Abelhas e chimpanzés aprendem habilidades complexas com outros membros da mesma espécie

Abelhas e chimpanzés demonstraram uma capacidade surpreendente de aprender habilidades complexas uns com os outros, desafiando a crença anterior de que tal capacidade era exclusiva dos humanos, revelaram dois estudos divulgados ontem (6).

A “cultura cumulativa” é um dos maiores legados da humanidade – nossa habilidade de desenvolver competências, conhecimento e tecnologia ao longo do tempo, refinando-os à medida que são transmitidos através das gerações. Essa habilidade de transferir conhecimento que nenhum indivíduo poderia adquirir sozinho tem sido fundamental para impulsionar a ascensão da humanidade e seu domínio sobre o mundo.

Imaginem deixar algumas crianças em uma ilha deserta. Elas poderiam, com sorte, sobreviver, mas jamais aprenderiam a ler ou escrever, pois isso demanda a transmissão do conhecimento das gerações anteriores, explicou Lars Chittka, ecologista comportamental da Universidade Queen Mary de Londres e coautor do estudo sobre abelhas.

Experimentos anteriores já haviam sugerido que alguns animais são capazes do que é conhecido como aprendizado social – a habilidade de aprender observando outros da mesma espécie. Alguns desses comportamentos parecem ter evoluído ao longo do tempo, como a notável habilidade de navegação dos pombos-correio ou a capacidade dos chimpanzés de quebrar nozes, indicando a existência da cultura cumulativa.

No entanto, é difícil para os cientistas determinarem se um indivíduo de uma espécie, como um pombo ou chimpanzé, teria descoberto essas habilidades sozinho. Portanto, uma equipe de pesquisadores liderada pelo Reino Unido voltou seus olhos para as abelhas.

O primeiro passo foi treinar um grupo de “demonstradores” de abelhas para executar uma habilidade complexa que poderia ser ensinada aos demais. No laboratório, as abelhas foram desafiadas com uma caixa de quebra-cabeça de duas etapas, onde tinham que pressionar primeiro uma aba azul e depois uma aba vermelha para acessar o prêmio açucarado no final.

Alice Bridges, coautora do estudo da Universidade Queen Mary, explicou que a tarefa era desafiadora para as abelhas, já que exigia que aprendessem algo sem uma recompensa imediata durante a primeira etapa. Inicialmente, as abelhas tentaram apenas pressionar a aba vermelha, sem mover a azul primeiro, desistindo facilmente.

Para motivar as abelhas, os pesquisadores colocaram uma recompensa açucarada ao final da primeira etapa, retirando-a gradativamente à medida que as abelhas aprendiam o processo. Os demonstradores foram então emparelhados com abelhas “ingênuas”, que observaram os primeiros resolverem o quebra-cabeça antes de tentarem sozinhas.

Cinco das 15 abelhas ingênuas resolveram rapidamente o quebra-cabeça, sem precisar de recompensa após a primeira etapa. Essa descoberta surpreendeu os pesquisadores, mostrando como algumas abelhas conseguiram resolver um problema complexo através do aprendizado social.

Alex Thornton, professor de evolução cognitiva da Universidade de Exeter, no Reino Unido, observou que embora a amostra fosse pequena, a conclusão era clara: a tarefa era excepcionalmente desafiadora para ser aprendida individualmente, mas algumas abelhas conseguiram superar esse desafio através do aprendizado social.

Os autores do estudo afirmaram que essa foi a primeira demonstração de cultura cumulativa em um invertebrado.

Chimpanzés – nossos parentes mais próximos na natureza – também parecem possuir essa habilidade, de acordo com um estudo separado publicado na Nature Human Behavior. Os chimpanzés, em um santuário na Zâmbia, foram desafiados com uma caixa de quebra-cabeça mais complexa, envolvendo várias etapas para obter uma recompensa.

Após serem treinados por demonstradores, os chimpanzés mostraram um progresso notável na resolução do quebra-cabeça, demonstrando novamente a capacidade desses animais de transmitir habilidades complexas uns aos outros.

Esses estudos desafiam a concepção de que apenas as espécies “mais inteligentes”, como os humanos, são capazes de cultura cumulativa. Eles destacam como muitas vezes subestimamos as habilidades cognitivas de outras espécies em relação às nossas.

Fonte: Nature

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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