Projeto da UFF conserva a biologia marinha brasileira através do monitoramento de ilhas oceânicas

Por UFF | O Brasil possui quatro ilhas oceânicas tropicais: Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Atol das Rocas, Arquipélago de Fernando de Noronha, e o de Trindade e Martin Vaz. Essas ilhas são extremamente isoladas, com pouco impacto humano, possuem espécies únicas e um importante papel como fonte de biodiversidade no mundo. Ainda assim, são desconhecidas para a maioria das pessoas.

É nesse contexto que se se insere o projeto “Monitoramento de longa duração das comunidades recifais das ilhas oceânicas brasileiras”, que integra o Programa Ecológico de Longa Duração (PELD) do CNPq, também sendo conhecido, por esse motivo, de PELD ILOC (ILOC = ilhas oceânicas). O projeto, que tem a coordenação do professor do Departamento de Biologia Marinha da Universidade Federal Fluminense, Carlos Eduardo Ferreira, possui um papel fundamental no entendimento dos ecossistemas das ilhas oceânicas, criando assim informações básicas para soluções de problemas ambientais atuais e futuros. O objetivo é o de pesquisar e promover os resultados obtidos ao longo dos anos para a comunidade científica e sociedade em geral, além de produzir conhecimento para criação de políticas públicas que atuam na proteção da biodiversidade ao redor das ilhas oceânicas brasileiras.

De acordo com o coordenador do projeto, essas ilhas têm como característica a distância e o isolamento da costa, sendo, portanto, menos impactadas pela influência humana, tal como a poluição e a pesca predatória. Dessa maneira, essas ilhas ainda sustentam uma abundância de recursos marinhos maior do que os dos ecossistemas costeiros como, por exemplo, espécies de peixes grandes e tubarões, que já não estão presentes na costa em virtude da pesca intensiva.

“Todas as ilhas oceânicas brasileiras têm parte da sua área protegida como refúgio contra a pesca, ou mesmo sua área total, como no Atol das Rocas. Por serem isoladas da costa, também possuem muitas espécies endêmicas, que evoluíram sem influência da costa, e somente existem nas ilhas oceânicas. Muitas dessas espécies endêmicas de invertebrados marinhos, como corais, esponjas e mesmo algas, possuem grande potencial farmacológico. Estudar e conservar a biodiversidade marinha é importante para a sociedade entender como os impactos humanos afetam os ecossistemas marinhos e as espécies de animais e invertebrados, recursos importantes que na costa já foram superexplorados e começam a faltar. As ilhas oceânicas são o único retrato de como eram os ecossistemas marinhos da costa no passado”, enfatiza.

As expedições científicas para cada uma das quatro ilhas oceânicas brasileiras tiveram início em 2013. Nelas, são monitorados diferentes componentes do sistema recifal, como peixes, organismos associados ao fundo (bentônicos), saúde das colônias de corais. Também são coletados organismos para a investigação de compostos com potencial biotecnológico e outros para a identificação da presença de organismos tóxicos ao ser humano. Para isso, além da equipe de alunos que compõem o projeto, o PELD ILOC tem capacitado mergulhadores, fotógrafos e voluntários do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em protocolos de monitoramento.

Uma das bolsistas integrantes do PELD ILOC, a bióloga e pós-doutora pela UFF Marina Nasri Sissini, coordenadora técnica do projeto, explica que “todas essas expedições requerem um planejamento detalhado e uma logística desafiadora. Com exceção de Fernando de Noronha, onde é possível chegar de avião, nas outras ilhas só é possível chegar de navio, levando de um a cinco dias de navegação. É preciso ter uma equipe capacitada tanto para a amostragem dos diferentes objetivos que o projeto contempla, como também para questões de segurança e convivência em locais isolados, já que podemos passar até dois meses isolados”, destaca.

Uma vez que a expedição retorna à civilização, as amostras e os dados são distribuídos entre os diversos pesquisadores espalhados em universidades públicas do Brasil, passando a fazer parte de parte de trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses. Marina menciona dois exemplos capazes de ilustrar isso. Um deles é o caso do impacto da pesca: “os dados de monitoramento de peixes recifais trouxeram importante contribuição de espécies com valor econômico que decaíram em abundância ao longo tempo devido à exploração direta, como no caso da ilha da Trindade. Já o monitoramento de espécies de dinoflagelados tóxicos indicou a presença abundante de uma espécie com alto potencial de toxicidade em Fernando de Noronha, e tal fato foi comunicado aos gestores e agentes de saúde locais para que haja uma maior e mais eficiente avaliação de casos de intoxicação alimentar por frutos do mar, possibilitando a futura implementação de sistemas de alerta e contingência”.

Marina relembra que, neste quase um ano e meio de PELD ILOC, foram muitas as situações marcantes que viveu, e que envolvem o desenvolvimento de habilidades para muito além da escrita de um projeto: “Não poderia deixar de citar a participação em uma expedição científica, com pesquisadores de diferentes áreas, o que traz uma vivência única e ampla sobre a ilha em questão. É você, literalmente, mergulhar em um laboratório natural e vivenciar tudo aquilo que você leu (ou ainda vai ler) a vida inteira”, finaliza.


Este texto foi originalmente publicado pela UFF de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original. Este artigo não necessariamente representa a opinião do Portal eCycle.

Carolina Hisatomi

Graduanda em Gestão Ambiental pela Universidade de São Paulo e protetora de abelhas nas horas vagas.

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