23 expressões racistas para parar de usar

As expressões racistas são ditados ou palavras comuns na linguagem que tem sua origem racistas, e por isso, devem ser eliminadas do vocabulário. No Brasil, o racismo é crime, segundo a Lei Nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, sendo a pena para a infração de dois a cinco anos de reclusão.

Na maioria das vezes, o intuito das expressões racistas é de atacar ou diminuir a existência de pessoas negras, pardas, indígenas e asiáticas. Entretanto, existem terminologias já enraizadas no dia a dia, e algumas pessoas não percebem que elas possuem cunho racista. Por isso é importante entender quais são essas palavras e frases. Isso contribui para a luta antirracista, e facilita a convivência em sociedade de pessoas não-brancas.

Caso você perceba que alguém está usando palavras e expressões racistas com intuito de lhe discriminar, a melhor opção é fazer uma denúncia — em qualquer delegacia ou em delegacias especializadas em crimes de racismo. 

Discriminação racial: o que é e como se proteger

A situação pode ser considerada injúria racial, um tipo de crime de racismo que consiste em toda ofensa à honra subjetiva e pessoal de outra pessoa por questões de raça. A infração é inafiançável e imprescritível, e o acusado não tem direito de liberdade condicional até o dia do julgamento.

A seguir, confira expressões racistas que você precisa eliminar do seu vocabulário.

A guerra contra o racismo estrutural na ciência

23 expressões racistas que você precisa parar de usar

“Boçal”

O termo “boçal” é comumente utilizado para se referir a pessoas sem educação, grosseiras, rudes e sem cultura. Porém, durante o período da escravatura, a palavra era usada para designar pessoas escravizadas que não sabiam falar português. Sendo assim, ele surge de uma origem preconceituosa e racista, e pode ser facilmente substituído pelas palavras “ignorante” ou “grosseiro”. 

“Da cor do pecado”

A frase é usada como “elogio” por pessoas brancas para pessoas negras, porém ela tem uma conotação negativa e preconceituosa. Isso porque se baseia na hiperssexualização de corpos negros, que tem suas raízes no período colonial — quando as mulheres escravizadas eram violentadas pelos “senhores” de engenho. 

“Chuta que é macumba”

O nome “macumba” faz referência a um instrumento antigo da cultura africana. No entanto, ele é erroneamente usado para se referir a religiões de matriz africana, como o candomblé e a umbanda. Dizer para alguém “chuta que é macumba” é uma forma de afirmar que você quer manter algo “ruim” longe — essa relação é feita devido a imagem negativa que algumas pessoas têm dessas religiões.

Além de ser uma expressão racista, a frase pode ser encaixada como um ato de intolerância religiosa, que também é considerado crime no Brasil (Decreto-Lei 2.848/1940).

“Índio”

A terminologia correta para povos originários é “indígena”. A palavra “índio” surgiu durante a colonização e tinha suas raízes em uma ideia caricata de “selvageria” relacionada a esses povos, segundo os colonizadores. Além disso, ela faz referência aos povos da Índia, afinal, quando Dom Pedro chegou ao Brasil ele estava à procura do país asiatico.

É preciso reconhecer a pluralidade cultural e religiosa e os costumes dos povos indígenas, e eliminar o uso dessas expressões racistas, que não reconhecem a existência desses indivíduos.

“Japa” e “Xing Ling”

O Brasil tem a maior população japonesa fora do Japão, graças a grande imigração que ocorreu no século XX. Por isso é essencial que as microagressões contra pessoas asiáticas também sejam reconhecidas como expressões racistas que devem ser eliminadas do dia a dia. 

As expressões “japa” e “xing ling” são alguns termos pejorativos usados para se referir a pessoas do leste asiático, que coloca todas essas culturas diversas em uma única caixa de japonês ou chinês, respectivamente. Mesmo que o indivíduo seja descendente de alguma dessas nacionalidades, deve-se evitar apagar seus nomes e individualidades. 

Injúria racial: o que é e como denunciar

“A coisa tá preta”

A promoção da igualdade racial só acontece quando as pessoas entendem que, para serem antirracistas, elas também precisam ter cuidado com suas palavras. O ditado “a coisa tá preta” é a síntese de um conjunto de expressões racistas que associam pessoas negras a coisas ruins.

O sentido da frase é dizer que a situação está difícil ou ruim. Porém, existem formas melhores de fazer essa associação, como falando “a situação é complicada” ou “o caso é complexo”.

“Cabelo ruim, cabelo duro, bombril”

Esse é um conjunto de expressões comumente usadas para se referir a curvatura de cabelos crespos e encaracolados. Não existe cabelo ruim, apenas cabelo. Esse tratamento inferior está ligado à associação desses traços aos cabelos afro. 

“Nasceu com um pé na cozinha/senzala”

É uma recordação do período colonial e da escravatura, onde o único local em que mulheres negras podiam entrar na casa grande era a cozinha, e que elas deviam se manter na senzala. O ideal é simplesmente deixar de usar essa expressão em qualquer sentido. 

“Programa de índio”

A utilização desse termo vem da herança discriminatória dos tempos coloniais contra povos originários. Ele dá a entender que indígenas não eram interessantes, ou eram inferiores, dessa forma o “programa de índio” seria um programa ruim e desinteressante.

