Indústria da moda: o impacto ambiental que você não vê

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Por trás das roupas que usamos todos os dias, existe uma grande engrenagem chamada indústria da moda – responsável por criar, produzir, distribuir e divulgar peças e acessórios que movimentam o mundo do vestuário.

O mercado têxtil é um caso raro de sucesso econômico na última década. Cresce em torno de 5,5% a cada ano. São 2,4 trilhões de dólares anuais movimentados no mundo todo, o que colocaria a indústria da moda como a 7ª maior economia do planeta se ela fosse um país. Tanto lucro, infelizmente, vem acompanhando, cada vez mais, por um enorme desperdício de matéria-prima (tecidos que poderiam ser reutilizados); altas emissões de carbono e, em geral, um grande impacto ambiental.

O relatório “A new textiles economy: Redesigning fashion’s future”, lançado em 2017 pela Ellen MacArthur Foundation, com o apoio da estilista Stella McCartney, traz dados assustadores. A cada segundo, o equivalente a um caminhão de lixo cheio de sobras de tecido é queimado ou descartado em aterros sanitários. Por ano, 500 bilhões de dólares são jogados fora com roupas que foram pouquíssimo usadas e que quase nunca são recicladas.

A pesquisa convida os fabricantes de roupa a reverem a maneira como a moda é produzida; começando por mudar a ideia de que roupas são descartáveis. A produção em escala global, com roupas sendo desenhadas em um país, produzidas em outro e comercializada no mundo inteiro, também faz com que a indústria da moda seja responsável por 1,2 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa por ano. Esse valor supera a aviação comercial e a indústria naval juntas.

Os impactos negativos da indústria da moda 

No total, acredita-se que a indústria da moda é um setor responsável por 10% de todas as emissões de carbono da humanidade. No entanto, ela também possui outros impactos ambientais negativos, como a poluição e escassez de água. 

Parte desses impactos foram acelerados devido ao avanço da fast fashion. As empresas da indústria que trabalham no modelo fast fashion observam o que as pessoas estão consumindo das marcas renomadas. Logo, fabricam em larga escala modelos parecidos, porém com qualidade inferior e um menor ciclo de vida. Desse modo, há uma maior garantia de que as peças serão consumidas.

Porém, peças fast fashion são utilizadas menos de cinco vezes. Além disso, geram 400% mais emissões de carbono do que peças comuns no processo de produção. Essas são utilizadas 50 vezes. Além disso, a produção de roupas não polui apenas com a emissão de carbono.

Para produzir fibras têxteis é preciso desmatar, utilizar fertilizantes, agrotóxicos, extrair petróleo e transportar, entre outras formas de poluição. 

Além disso, a produção em larga escala feita pelo modelo fast fashion incentiva o trabalho escravo e o trabalho análogo à escravidão; em especial nos países da Ásia, onde a mão de obra para a produção das peças é mais barata. 

Adicionalmente, 85% de todos os têxteis vão para o lixo todos os anos, segundo dados da UNECE. O aumento de lixo nos aterros sanitários apenas contribui para os iminentes problemas do planeta terra. O impacto físico dos aterros sanitários deriva da produção de uma quantidade significativa de chorume e biogás, rico em metano.

Soluções para reduzir o impacto da indústria da moda

Muita coisa precisa mudar para que o setor não seja, até 2050, responsável por ¼ das emissões de carbono do planeta todo. O estudo traz algumas propostas para que o setor se repense, tais como: desenvolver roupas que durem mais tempo e possam ser recicladas, alugadas ou revendidas; eliminar o uso de substâncias tóxicas e fibras plásticas nos tecidos; fazer da durabilidade um conceito mais atraente; melhorar radicalmente a reciclagem através da transformação do design, coleta e reprocessamento do vestuário; e fazer uso efetivo dos recursos e insumos renováveis.

O estudo defende que a indústria da moda deveria se aproximar da economia circular, em que o reaproveitamento é um grande valor.

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A ideia de que os tecidos não liberam toxinas ou fibras poluentes é uma questão forte ao relatório. Já que 500 mil toneladas de microfibras plásticas são liberadas na lavagem de roupas. Esse número é 16 vezes maior do que as micropartículas plásticas contidas em cosméticos, que já têm o uso proibido em diversos países. Para piorar, se nada for feito, a previsão é de que até 2050 sejam liberadas 22 milhões de toneladas de microfibras plásticas nos oceanos.

As fibras plásticas afetam o ecossistema oceânico e já estão entrando para a cadeira alimentar, ingeridas pelos animais marinhos. Empresas como H&M, Nike, Lenzing e C&A foram algumas das parceiras na iniciativa de divulgar o estudo e se comprometeram a rever suas linhas de produção.

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Como a indústria da moda pode se tornar sustentável

Um relatório realizado pela parceria entre McKinsey & Company e Global Fashion Agenda avaliou os esforços necessários da indústria da moda no combate à poluição ambiental. A conclusão mostrou que as principais contribuições que as marcas podem fazer para o meio ambiente incluem:

  • melhorar a mistura de materiais;
  • aumentar o uso de transporte sustentável;
  • melhorar as embalagens;
  • descarbonizar as operações de varejo; e
  • reduzir a superprodução.

A União Europeia estipulou, em 2022, uma regulamentação de eco-design para diminuir os impactos da indústria da moda. Porém, a regulamentação não é exclusiva para a indústria têxtil. Qualquer outra produção, de acordo com oficiais da UE, deverá seguir os padrões estabelecidos pela comissão para garantir produtos de melhor qualidade e vida útil. 

Uma das propostas para a implementação dessas leis é que os fabricantes devam usar uma certa quantidade de materiais recicláveis em seus produtos, ou coibir o uso de outros materiais difíceis de serem reciclados. Além de impulsionar a reciclagem, essa proposta, por exemplo, faz parte de uma tática da economia circular — onde não há desperdício e tudo que possa ser reaproveitado, é utilizado.

O que o consumidor pode fazer a respeito

Imagem de Rio Lecatompessy no Unsplash

O relatório também mostrou que os consumidores podem contribuir com a redução da poluição ambiental adotando práticas como aluguel; revenda; reparo e reforma; redução na lavagem e secagem; aumento na reciclagem e coleta.

Similarmente, evitar a fast fashion e o consumo desenfreado também pode ser uma das contribuições do consumidor contra os impactos da indústria da moda. Quer saber mais sobre como evitar a fast fashion e adotar um modo de consumo mais sustentável? Confira a nossa matéria sobre o assunto e veja o que você pode fazer para contribuir com o caso: 

Cinco dicas de como evitar fast fashion

Aprender como evitar fast fashion pode ser benéfico não apenas para o seu bolso, mas também para o meio ambiente.

Equipe eCycle

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