Foto de Paul Orford na Unsplash
Uma pesquisa publicada na revista Nature comprovou a presença de assinaturas da doença de Alzheimer no cérebro de golfinhos encalhados. A descoberta reforça um estudo de 2022, que examinou os cérebros de 22 mamíferos marinhos encalhados e descobriu uma patologia semelhante à doença de Alzheimer.
A nova pesquisa revelou que os animais encalhados apresentavam danos cerebrais semelhantes aos de pessoas com Alzheimer. Segundo os pesquisadores, assim como pessoas com Alzheimer ficam confusas e se perdem longe de suas casas, o mesmo pode acontecer com os golfinhos, que aparecem encalhados na praia.
No entanto, a parte mais impactante da descoberta foi outra. Acredita-se que essas mudanças comportamentais em golfinhos estejam associadas à eutrofização resultante da poluição oceânica.
Na Lagoa Indian River (IRL), na Flórida, por exemplo, as mudanças climáticas e a poluição oceânica alimentam a proliferação de algas, conhecida como eutrofização. Essas proliferações liberam toxinas que se acumulam na cadeia alimentar, representando uma ameaça para peixes, animais terrestres e seres humanos.
Os golfinhos, por serem longevos e altamente expostos, podem servir como um sistema de alerta precoce da natureza. Seus cérebros e corpos revelam o que a exposição crônica a toxinas pode significar para o resto do ecossistema.
No estudo, os cientistas analisaram 20 golfinhos da espécie Tursiops truncatus truncatus que ficaram encalhados na Lagoa Indian River.
Na lagoa, as mortes de golfinhos tendem a aumentar durante o verão, quando as florações de algas nocivas (FALs) atingem seu auge. Cientistas acreditam que esse aumento sazonal não é uma coincidência.
De fato, a descoberta aponta para um padrão preocupante. Os meses mais quentes podem aumentar a vulnerabilidade dos golfinhos a compostos neurotóxicos de algas.
Foi observado que durante as épocas de floração, os cérebros dos golfinhos continham 2.900 vezes mais ácido 2,4-diaminobutírico ou DABA – uma neurotoxina produzida por cianobactérias – do que em períodos sem floração.
O DABA é um neurolatirógeno, um composto que danifica os nervos. Dentro de algumas horas de exposição à neurotoxina, ela pode desencadear hiperirritabilidade, tremores e convulsões.
Mas os danos são ainda mais profundos. Os golfinhos estudados exibiram 536 genes alterados, indicando sinapses GABAérgicas interrompidas, alterações na membrana basal e aumento dos fatores de risco para Alzheimer, que pioram a cada temporada de floração.
A equipe também descobriu que golfinhos encalhados durante a temporada de floração apresentavam níveis mais baixos de glutamato descarboxilase (GAD). Essa enzima transforma o glutamato (um neurotransmissor estimulante) em GABA (um neurotransmissor calmante).
Sem GAD suficiente, o equilíbrio do cérebro tende à superexcitação, levando à discinesia e a transtornos mentais, psiquiátricos, neurodegenerativos e do neurodesenvolvimento.
Na doença de Alzheimer, por exemplo, ambos os genes GAD1 e GAD2 entram em declínio. E, nos casos dos golfinhos, a DABA pode estar acelerando esse declínio, piorando os danos e levando o cérebro dos animais a uma disfunção maior.
Além disso, foi observado que os golfinhos encalhados também sofreram perda auditiva severa ou profunda. Essa condição afeta o comportamento, a navegação e os laços sociais, comprometendo ainda mais a saúde dos animais.
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