O que é racismo estrutural e suas consequências?

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Racismo estrutural é um termo utilizado para descrever as desigualdades sistêmicas (social, política, ambiental e econômica) e institucionais que afetam as pessoas racializadas, como negros e indígenas.  Esse processo é influenciado pelo que é chamado de colorismo, o que significa que as pessoas com tons de pele mais escuro, cabelo crespo e nariz largo (características consideradas pela branquitude como indicativos de não branquitude) são as mais vitimizadas.  

O racismo estrutural gera danos muitas vezes irreversíveis para os indivíduos vitimizados, em especial as mulheres negras e indígenas. Ele se reflete na falta de acesso à educação, emprego, saneamento, afeto, saúde e direitos básicos, como o próprio direito à vida. 

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É o que revela pesquisa da Universidade Federal da Bahia.

O racismo estrutural é diferente do racismo individual, que se concentra nas atitudes e ações de indivíduos. O primeiro é mais difícil de ser detectado e combater, pois é enraizado nas estruturas e instituições da sociedade.

Racismo no Brasil

Silvio Almeida, sociólogo e professor universitário brasileiro e autor do livro “Racismo Estrutural no Brasil: notas sobre a desigualdade racial” publicado em 2008, argumenta que, no 

Brasil, o racismo é estrutural e está enraizado nas instituições e práticas sociais, sendo uma consequência do processo de colonização do país. 

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Lideranças indígenas e ONGs pedem justiça para esses e outros assassinatos ocorridos anteriormente.

O intelectual afirma que o racismo brasileiro é diferente do racismo dos Estados Unidos e da Europa, pois é mais sutil e disfarçado, sendo frequentemente negado ou minimizado. 

De acordo com o pensador, as desigualdades raciais brasileiras estão estreitamente ligadas a questões de gênero e classe, e as mulheres negras são particularmente mais vulneráveis à discriminação e violência.

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Almeida argumenta que para combater o racismo é necessário abordar essas questões estruturais e mudar as instituições e a estrutura social para garantir a igualdade de oportunidades para todos.

Qual é a diferença entre racismo estrutural e racismo institucional?

Racismo estrutural e racismo institucional são conceitos relacionados, mas com diferenças conceituais.

O racismo estrutural se refere às estruturas sociais e econômicas que criam desigualdades entre grupos raciais. Isso pode incluir políticas e práticas que favorecem certos grupos raciais em detrimento de outros, bem como a falta de representação e acesso a oportunidades para certos grupos raciais.

O racismo estrutural é um fenômeno sistêmico que afeta toda a sociedade e pode ser difícil de identificar e combater, pois é profundamente enraizado nas instituições e na estrutura social.

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Já o racismo institucional se refere a como as instituições, como escolas, empresas, e agências governamentais, perpetuam a desigualdade racial através de políticas, práticas e comportamentos discriminatórios. 

Ele se manifesta na forma de discriminação racial no local de trabalho, nas escolas e nos sistemas judiciais. O racismo institucional também pode ser mais fácil de identificar e combater, pois se concentra nas instituições específicas.

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Pesquisa buscou entender a relação entre condições sociais e de saúde e variáveis demográficas, socioeconômicas e compor…

Em resumo, o racismo estrutural se refere a desigualdades raciais sistêmicas enquanto o racismo institucional se refere a discriminação racial perpetuada pelas instituições. Ambas as formas de racismo são prejudiciais e devem ser combatidas.

Racismo reverso

Racismo reverso” é uma expressão equivocada utilizada majoritariamente por pessoas brancas como forma de proteção de seus privilégios raciais. 

O termo foi criado por supremacistas brancos com o intuito de banalizar a luta de pessoas racializadas. 

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Os dados fazem parte da tese de Lívia Helena Terra e Souza, intitulada “A boca travada no racismo: desigualdades raciais…

A expressão “racismo reverso” costuma ser utilizada em situações de tensão, quando o branco se sente ofendido por pessoas negras, e de outras raças/etnias, ou quando não concorda com uma ação afirmativa, como o uso de cotas. 

No Brasil, mulheres negras têm maior mortalidade por covid que qualquer grupo na base do mercado de trabalho

Desigualdades raciais e de gênero aumentam a mortalidade pela covid-19, mesmo dentro da mesma ocupação.

As pessoas que usam essa expressão negam aceitar que apelidos como “branquelo” não são produtos-impulsionadores que retroalimentam prejuízos socioeconômicos para os brancos como as expressões racistas são para os negros, a exemplo da solidão da mulher negra, que é preterida nos relacionamentos afetivos e nas políticas econômicas no Brasil. 

Racismo institucional

A expressão racismo institucional se refere à discriminação racial perpetuada pelas instituições, tais como escolas, empresas e agências governamentais. Esse fenômeno social se manifesta na forma de políticas, práticas e comportamentos discriminatórios que afetam indivíduos e grupos raciais de maneira desproporcional.

