pesquisas subsequentes que verifiquem o potencial das regiões afetadas para lidar com o calor no futuro. Van Houtan, atual presidente e CEO do Loggerhead Marinelife Center na Flórida, iniciou o estudo quando era cientista-chefe do Monterey Bay Aquarium, na Califórnia (EUA).

Ele explicou que a razão dessas disparidades está associada à maneira como os gases do efeito estufa se espalham. Embora existam efeitos localizados nas fontes de poluição – como índices mais altos de asma em regiões próximas a usinas de carvão –, as emissões de um local específico afetam toda a atmosfera. “Essas emissões”, diz Van Houtan, “funcionam como um cobertor ao redor do planeta que impede a saída do calor”.

E isso esclarece por que lugares como o Ártico, que não produz emissões de gases do efeito estufa, está aquecendo a taxas alarmantes. “A verdade é que 99% do planeta está recebendo um retorno desigual pela poluição que causaram, sofrendo impactos muito maiores do que suas emissões. As mudanças climáticas são, de fato, injustas”, diz Houtan.

O pesquisador acredita que é dever da ciência transmitir ao público o que exatamente está acontecendo com nosso planeta. Ao colocar as causas e os efeitos do aquecimento global juntos em um mapa, ele espera que as pessoas entendam como a região onde vivem está contribuindo para as mudanças climáticas – e de que maneira pode ser afetada por elas –, para que pressionem as autoridades por medidas eficazes de combate às emissões.

Isabela

Redatora e revisora de textos, formada em Letras pela Universidade de São Paulo. Vegetariana, ecochata na medida, pisciana e louca dos signos. Apaixonada por literatura russa, filmes de terror dos anos 80, política & sociedade. Psicanalista em formação. Meu melhor amigo é um cachorro chamado Tico.

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