Estudo inédito revela como o mel pode mapear a poluição por metais tóxicos

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De cada colherada de mel, além do sabor doce, pode emergir um retrato da poluição ao redor. Uma pesquisa recente da Universidade Tulane revelou que o mel, produzido por abelhas ao forragearem flores locais, pode ser uma ferramenta poderosa para identificar contaminantes ambientais, como metais tóxicos, em diferentes regiões.

Publicada na Environmental Pollution, a pesquisa analisou 260 amostras de mel de 48 estados norte-americanos, rastreando traços de seis metais pesados: arsênio, chumbo, cádmio, níquel, cromo e cobalto. Apesar das concentrações encontradas estarem dentro dos limites seguros para consumo, com base na ingestão diária de uma colher de sopa, o estudo expôs variações significativas entre as regiões.

Os méis do noroeste do Pacífico apresentaram níveis elevados de arsênio, enquanto o cobalto destacou-se no sudeste, em estados como Louisiana e Mississippi. Já as Carolinas registraram algumas das maiores concentrações de chumbo, levantando preocupações sobre os possíveis impactos das atividades humanas, como mineração, uso histórico de pesticidas e combustão de combustível de aviação.

Segundo os pesquisadores, as abelhas desempenham um papel duplo ao produzir mel e atuar como “amostradoras” ambientais. Durante a coleta de néctar e pólen, elas capturam partículas do solo, água e ar, incorporando no mel traços dos poluentes presentes nos ecossistemas. Essa característica transforma o mel em um indicador sensível da qualidade ambiental de uma região, com potencial para mapear tendências locais de contaminação.

Embora os dados forneçam um panorama inicial, a identificação das fontes exatas de poluição requer investigações mais aprofundadas. Os altos níveis de arsênio em estados como Washington e Oregon, por exemplo, podem estar associados ao uso histórico de pesticidas ou a resíduos industriais. Já o chumbo encontrado na Carolina do Norte pode estar relacionado ao solo contaminado por gasolina e tintas à base de chumbo.

A pesquisa representa a primeira iniciativa em larga escala para rastrear metais tóxicos no mel nos Estados Unidos. Usando apenas méis de origem única e claramente identificada, o estudo reforça a importância de entender como as atividades humanas afetam o ambiente natural e a saúde das comunidades.

Os resultados também abrem caminho para ampliar o uso de produtos das abelhas como indicadores ambientais. Além de oferecer um alimento seguro, o mel pode ajudar a mapear os riscos ecológicos e de saúde pública associados à poluição. As abelhas, ao que tudo indica, têm muito mais a revelar sobre os desafios ambientais do que sua reputação de polinizadoras pode sugerir.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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