Darkening: a importância da escuridão noturna para a biodiversidade urbana

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A escuridão natural é tão vital para os ecossistemas quanto a presença de áreas verdes. Durante bilhões de anos, a vida na Terra evoluiu sob o ritmo constante de dias iluminados e noites escuras, um ciclo essencial regulado pelos relógios biológicos presentes em todas as espécies. No entanto, a iluminação artificial noturna, cada vez mais intensa nas cidades, está alterando esse equilíbrio, com impactos profundos na biodiversidade e no bem-estar humano.  

Dados atualizados mostram que 83% da população global vive sob céus poluídos por luz artificial, número que chega a 99% em regiões como Europa e América do Norte. Esse excesso de claridade afeta desde insetos, que perdem a capacidade de navegação e se tornam presas mais fáceis, até aves migratórias, cuja orientação magnética é perturbada. Em humanos, a desregulação do ciclo circadiano está associada a problemas de saúde, incluindo distúrbios do sono.  

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Algumas cidades já adotam medidas inovadoras para conciliar iluminação urbana e preservação da vida noturna. Em Heidelberg, na Alemanha, sensores de infravermelho mantêm luzes de um ciclovia apagadas quando não há movimento. Já em Lille, na França, o Parc de la Citadelle utiliza iluminação adaptativa que só se intensifica com a presença de pessoas, além de ajustar seu brilho conforme as estações do ano, imitando padrões naturais.  

Experiências com luzes menos invasivas também ganham espaço. Em Zuidhoek-Nieuwkoop, na Holanda, postes emitem luz vermelha, inofensiva para morcegos, que dependem da escuridão para se orientar. Alternativas como a bioluminescência, ainda em fase experimental, podem revolucionar a iluminação pública. Na cidade francesa de Rambouillet, bactérias marinhas em tubos produzem luz sem eletricidade, sem perturbar a fauna local.  

A iluminação urbana deve ser repensada não apenas como uma questão de segurança, mas como um elemento que define a relação entre humanos e natureza. Reduzir a poluição luminosa não significa mergulhar as cidades na escuridão total, mas adotar tecnologias e planejamento que respeitem os ritmos naturais. Ao equilibrar luz e sombra, é possível criar ambientes noturnos mais saudáveis para todas as formas de vida.

Júlia Assef

Jornalista formada pela PUC-SP, vegetariana e fã do Elton John. Curiosa do mundo da moda e do meio ambiente.

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