Deadbots: IA que fala pelos mortos

Deadbots são chatbots, ou seja, programas de computador que simulam e processam conversas humanas, mas com pessoas que já morreram. A primeira ocorrência dessa tecnologia foi criada por Joshua Barbeau, que utilizou o site Project December para criar um chatbot de sua falecida noiva, Jessica Pereira.

O site do Project December carrega um dos tipos de Inteligência Artificial (IA) mais eficientes do mundo, o software conhecido como GPT-3, que possibilitou com que Barbeau criasse o deadbot de sua noiva. Assim, após pagar a quantia estipulada pelo site, providenciar informações, além de mensagens e outros textos da jovem, o deadbot de Jessica foi criado. 

A inteligência artificial do software permite que o deadbot processe as informações da pessoa, para então recriar diálogos onde simula ser ela. 

Entretanto, as diretrizes da empresa OpenAI, responsável pela criação do GPT-3, ditam que o seu uso para fins amorosos, sexuais, de automutilação e bullying é explicitamente proibido. Desse modo, a versão do Project December do GPT-3 foi tirado do ar. 

O site em questão não foi criado com a intenção de criar apenas deadbots. Ele permitia a criação de chatbots com personagens fictícios e qualquer outra pessoa, uma vez que o usuário pagasse a quantia estabelecida de cinco dólares. 

Desde a criação da deadbot de Jessica, a questão da ética foi erguida dentro do debate dessa IA. 

Inteligência artificial e sustentabilidade

Consentimento e ética

Grande parte do debate da ética entra na questão do consentimento. Muitas pessoas acreditam que o consentimento de Barbeau não foi suficiente na criação de um deadbot de sua falecida noiva. Isso também é relacionado à memória dos mortos, uma questão sensível na sociedade.

Por outro lado, também é erguido a questão dos direitos humanos, principalmente em relação às informações divulgadas com essas IAs dentro da criação de deadbots. Se somos contra o uso antiético de dados feito por empresas tecnológicas de um indivíduo vivo, porque a prática seria ética durante sua morte?

Por outro lado, o consentimento de Jessica na criação de seu deadbot seria suficiente para acabar com essas questões éticas? Ainda assim, parte das pessoas acreditam que não, uma vez que o ato de consentimento dentro de atos potencialmente prejudiciais é visto como “anti-ético”. Mesmo que os mortos não possam ser prejudicados ou ofendidos da mesma forma que os vivos, não significa que eles não sejam vulneráveis a ações ruins.

O que é o direito ao esquecimento?

Responsabilidade

Por fim, dentro do debate ético, entra a questão da responsabilidade. Em uma situação em que os deadbots, com toda a sua informação sobre vivos e mortos, possam afetar negativamente a vida de uma pessoa, como o próprio Barbeau, de quem seria essa responsabilidade? Dele mesmo, dos criadores da AI ou dos criadores do site que possibilitaram a criação do deadbot

Esse é um dos grandes debates dentro da Inteligência Artificial em geral. Muitas pessoas são contra o acesso às informações humanas dentro da IA. Características e habilidades humanas diferenciam a espécie de outros seres vivos e máquinas. Desse modo, parte da população é contra a criação de dispositivos capazes de simular a vida (ou morte) humana. 

É claro que entre todos os debates, o que responde todas as questões é a opinião própria. E você? Acredita que a transferência de dados de uma pessoa morta para a criação de deadbots seja antiética, ou acredita que é uma forma de nos sentirmos mais próximos de entes queridos que não estão mais conosco?

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

Utilizamos cookies para oferecer uma melhor experiência de navegação. Ao navegar pelo site você concorda com o uso dos mesmos.

Saiba mais