Gel com minhocas vivas substitui agrotóxicos na proteção de cultivos

Uma equipe de cientistas da Universidade de Neuchâtel, na Suíça, desenvolveu um gel com minhocas minúsculas para ser usado como uma solução para proteger as plantações contra insetos indesejados, sem a necessidade de utilizar pesticidas prejudiciais ao meio ambiente.

Essas minhocas que habitam os primeiros centímetros de solo, também conhecidas como nematoides, possuem um tamanho que raramente ultrapassa os 2,5 mm de comprimento. Embora algumas se alimentem das raízes das plantas, outras apresentam efeitos benéficos. Entre estas últimas estão os nematoides entomopatogênicos (NEPs), que depositam seus ovos nos corpos dos insetos, liberando uma toxina fatal que rapidamente os extermina. Em certos casos, esses insetos ameaçam os cultivos de alimentos. Diante disso, os agricultores podem introduzir os NEPs no solo através de formulações líquidas para controlar insetos indesejados sem o uso de pesticidas.

Entretanto, essas minhocas não sobrevivem aos raios ultravioleta, o que inviabiliza sua aplicação nas folhas das plantas, local onde a maioria dos insetos indesejados se alimenta. Um exemplo é a lagarta do funil do milho, que tem causado consideráveis danos às plantações de milho na África e na Ásia.

Para contornar essa limitação, os cientistas desenvolveram o gel protetor de nematoides. Sob a liderança de Patrick Fallet, da Universidade de Neuchâtel, na Suíça, uma equipe de cientistas modificou geneticamente um NEP nativo de Ruanda (Steinernema carpocapsae) para atacar especificamente as lagartas. Em seguida, desenvolveram um hidrogel composto por nematoides vivos suspensos em uma matriz gelatinosa de carboximetilcelulose biodegradável e atóxica.

Em testes de campo realizados em Ruanda, publicados na revista PNAS Nexus, voluntários empregaram pistolas de calafetagem para aplicar o gel no verticilo das plantas de milho a cada duas semanas durante uma estação de cultivo. O verticilo, ponto na planta de onde as folhas se irradiam conforme crescem, foi o alvo estratégico para a aplicação. Parcelas de milho foram submetidas a diferentes tratamentos: gel de nematoides, formulação comercial de nematoides líquidos, pesticida cipermetrina convencional e um grupo controle sem tratamento.

Embora todos os tratamentos tenham apresentado algum efeito sobre as lagartas, o gel se destacou ao reduzir as infestações em cerca de 50% em comparação com os grupos controle. Como resultado, as áreas tratadas com o gel registraram um incremento de uma tonelada adicional de milho por hectare.

Fallet e seus colaboradores afirmam que uma versão comercial do hidrogel tende a ser mais acessível que os pesticidas convencionais, além de não representar riscos para a saúde humana e o meio ambiente.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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