“Abre o olho, japonês”

A frase é muito utilizada como uma piada de mau gosto, que se refere ao formato do olho de pessoas asiáticas. Ela pode ser considerada um tipo de racismo recreativo. Ou seja, tem o intuito de ofender “humoristicamente” aqueles que não se encaixam no padrão estético e intelectual da branquitude. 

“Serviço de preto”

Novamente, uma expressão racista que entende que tudo relacionado ao negro é ruim. Ela é usada para se referir a uma atividade mal feita, com objetivo de desqualificar o trabalho de pessoas negras. Você pode substituir a frase por “serviço mal feito”. 

“Samba do crioulo doido”

Foi uma paródia criada pelo escritor e jornalista Sérgio Porto, com o pseudônimo de Stanislaw Ponte Preta, em 1968. Ela ironizava a obrigatoriedade imposta às escolas de samba de retratar apenas contextos históricos em seus enredos. 

A expressão reforça um estereótipo contra pessoas negras e é usada no Brasil em referência a coisas sem sentido. Ela pode ser facilmente substituída por “confusão” ou “bagunça”.

“Nhaca”

Inhaca é uma ilha em Moçambique, na África, e o termo “nhaca” surgiu durante a colonização com intuito de dizer que os escravizados tinham um “cheiro forte”, reforçando estereótipos e preconceitos. Você pode usar “mau cheiro” ou “cheiro ruim” no lugar.

“Todo o asiático é igual”

Fazer essa afirmação impulsiona a inviabilização da identidade e individualidade asiática. Além disso, a frase dá a entender que só existe uma etnia na Ásia, comumente as do leste, ignorando a existência do norte, sul e do oriente médio. 

“Mulata/o”

Em espanhol a palavra “mulata” significa o filho do cruzamento entre uma jumenta e um cavalo. Desta forma, o termo é usado para trazer uma carga pejorativa a pessoas negras ou pardas. 

Outra forma que esse termo é empregado é “mulata tipo exportação”, ou seja, a mulher negra vista como uma mercadoria e hiperssexualizada. 

“Moreno/a”

O movimento negro reforça constantemente que o uso da palavra “morena/o” não reconhece a beleza desses individuos, e tem como intuito reduzir sua ancestralidade e traços. Ele é comumente usado para “amenizar” o clima quando é preciso identificar alguém como negro, pois muitas pessoas ainda acham que a palavra é algo negativo.

“Meia tigela”

Na epoca da escravatura os negros faziam trabalho forçado por horas a fio, e nem sempre conseguiam alcançar suas metas devido ao cansaço e suas situações precárias. Quando não conseguiam atingir seus objetivos, eram penalizados com apenas metade de suas refeições. Ou seja, o termo “meia tigela” surgiu para determinar algo ruim ou medíocre, feito com baixa qualidade. 

Racismo ambiental é uma realidade que atinge populações vulnerabilizadas

“Inveja branca”

O branco é sempre visto como algo positivo em uma sociedade que foi construída na escravidão. Consequentemente, reforça que tudo aquilo que é preto ou negro é ruim ou negativo. 

“Escravo”

Essa pode parecer novidade para você, mas a verdade é que a palavra “escravo” sugere que essa é uma condição inerente à pessoa, e não algo que lhe foi imposto. Afinal, os povos africanos foram sequestrados e torturados durante a escravatura. Também coloca essas pessoas em um estado de desumanização, como se eles não tivessem lutado pela sua liberdade. O melhor termo para se usar é “escravizado”. 

“Tribo”

Serve para descrever povos, que de acordo com a visão contemporânea e ocidental, ficaram no passado. Sendo assim, é usado para se referir aos povos que já foram dizimados, ou são primitivos, pararam no tempo, entendendo as comunidades originárias como selvagens e animais em extinção.  A alternativa para o termo é povos ou nações.

“Pastel de flango”

Essa é uma das expressões racistas utilizadas para debochar do sotaque que imigrantes asiáticos costumam ter, devido a dificuldade de pronunciar o “r”. Além de racista, o termo é xenofóbico e diminui grupos de imigrantes que lutam para se encaixar em uma cultura e língua em que eles não nasceram.

“Não sou tuas negas”

Remete a época da escravidão, onde as mulheres negras eram propriedades sexuais dos senhores. Assim, a frase reforça estereótipos de gênero e raça, colocando a mulher negra como inferior às outras. 

“Uma negra bonita”

Comumente usado para falar que uma pessoa é bonita, essa expressão racista dá a entender que mulheres negras não são bonitas. Logo, o “negra” colocado antes do “bonita” é para dar ênfase em sua aparência física, como se fosse chocante que esses indivíduos pudessem ter alguma beleza. Para elogiar alguém basta dizer “ela é bonita” ou “ele é bonito”. 

Se quiser saber mais expressões racistas, confira a cartilha “Dicionário de expressões (anti) racistas: E como eliminar as microagressões do cotidiano”. 

Ana Nóbrega

Jornalista ambiental, praticante de liberdade alimentar e defensora da parentalidade positiva. Jovem paraense se aventurando na floresta de cimento de São Paulo.

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais