Oceanos

Pandemia nos oceanos: espécie de ouriço-no-mar está quase entrando em extinção devido a uma doença desconhecida 

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Uma nova pesquisa revelou que uma pandemia marinha está silenciosamente ameaçando espécies de ouriço-do-mar de extinção. Segundo as informações divulgadas, uma doença ainda não identificada está afetando os ouriços-do-mar Diadema africanum nas Ilhas Canárias desde 2021, causando um colapso quase completo da espécie.

Embora ainda não se saiba todas as consequências da extinção da espécie, especialistas apontam que provavelmente serão severas. 

Isso porque os ouriços-do-mar são conhecidos como “engenheiros do ecossistema marinho”, responsáveis pelo controle do crescimento de algas e por promover a sobrevivência de organismos de crescimento lento, como corais e algumas algas calcárias. Ademais, também são fontes de alimentos para diversas espécies de peixes, crustáceos, estrelas-do-mar e mamíferos marinhos. 

O desaparecimento da espécie nas Ilhas Canárias foi primeiramente observado em 

2022. No mesmo ano, a equipe de pesquisadores liderada por Iván Canaro, um estudante de doutorado na Universidade de La Laguna, na Espanha, notou que os ouriços D. africanum começaram a morrer em massa perto das ilhas de La Palma e Gomera, no oeste das Canárias.

Dentro do mesmo ano, a doença que atingiu a área se espalhou para o leste do arquipélago. A doença fez com que os ouriços-do-mar se movessem menos e de forma anormal, ficassem insensíveis a estímulos e perdessem a carne e os espinhos antes de morrer.

Essa não foi a primeira vez que esses sintomas foram observados. E, de fato, esse não foi o primeiro surto de mortalidade em massa da espécie nas ilhas. 

No início de 2008 e novamente no início de 2018, uma doença matou cerca de 93% dos indivíduos de D. africanum perto de Tenerife e La Palma, e 90% perto das ilhas do arquipélago vizinho da Madeira.

No entanto, a “pandemia” de 2022 foi diferente de ambas instâncias. Em 2008, por exemplo, a espécie se recuperou do surto da doença relativamente fácil. Em vez disso, após 2022, uma segunda onda de mortalidade em massa atingiu as Ilhas Canárias ao longo de 2023.

Para avaliar o impacto da mortalidade, os pesquisadores analisaram a população de D. africanum em 76 locais nas sete principais ilhas do arquipélago entre o verão de 2022 e o verão de 2025. Além disso, mergulhadores profissionais também foram convidados para fornecer informações sobre a abundância relativa da espécie em seus locais de mergulho habituais em 2023 e entre 2018 e 2021.

Em seguida, utilizaram armadilhas para coletar larvas em dispersão em quatro locais ao largo da costa leste de Tenerife, em setembro de 2023, o pico anual da época de desova. Finalmente, quantificaram o número de juvenis recém-assentados nos mesmos locais em janeiro de 2024.

Foi concluído que a abundância de D. africanum nas Ilhas Canárias está em seu nível mais baixo de todos os tempos, com várias populações próximas da extinção. Além disso, o evento de mortalidade em massa de 2022-2023 afetou toda a população da espécie em todo o arquipélago. 

Os autores também concluíram que, desde o evento de 2022-2023, a reprodução efetiva de D. africanum cessou em grande parte na costa leste de Tenerife.

“Ainda não sabemos ao certo qual patógeno está causando essas mortalidades. Eventos de mortalidade em massa de Diadema em outras partes do mundo foram associados a ciliados escuticociliados do gênero Philaster, um tipo de organismo parasita unicelular”, disse Cano.

“Mortes anteriores nas Ilhas Canárias foram associadas a amebas como Neoparamoeba branchiphila e ocorreram após episódios de fortes ondas vindas do sul e atividade incomum das ondas, semelhante ao que vimos novamente em 2022. Sem uma identificação confirmada, não podemos afirmar se o agente chegou do Caribe por meio de correntes marítimas ou transporte, ou se as mudanças climáticas são as culpadas.”

“Ainda não temos certeza de como essa pandemia irá evoluir. Até agora, parece que ela não poupou outras populações de Diadema no Sudeste Asiático e na Austrália, o que é uma boa notícia — mas não podemos descartar a possibilidade de a doença reaparecer e potencialmente se espalhar ainda mais”, finalizou. 

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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