Volumes surpreendentemente baixos de plásticos são capazes de matar aves, tartarugas e mamíferos, revela estudo

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Um estudo abrangente analisou mais de dez mil necrópsias de animais marinhos e estabeleceu parâmetros precisos sobre a quantidade de plástico necessária para causar a morte em diversas espécies. Publicado nos Anais da Academia Nacional de Ciências, a pesquisa liderada pela Ocean Conservancy demonstra que volumes considerados insignificantes representam uma ameaça mortal para a fauna oceânica.

A investigação científica examinou 10.412 necrópsias realizadas globalmente, abrangendo 1.537 aves marinhas de 57 espécies, 1.306 tartarugas marinhas das sete espécies existentes e 7.569 mamíferos marinhos de 31 espécies diferentes. A análise estabeleceu relações diretas entre a presença de plástico no sistema digestivo e a probabilidade de óbito, considerando tanto a quantidade de fragmentos quanto o volume total ingerido.

Os resultados revelam uma vulnerabilidade particularmente alarmante nas aves marinhas. Para um papagaio-do-mar, que mede aproximadamente 28 centímetros, a ingestão de plástico equivalente a menos de três cubos de açúcar apresenta 90% de probabilidade de levar à morte. A borracha sintética mostra-se especialmente letal para essas aves: apenas seis fragmentos do tamanho de uma ervilha atingem esse mesmo limiar de mortalidade.

Entre as tartarugas marinhas, os plásticos flexíveis como sacolas demonstraram alto poder letal. Para uma tartaruga-cabeçuda de 90 centímetros, 342 pedaços de plástico do tamanho de uma ervilha seriam suficientes para causar a morte em 90% dos casos. A análise mostrou que 69% das tartarugas que ingeriram plástico consumiram materiais flexíveis, enquanto 58% haviam ingerido detritos de pesca.

Os mamíferos marinhos apresentam vulnerabilidade específica aos equipamentos de pesca abandonados. A pesquisa identificou que 72% dos mamíferos que ingeriram plástico consumiram detritos de pesca. Para uma toninha-comum de 1,5 metros, o volume equivalente a uma bola de futebol representa 90% de probabilidade de morte. No caso de cachalotes, apenas 28 pedaços de equipamentos de pesca, cada um menor que uma bola de tênis, atingem o mesmo patamar de risco.

A dimensão do problema amplia-se quando consideradas as espécies ameaçadas. Quase metade dos animais que ingeriram plástico encontram-se classificados na lista vermelha da IUCN como espécies vulneráveis, em perigo ou criticamente ameaçadas. O estudo concentrou-se exclusivamente nos impactos letais da ingestão de macroplásticos, excluindo outros fatores como emaranhamento, efeitos subletais na saúde animal e consumo de microplásticos.

Os pesquisadores modelaram também o limiar de 50% de mortalidade, onde os volumes se mostram ainda mais preocupantes. Para aves marinhas como o papagaio-do-mar, menos do que o equivalente a um cubo de açúcar de plástico mata uma em cada duas aves. Entre tartarugas-cabeçudas, menos da metade do volume de uma bola de beisebol apresenta a mesma taxa de mortalidade. Para as toninhas-comuns, menos de um sexto de uma bola de futebol é suficiente para eliminar metade da população.

A poluição plástica nos oceanos alcança níveis críticos, com estimativas indicando que mais de 11 milhões de toneladas de plástico ingressam nos ecossistemas marinhos anualmente. Esforços de limpeza coordenados, como os realizados pela Ocean Conservancy, já removeram mais de 180 milhões de quilos de lixo de praias e rios em todo o mundo através do trabalho de 19 milhões de voluntários desde 1986.

Os dados da pesquisa fornecem bases científicas sólidas para a implementação de políticas públicas eficazes contra a poluição plástica. Especialistas defendem uma abordagem multifacetada que inclua a redução na produção de plásticos, melhoria nos sistemas de coleta e reciclagem, e limpeza ativa do que já contaminou o ambiente marinho. A compreensão desses limites de risco permite que tomadores de decisão desenvolvam estratégias mais precisas para proteger a biodiversidade oceânica.

Stella Legnaioli

Jornalista, gestora ambiental, ecofeminista, vegana e livre de glúten. Aceito convites para morar em uma ecovila :)

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