Como o ser humano perdeu a cauda?

Você já se perguntou como o ser humano perdeu a cauda

Uma rápida olhada em qualquer mapa da evolução humana comprova que os seres humanos descendem dos macacos. No entanto, os “parentes” mais próximos a nós, seres humanos, como os chimpanzés, também não possuem essa característica. 

Em macacos, a cauda serve um propósito essencial para a sobrevivência dos animais — ela dá equilíbrio para que eles se equilibrem em árvores, além de, em algumas espécies, agir como um dedão extra. Porém, 25 milhões de anos atrás, macacos sem cauda começaram a aparecer em registros fósseis. 

Seus descendentes incluem gorilas, chimpanzés, bonobos e orangotangos, além dos seres humanos. Os cóccix dessas espécies são um vestígio das vértebras que constituem a cauda de outros animais.

Foto de anudeep mad na Unsplash

Por muito tempo, a pergunta de como o ser humano perdeu a cauda permaneceu sem respostas. Contudo, uma pesquisa publicada na revista científica Nature, indica que essa característica pode ter sido resultante de uma mutação genética. 

A breve cauda dos seres humanos

Tecnicamente, todos os seres humanos, por um período breve, tiveram uma cauda. Ao observar embriões humanos, é possível ver uma pequena cauda desenvolvida por volta da sexta semana de gestação. Esta extensão da coluna vertebral contém até uma dúzia de vértebras. 

Dentro de duas semanas, metade deles é reabsorvida, com a outra metade se fundindo no cóccix. 

Alguns humanos, a grande maioria homens cis, nascem com essa pequena cauda, que possui vasos sanguíneos e, em alguns casos, músculos. Contudo, a sua aparição é tão rara em nascimentos humanos que é difícil encontrar mais do que dezenas delas na literatura médica.

Quando ocorre, a “verdadeira” e breve cauda do ser humano é removida cirurgicamente após o parto.

Mas, afinal, como o ser humano perdeu a cauda?

A pesquisa publicada na Nature foi conduzida por Bo Xia, que foi estudante de pós-graduação da Escola de Medicina Grossman da Universidade de Nova York durante o tempo do estudo e que é um membro júnior da Harvard Society of Fellows e pesquisador principal do Broad Institute do MIT e Harvard. 

Xia sempre se perguntou como o ser humano perdeu a cauda. E, após um acidente que resultou em uma lesão em seu cóccix, iniciou a sua pesquisa. Juntamente de seu time, o especialista comparou os genomas de seis espécies de macacos com os de nove espécies de macacos com cauda, ​​em busca de mutações que pudessem explicar por que os macacos não tinham cauda. 

Durante essa análise, o especialista encontrou um gene conhecido como “Fator de transcrição T-box” T (T-box transcription factor T, ou TBXT), que foi descoberto em 1927 pela geneticista ucraniana Nadine Dobrovolskaya-Zavadskaya. 

Contudo, ele e seus colegas descobriram que as diferenças nas caudas não vieram de mutações do TBXT, mas sim da inserção de um trecho de DNA chamado AluY no código regulador do gene nos ancestrais dos macacos e dos humanos.

Um pedaço do trecho AluY “saltou” de encontro a um gene crítico para a construção de caudas, interferindo em sua capacidade de realizar seu trabalho. Os “genes saltadores”, como são conhecidos, podem se mover e inserir-se repetida e aleatoriamente no código humano.

Xia encontrou uma inserção AluY que permaneceu no mesmo local dentro do gene TBXT em humanos e macacos, resultando na produção de duas formas de RNA TBXT. Um deles, de acordo com os pesquisadores, contribuiu diretamente para a perda da cauda.

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O que isso significa?

Isso tudo indica que o ser humano perdeu a cauda em um processo quase instantâneo, em vez de em um processo gradual. A informação revelada no estudo condiz com registros fósseis dos primatas, que de repente apareceram sem cauda entre a evolução. 

Os autores do estudo teorizam que a mutação pode ter surgido aleatoriamente em um único macaco, há cerca de 20 milhões de anos, sobreviveu ao longo do tempo e foi passando de geração a geração. 

“É realmente significativo que algo se perca numa grande explosão, porque não é necessário postular milhões de anos de pequenas mudanças sucessivas acumulando-se gradualmente. Isso pode nos dizer por que, de repente, quando vemos os macacos [emergir], eles não têm cauda”, diz Carol Ward, antropóloga da Universidade de Missouri que não esteve envolvida no estudo, ao New Scientist.

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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