Os super corais realmente têm poderes? 

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Os super corais são corais que demonstraram a capacidade de resistir, tolerar e se recuperar dos efeitos nocivos das mudanças climáticas. E, interessantemente, parece que esses organismos podem, também, prosperar nestas situações. 

A busca e descoberta pelos super corais se dá pela necessidade de proteger os recifes de corais do mundo todo. A partir do seu estudo, é possível usá-los como um modelo para dar suporte a outros corais nos ambientes mais hostis do futuro.

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Importância dos corais 

Os corais podem cobrir apenas 1% do oceano, mas, em compensação, abrigam 25% de todas as espécies marinhas existentes. Além disso, também fornecem alimentos, reduzem marés de tempestade e protegem contra a erosão. 

No entanto, frente à crise climática, esses organismos estão sob constante ameaça de desaparecer eternamente. 

De fato, uma pesquisa apresentada no Ocean Sciences Meeting de 2020 estima que, até 2050, cerca de 70 a 90% de todos os recifes de corais desaparecerão. Sendo isso uma consequência, principalmente, do aquecimento das águas oceânicas, da acidez oceânica e da poluição.

Em 2025, em uma conferência da ONU sobre o oceano, onze países assinaram um compromisso para proteger recifes resistentes ao clima. E, separadamente, governos e parceiros prometeram US$ 25 milhões para um fundo global para recifes de corais.

Isso significa que, para que esse fato aconteça, os países deverão diminuir suas emissões de carbono para retardar o aquecimento do oceano. 

Modelo de resiliência

A natureza, porém, já possui parte da solução para a conservação dos corais — os próprios super corais. Como já mencionado, esses organismos podem ser usados em esforços de restauração para proteger sistemas de recifes vulneráveis.

Um estudo de 2025, por exemplo, oferece evidências convincentes de que esses corais resilientes podem manter sua tolerância ao calor mesmo após serem movidos para habitats de recifes mais estáveis.

O estudo se concentrou em corais de lagoas de manguezais próximas às Ilhas Baixas, na Grande Barreira de Corais — ambientes conhecidos por suas condições adversas, como temperaturas flutuantes, baixo nível de oxigênio e baixa salinidade.

Os pesquisadores transferiram super corais para outra região e mantiveram uma monitoração constante na área. Foi observado que, apesar das condições mais estáveis de que seu habitat anterior, os corais mantiveram sua tolerância ao calor.

Segundo os especialistas, a análise da expressão genética mostra que os corais transplantados ativam vias associadas ao reparo do DNA, metabolismo e homeostase, todos mecanismos essenciais que os ajudam a sobreviver ao estresse térmico.

“Isso sugere que sua resiliência não é apenas ambiental, mas está profundamente enraizada em sua biologia”, disse a Dra. Christine Roper, pesquisadora principal do estudo.

“Este é um avanço significativo”, disse ela. “Até agora, não sabíamos se essas características persistiriam fora de seu habitat nativo. Nossas descobertas mostram que sim, e isso abre caminho para o uso desses corais em esforços de restauração.”

E, da mesma forma, os super corais podem ser selecionados e replantados para aumentar a resiliência de recifes que sejam ecologicamente ou economicamente significativos.

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Não tão super 

É importante notar, entretanto, que colocar todo o peso da restauração dos recifes do mundo inteiro nos super corais não é viável. Eles são uma solução única da natureza, mas devem ser utilizados em sincronia com ações climáticas urgentes. 

“Os super corais podem nos ajudar a manter a linha, mas a verdadeira solução é reduzir drasticamente as emissões de carbono que estão causando essa crise.”

Além disso, a definição de super coral não é algo concreto dentro da comunidade científica. Esses organismos são considerados “super” porque resistem à condições extremas. Porém, eles sobrevivem devido ao refúgio e/ou devido à tolerância.

A sobrevivência por meio de refúgio é alcançada porque algum fator ambiental protege o coral do estresse. 

Essa proteção pode ser fornecida por outros organismos, como árvores de mangue, ou por condições hidrológicas, como correntes de água mais frias, que mantêm uma parte do ecossistema resfriada enquanto o restante superaquece, facilitando a sobrevivência do coral.

Por outro lado, a sobrevivência através da tolerância pode ser caracterizada como uma capacidade aumentada de um coral para lidar com o estresse sem a necessidade de ajuda externa. Mas, através de mecanismos intrínsecos derivados da seleção genética ou do condicionamento a um estresse particular.

Portanto, nem todo super coral é o mesmo. E entender o fator de sua resiliência, além de os níveis de estresse que cada espécie tolera é importante para que possíveis planos para a conservação de recifes sejam eficazes. 

Por fim, também é preciso entender que alguns super corais podem não ser tão resistentes às condições futuras quanto às atuais, à medida que as condições oceânicas mudam. Sendo assim, a principal solução para o desaparecimento dos corais sempre vai derivar da ação humana, que desencadeou essa situação em primeiro lugar. 

A diminuição das emissões de CO2 para retardar o aquecimento dos oceanos vem em primeiro lugar. Os super corais são apenas um auxílio temporário, e não permanente — mas ainda sim uma aula sobre a resiliência das espécies marinhas. 

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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