Greve dos garis em 2015. Grupo formado por maioria negra mostra como postos de trabalho estão intimamente ligados à questão da cor da pele e à classe social. O trabalho de gari, de menor prestigio social e com salários mais baixos, é ocupado por uma maioria negra. Imagem de Mídia Ninja, está licenciada sob CC-BY 2.0

Exemplos de racismo institucional incluem:

  • Discriminação racial no local de trabalho, como a falta de promoções e oportunidades de desenvolvimento para pessoas negras e outros grupos minoritários raciais;
  • Discriminação racial no sistema educacional, como a falta de investimentos em escolas de minorias raciais e a disciplina desproporcional de alunos negros;
  • Discriminação racial no sistema de justiça, como a falta de representação em júris e a condenação desproporcional de pessoas negras e outros grupos minoritários raciais.

Racismo ambiental

Racismo ambiental é um termo cunhado em 1981 pelo líder afro-americano de direitos civis Dr. Benjamin Franklin Chavis Jr.. O conceito surgiu nos Estados Unidos em um contexto de manifestações do movimento negro contra injustiças ambientais.

“Desde a chegada dos não indígenas a gente sofre com problemas territoriais”

Imagine ter seu território invadido por pessoas e ser destituído de toda sua espiritualidade, ancestralidade e cidadania…

O racismo ambiental e o racismo estrutural estão estritamente relacionados. Comunidades de minorias raciais, como negros e indígenas são frequentemente alvos de poluição e outras formas de degradação ambiental.

Essas comunidades são frequentemente forçadas a viverem perto de instalações industriais e outras fontes de poluição, e o racismo estrutural contribui para essa desigualdade, pois os grupos racializados têm menos acesso a políticas e práticas que viabilizam o acesso a um ambiente saudável.

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As minorias raciais podem ser menos representadas nas decisões políticas relacionadas ao meio ambiente, ou podem ter menos acesso a recursos financeiros para lutar contra a poluição e outras formas de degradação ambiental.

Racismo no futebol

O racismo no futebol é um problema global que afeta jogadores, treinadores e torcedores. Ele pode se manifestar de várias formas, como xingamentos, ameaças, gestos de ódio e violência. 

Esse fenômeno é um sintoma do racismo estrutural e precisa ser reprimido pelas autoridades esportivas. 

Como combater o racismo?

O racismo precisa ser combatido em várias frentes, incluindo:

  • Educação: é importante que as pessoas aprendam sobre as diferenças culturais e as desigualdades históricas que contribuem para o racismo, como processo de colonização no Brasil;
  • Denúncia: é importante que as pessoas denunciem qualquer comportamento racista de que sejam testemunhas, seja ele on-line ou off-line;
  • Representação: é importante que as pessoas de diferentes raças e etnias sejam representadas em todos os aspectos da sociedade, incluindo em cargos de liderança e em mídia;
  • Políticas antirracistas: é importante que as organizações e instituições adotem políticas e práticas antirracistas para combater o racismo de maneira sistêmica;
  • Solidariedade: é importante que as pessoas se solidarizem com as vítimas de racismo e trabalhem juntas para construir uma sociedade mais justa e inclusiva;
  • Mudança de atitude: é importante que todos (brancos e não brancos) mudem suas atitudes e comportamentos de modo a colocar em prática o antirracismo,  contribuindo para uma sociedade mais justa e inclusiva. 

Se você quer se engajar na luta antirracista, procure se envolver em coletivos antirracistas, prestigiar intelectuais negros e indígenas (como Ailton Krenak, Bernardine Evaristo, Lélia Gonzalez, Bell Hooks, Djamila Ribeiro e Angela Davis) e ler blogues focados em temas como a luta antirracista e o feminismo negro, como o  https://www.geledes.org.br/

Além disso, procure consumir conteúdo audiovisual que aborde o racismo, ainda que de forma indireta, como séries e filmes, principalmente os brasileiros, que fazem jus a nossa realidade.

Filmes brasileiros sobre racismo

  • “Bacurau” (2019)
  • “Xingu” (2012)
  • “Que horas ela volta?” (2015)
  • “Cidade de Deus” (2002)
  • “Tropa de Elite” (2007)
  • “O Som ao Redor” (2012)
  • “Futuro Beach” (2014)
  • “A Voz do Silêncio” (2017)
  • “Madame Satã” (2002)
  • “Linha de Passe” (2008)
  • “O Menino e o Mundo” (2013)
  • “Quilombo” (1984)
  • “Bela Vista” (2018)
  • “A Cor do Pecado” (2002)
  • “Cidade de Deus” (2002)
  • “A Voz do Silêncio” (2019)
  • “O Som ao Redor” (2012)
  • “Jardim das Aflições” (2017)
  • “A Queda da Casa de Usher” (2003)
  • “Gonzaga – De Pai pra Filho” (2012)
  • “Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios” (2011)

Fontes

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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